Copom leva Selic a 12,25% e indica mais dois aumentos de 1 ponto

Desde a reunião de novembro, todas as variáveis usadas pelo BC para conduzir os juros pioraram. A disparada do dólar é vista como o principal retrato

Publicado em 11/12/2024 às 21:28
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Em sua última reunião de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central apertou o passo e anunciou alta de 1 ponto porcentual para a Selic, que pulou de 11,25% para 12,25% ao ano. A decisão foi unânime. Em comunicado, o colegiado já antecipou a previsão de mais dois aumentos "de mesma magnitude" nas reuniões de janeiro e de março de 2025 - o que levaria a taxa básica de juros para 14,25%, superando a máxima observada no governo Jair Bolsonaro (13,75%).

"Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas reuniões", diz o texto.

O comunicado voltou a citar a existência de um ambiente externo "desafiador" - principalmente por conta da incerteza sobre o rumo dos juros nos EUA. Em relação ao cenário doméstico, repetiu que existe "uma assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação" (ou seja, os riscos de elevação de preços são maiores). O tom mais crítico foi reservado para avaliar o pacote fiscal apresentado pelo governo - considerado aquém do necessário no mercado e que tem enfrentado dificuldades para avançar no Congresso.

"A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa "

Desde a reunião de novembro, todas as variáveis usadas pelo BC para conduzir os juros pioraram. A disparada do dólar para o patamar de R$ 6 é vista como o principal retrato dessa deterioração de cenário. Já as previsões para a inflação neste ano e em 2025 ficaram ainda mais distantes das metas oficiais.

A reação inicial dos analistas foi positiva. Para o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, por exemplo, foi a confirmação do compromisso do BC com a meta de inflação. Questionado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que "foi (surpresa) por um lado, mas por outro tinha uma precificação nesse sentido".

Foi a última reunião presidida por Roberto Campos Neto. A partir de janeiro, o BC será comandado pelo atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo. Indicado por Bolsonaro, Campos Neto foi alvo constante de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por conta da Selic em patamares elevados.

Com a entrada de três novos diretores - Nilton David (Política Monetária, no lugar de Galípolo), Gilneu Vivan (Regulação) e Izabela Correa (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta) -, o Copom passará a ter maioria de indicados por Lula: sete dos nove integrantes.

IMPACTO ECONÔMICO

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concordou nesta quarta-feira, que a decisão do Banco Central de aumentar a taxa Selic em um ponto porcentual, para 12,25% ao ano, foi uma surpresa, mas apenas "por um lado", segundo ele, uma vez que já havia precificação no sentido de um aperto monetário maior.

"Foi surpresa por um lado, mas por outro tinha uma precificação nesse sentido. Vou olhar com calma, vou analisar o comunicado, vou falar com algumas pessoas, depois do período de silêncio", respondeu Haddad a jornalistas ao deixar o prédio da Fazenda na noite desta quarta.

A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) afirmou que a decisão do Copom intensifica os desafios enfrentados pela economia brasileira. Por outro lado, a associação concordou que a medida foi necessária para reduzir a pressão inflacionária e a alta do dólar.

"Os juros elevados restringem o acesso ao crédito, dificultam investimentos e ampliam as despesas financeiras de famílias e empresas, com efeitos profundos em diversos setores produtivos do país, comprometendo sua sobrevivência", descreveu a Abrainc, em nota distribuída à imprensa. A instituição citou que os pedidos de recuperação judicial chegaram a 1,7 mil até setembro, um aumento de 73% em relação ao mesmo período do ano anterior, conforme dados da Serasa Experian.

A Abrainc observou que, nos últimos 12 meses, o pagamento dos juros da dívida pública foi de R$ 870 bilhões. O aumento de cada ponto porcentual da Selic eleva essa quantia em cerca de R$ 48 bilhões, de acordo com estudo do Banco Central.

Com isso, o cenário atual exige ações concretas para aliviar os custos estruturais da economia, afirmou a associação. "É urgente que o governo realize cortes nos gastos públicos para estabelecer um equilíbrio fiscal de longo prazo, condição imprescindível para reduzir os juros de forma sustentável", acrescentou.

Para a CNI, manter o ciclo de alta da Selic iniciado em setembro já configuraria um erro do Banco Central. Intensificar esse ritmo, como a autoridade monetária escolheu, portanto, não faz sentido no atual contexto econômico, marcado pela desaceleração da inflação em novembro e pelo pacote efetivo de corte de gastos apresentado pelo governo federal.

"Além disso, a decisão do Banco Central ignora a desaceleração da atividade econômica, já observada no PIB do terceiro trimestre, e a tendência de redução de juros nas principais economias globais, como os Estados Unidos, que partem para o terceiro corte seguido nos juros na próxima semana".

 Segundo a CNI, intensificar a alta da Selic, diante desse cenário, custa caro para a economia e para a população, pois significa menos investimentos e, consequentemente, menos emprego e renda.

Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg, fez uma análise sobre a decisão. "O Banco Central decidiu elevar a taxa Selic em 100bps para 12,25% a.a. Apesar da decisão ser mais intensa que o projetado por boa parte dos economistas, a ação de elevar a taxa básica para este nível não chega a ser uma surpresa. A deterioração das expectativas de inflação, a depreciação recente da taxa de câmbio e a desancoragem das expectativas de médio prazo justificavam uma postura mais agressiva. A maior surpresa, entretanto, ficou por conta da indicação futura dos próximos passos de política monetária", disse.

"Com base nessa comunicação e no nosso cenário econômico, projetamos mais dois aumentos de 100bps e um ajuste residual de 50bps, o que levaria a taxa básica para 14,75% a.a. Acreditamos que a ação mais agressiva de política monetária deverá ter efeitos positivos sobre a dinâmica de expectativas de inflação, evitando que elas continuem piorando de maneira tão intensa como vínhamos observando recentemente. Adicionalmente, a decisão deve contribuir para que o Real se valorize contra o dólar no curto prazo".

 

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