Armando Monteiro avalia que política comercial protecionista ampliada por Trump nos EUA 'veio para ficar'
Em entrevista à Rádio Jornal, ex-senador também analisou os gastos públicos do Brasil no terceiro mandato de Lula à frente da presidência da República
O ex-senador da República e conselheiro da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, participou do programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, nesta segunda-feira (3), e afirmou que o governo de Joe Biden não fez alterçaões na política econômica protecionista implantada pelo ex-presidente Donald Trum.
A declaração foi dada durante debate sobre investigações abertas em território norte-americano a respeito de itens brasileiros que concorrem com produtos fabricados pela indústria local.
"Os Estados Unidos, em que pese estar fundado numa concepção de capitalismo liberal, numa economia de mercado em tese aberta, vem se notabilizando por uma escalada de medidas protecionistas que foram ampliadas extraordinariamente no início do governo Trump, em 2017, 2018. Para você ter uma ideia, tem 500 medidas antidumping que estão vigorando hoje nos Estados Unidos, além de outras tantas de direito compensatório. Efetivamente há uma ação sentido de proteção da indústria local e evidentemente ferindo regras do comércio internacional, cujo guardião são as regras da Organização Mundial do Comércio", afirmou Armando.
O ex-senador apontou que grandes partes das medidas antidumping dos Estados Unidos em relação ao Brasil têm relação com o setor siderúrgico. Ele citou como exemplo investigações sobre produtos como cápsulas digestíveis de gelatina e aço resistente à corrosão.
Armando lembrou que essa investigação também tem como alvo a Índia e o Vietnã, além do brasil. Na visão dele, essa é uma tendência que deverá permanecer fixa na política econômica norte-americana.
"É algo que corresponde hoje à postura do governo americano, e o curioso é que, quando isso escalou no governo Trump, imaginava-se que no governo Biden algumas medidas fossem relaxadas, o que não ocorreu. Essa parece ser uma tendência que parece que veio para ficar na política comercial americana", analisou.
"Além da questão comercial propriamente, existem tensões geopolíticas que vem se acentuando, e isso afeta o relacionamento. Com essas medidas que foram impostas de elevação de tarifas contra a China, no que diz respeito a placas solares, semicondutores, veículos elétricos, esse processo que tem como alvo a China. A consequência disso é que a China termina reorientando as suas exportações para outros mercados e um dos prejuízos que vêm sendo impostos ao Brasil por conta desse movimento é na América do Sul. O brasil vem perdendo mercado aqui na América do sul para a China", avaliou Armando.
"Por outro lado, o Brasil tem tido bom desempenho nas importações para os Estados Unidos, inclusive é um comércio de melhor qualidade, porque o Brasil importa manufaturados para os Estados Unidos, bens de capital, máquinas e equipamentos, componentes intermediários. E nós temos trunfos com esse processo da transição energética, que vai oferecendo ao Brasil nesse projeto de descarbonização da indústria", apontou.
Gastos no governo Lula
Questionado se conseguia enxergar uma condição para o governo federal cortar os gastos públicos, o ex-senador analisou que o Congresso Nacional tem participação na alta de custos, e se eximiria da responsabilidade da gestão fiscal.
"Estamos vivendo uma parlamentarização do orçamento sem que o Congresso assuma responsabilidade em relação à gestão fiscal. O que se assiste é que o Congresso tem criado despesas a cada dia. Portanto, ou se promove uma pactuação grande também envolvendo o Congresso Nacional, ou vamos caminhar para uma situação de crescente desequilíbrio", declarou.
"É preciso trazer o Congresso Nacional para que se possa pactuar essas medidas, do contrário vamos seguir para um quadro de incerteza fiscal, um risco muito presentes de que isso nos conduza a um desequilíbrio grave, a necessidade de aumentar continuamente a taxa de juros, aí entramos numa espiral complicado. Portanto, é chegada a hora de o governo propor ajustes mais estrutural e trazendo o congresso para que se possa pactuar essas medidas, porque o Brasil também tem um problema no sistema político", analisou.
"Se continuar desse jeito, logo, logo vamos bater 90% de dívida em relação ao PIB. Então é hora de adotar medidas corajosas. É claro que todas essas medidas estruturais têm um custo político alto. É preciso saber se o Congresso Nacional e o Executivo estão dispostos a encarar essas medidas. Mas considero que estamos numa situação limite", completou Armando Monteiro.