Programa Águas de Pernambuco investe R$ 6,1 bilhões para diminuir racionamento e acelerar obras no Estado

Do total de R$ 6,1 bilhões; R$ 3,9 bilhões serão destinados à água e R$ 2,2 bilhões a esgoto. A iniciativa prevê a realização de 1.0407 obras e ações

Publicado em 16/10/2024 às 18:15

Em Manari, no Sertão de Pernambuco, a população do pequeno município convive com um racionamento de 28 dias sem água e apenas 2 com abastecimento. Diante das torneiras vazias, famílias enfrentam uma rotina de carregar baldes e garrafões, peregrinando em busca de água.

Assim como os moradores da cidade sertaneja de Manari, metade dos pernambucanos vive o drama dos rodízios. Diminuir o intervalo do abastecimento é um dos quatro eixos do programa Águas de Pernambuco, apresentado oficialmente pela governadora Raquel Lyra nesta quarta-feira (16), durante evento no Centro Cultural Cais do Sertão, no Bairro do Recife.

Miva Filho/Divulgação
A pedido do Governo de Pernambuco, Adutora do Agreste terá R$ 2 bilhões para a segunda fase garantidos pelo presidente Lula - Miva Filho/Divulgação

A importância do anúncio pôde ser medida pela quantidade de prefeitos presentes: foram 19 de todas as regiões do Estado; além de empresários, parlamentares e secretários de governo. A governadora prefere falar em institucionalização do programa, ao invés de lançamento. Isso porque a iniciativa vem sendo pensada desde o início do governo, mas só agora foi possível apresentar oficialmente, em função da viabilização dos recursos de R$ 6,1 bilhões. 

"Estamos trabalhando há bastante tempo, mas a governadora só quis anunciar quando os recursos estivessem disponíveis para tocar os projetos. Isso vai garantir que as obras terão princípio, meio e fim", destaca o secretário de Recursos Hídricos e Saneamento de Pernambuco, Almir Cirilo. 

O Águas de Pernambuco está distribuído em quatro eixos: Segurança Hídrica; Abastecimento de Água; Coleta e Tratamento de Esgoto; e Saneamento Rural. Do total de R$ 6,1 bilhõesR$ 3,9 bilhões serão destinados à água e R$ 2,2 bilhões a esgoto. A iniciativa prevê a realização de 1.0407 obras e ações, que incluem execução e conclusão de obras, construção de novas barragens, reestruturação de unidades, substituição de equipamentos e implantação de novas tecnologias.  

INVESTIMENTO POR REGIÃO 

Os investimentos também vão pivilegiar localidades com maior número de famílias para garantir maior  efetividade. Na distribuição por região do Estado, o Sertão vai receber R$ 1,2 bilhão;  o Agreste R$ 2 bilhões; as zonas da mata R$ 600 milhões e a Região Metropolitana R$ 2,3 bilhões. Os recursos virão de fontes como a União (R$ 1,9 bilhão), o Governo do Estado (R$ 1,3 bilhão, por meio de operação de crédito); Compesa (R$ 1,4 bilhão, também por operação de crédito) e de Parceria Público Privada (R$ 1,5 bilhão). 

No seu discusrso, Raquel Lyra disse que, se o povo pernambucano teve a ousadia de eleger duas mulheres, é porque clamava por mudança. "A água será o eixo-central do nosso governo. Vamos entregar água e saneamento e buscar cumprir o Marco Legal (do Saneamento, que prevê 99% de acesso a água e 90% de acesso a esgoto para a população até 2033)", diz. Estudo do BNDES aponta que Pernambuco precisa de R$ 30 bilhões para tornar a universalização de água e esgoto uma realidade. Os R$ 6,1 bilhões são um começo, restando R$ 24 bilhões para captar. 

Com 1,8 milhões de pessoas sem acesso a água potável em Pernambuco, a governadora diz que quer ver essa água chegar no chuveiro. "A pessoas pessoas precisam tomar banho de pé, no chuveito, porque hoje é grande a quantidade de gente que não tem chuveiro. A água é fundamental. Ela significa cidadania, dignidade e esperança", afirma. 

Adriana Guarda/JC Imagem
Edmilson Rosa contou que antes não tinha água potável em Carnaubeira da Penha, no Sertão pernambucano - Adriana Guarda/JC Imagem

O agricultor Edmilson Rosa, de 52 anos, mora em Carnaubeira da Penha, no Sertão de Itaparica, e destacou a importância dos investimentos feitos pelo Governo do Estado. “Recentemente fomos beneficiados com a chegada das águas do Rio São Francisco. Um sonho de anos que se tornou realidade em nosso município. Anteriormente, a população consumia água contaminada e hoje, graças à governadora, essas ações chegam na nossa cidade. Vemos o governo presente no município, tanto com a chegada da água do São Francisco quanto com a água nas torneiras e a instalação de dessalinizadores”, conta.

2º PIOR RACIONAMENTO DO BRASIL 

Raquel também lembrou que Pernambuco tem o segundo pior racionamenro de água do Brasil, atrás apenas do Acre. Quando se fala em déficit hídrico, o Estado está em primeiro lugar, com um volume pequeno de água disponível por pessoa.

Essa situação de atraso tem explicações naturais, mas também de má gestão dos recursos hídricos ao longo da históri do Estado. A questão geológica e geográfica influenciam, dificultando a chegada da água em algumas áreas e a escassez de chuvas em várias regiões compromete o abastecimento, mas a falta de gestão trouxe problemas como o sucateamento da infraestrutura hídrica existente e do abandono de obras sem conclusão. 

O presidente da Compesa, Alex Campos, deparou-se com essa realidade, quando aceitou o convite da governadora para sair de Brasília e vir para Pernambuco assumir uma companhia endividada, com alto nível de perdas, com dificuldade de realizar investimentos, bombas com tempo de uso vencido e adutoras explodindo porque não têm mais condição de suportar determinado volume de água. 

"A falta de água é uma realidade dura que castiga milhões de pernambucanos. E isso não pode ser normalizado, naturalizado. Isso é uma calamidade. Cerca de 1,8 milhão de pessoas não têm acesso à água potável. Já 70% da população mora em regiões sem coleta nem tratamento de esgoto. Mais da metade da população vive em sistema de rodízio. Em São Bento do Una, município economicamente importante, por exemplo, são 3/4 dias com água para 25/26 sem. Esse é um drama de todos os municípios e está associado ao subfinanciamento crônico que o saneamento enfrenta no Estado", observa.  

Miva Filho/Divulgação
Prefeitos de 19 municípios acompanharam o lançamento do Águas de Pernambuco - Miva Filho/Divulgação

GOVERNOS NÃO PRIORIZARAM  

Raquel Lyra ressaltou que a falta de priorização de investimentos para água e esgoto fez a situação do Estado se agravar nos últimos anos. "Os repasses de recursos para a Adutora do Agreste eram poucos. Do jeito que vinha, a obra ia se arrastar por muitos anos. Quando recebemos o Estado, o governo anterior não fazia as contrapartidas para a PPP do Saneamento, que foi a primeira do Brasil, ainda no governo Eduardo Campos. Dessa forma, a empresa (BRK) não conseguia alavancar os investimentos", revela.

Durante o evento, a governadora assinou contratos, menorando e ordens de serviço para 11 projetos. Um deles foi a repactuação da parceria público-privada entre a Compesa e a BRK Ambiental para ampliação da cobertura de esgotamento sanitário na Região Metropolitana do Recife e Goiana. 

As quatro barragens de contenção de enchentes da Mata Sul também estavam paralisadas há uma década. Na região, o sentimento da população era de desesperança de que um dia elas voltassem a se tornar realidade.

O secretário Almir Cirilo explica que no início deste ano foi dada a ordem de serviço para a conclusão da barragem Panelas II, localizada no município de Cupira. A obra conta com recursos do Novo PAC, por meio do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR), e do Estado, somando cerca de R$ 77 milhões, com previsão de entrega da obra em 2025, antes do próximo período chuvoso. 

Durante o evento, a governadora contou que nos constantes encontros que vem tendo com o presidente Lula em Brasília, ele pediu que apontasse três projetos prioritários para receber recursos federais. Ela conseguiu garantir R$ 2 bilhões para a 2ª fase da Adutora do Agreste, que vai levar água para 68 municípios no total.

Com todas essas entregas previstas, o Águas de Pernambuco tem potencial para se tornar um marco na história do acesso à água e esgoto no Estado. As ações podem tirar milhares de famílias de um Pernambuco inominável, excludente, atrasado, que em nada combina com um Estado que quer retomar sua liderança no Nordeste.   

Miva Filho/Divulgação
Governadora Raquel Lyra apresenta o programa Águas de Pernambuco em evento no Cais do Sertão, no Bairro de Recife - Miva Filho/Divulgação

Acompanhe algumas ações que serão desenvolvidas pelo Águas de Pernambuco:

  • Execução das obras de Barragem Gatos;
  • Construção das barragens Correntes, Canhotinho e Ipanema II, nos municípios de Águas Belas e Itaíba;
  • Conclusão das obras das adutoras do Agreste, do Alto Capibaribe e de Serro Azul;
  • Execução do sistema adutor de Negreiros para região do Araripe;
  • Conclusão do programa de perfuração de poços da Região Metropolitana do Recife;
  • Construção da Barragem Engenho Pereira e implantação do Novo Sistema Produtor de Moreno e Jaboatão dos Guararapes;
  • Atualização do projeto da Barragem Barra de Guabiraba;
  • Ampliação e adequação dos sistemas de abastecimento de água de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama;
  • Repactuação da parceria público-privada existente para ampliação da cobertura de esgotamento sanitário na Região Metropolitana do Recife e em Goiana, contrato entre a Compesa e a BRK Ambiental;
  • Expansão dos sistemas de abastecimento de água simplificados e a implantação de quatro novos Sistemas Integrados de Saneamento Rural (SISAR), contemplando as regiões do Sertão do São Francisco, Sertão Central, do Araripe, Agreste e Matas;
  • Ampliação dos Sistemas de Esgotamento Sanitário, em Bezerros. 

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