Memórias afetivas fazem parte da construção de qualquer pessoa, independente de qual seja referencial. Para um número de pernambucanos, a lembrança daquele Brasil 6x0 Bolívia, em agosto de 1993, é um dos grandes momentos da seleção em solo pernambucano. Este ano, a Canarinho começa mais uma corrida por uma vaga na Copa do Mundo Catar-2022. O primeiro passo será no Recife (ou melhor, em São Lourenço da Mata, na Arena de Pernambuco), onde se recuperou na classificação para o tetra, que viria em 1994. No dia 27 deste mês, o adversário é o mesmo de quase três décadas atrás. Tite já era técnico de futebol na época, mas muito menos badalado que agora. Assim, o gaúcho de Caxias do Sul vai construir uma nova memória afetiva com o Recife.
Se Tite não pode falar daquela passagem da seleção pela capital pernambucana, ele tem recordações de enfrentamentos com Náutico, Sport e Santa Cruz na carreira. Essa é a atmosfera que ele pretende reencontrar. “A minha memória afetiva é muito mais de sentir a força do torcedor contra mim nesses exemplos. Senti o peso do outro lado quando vim aqui. E eu queria ter a meu favor. É legal ter a meu favor agora”, disse o técnico.
Para citar a energia forte que sente do torcedor com a seleção em solo recifense, Tite cita quando o estádio do Arruda “tremeu”, na época em que era volante da Portuguesa, nos anos 1980. Aflitos e Ilha do Retiro, este último onde a seleção vai realizar dois treinos, também fazem parte do repertório de Adenor Bachi como atleta.
“Eu senti particularmente jogando no Arruda contra o Santa Cruz, na época da Portuguesa, que ele tremia. Literalmente tremia com o apoio da torcida. Enfrentei quantas e quantas vezes o Náutico nos Aflitos. Jogar contra o Sport, o quanto a mobilização do torcedor é difícil, porque cria uma atmosfera que tu tens que jogar. Os clubes vinham enfrentar, quando eu era atleta tinha que estar com um nível de concentração muito alto, porque, se não, o torcedor interfere e te mobiliza mais. Essa mesma mobilização, tu te referiste a 1993, é a expectativa que a gente tem”, emendou o técnico.
E, por estar na cidade ontem, ele aproveitou ainda para cumprimentar o amigo e compadre Gilmar Dal Pozzo, técnico do Náutico, estendendo também aos comandantes dos rivais. “Aliás, parabéns para Gilmar (Dal Pozzo), pelo grande trabalho. Itamar (Schulle) agora fazendo um grande trabalho no Santa. Daniel (Paulista) da mesma forma no Sport. A gente estudou junto agora no final do ano. Gilmar tenho gratidão muito grande. Por causa dele, um pouco, eu estou aqui”, declarou Tite.
Esse carinho e energia que Tite busca para acrescentar em suas memórias pessoais é bem diferente do que já sentiu em passagens com a seleção, nesses quase quatro anos, por outras capitais do país. Para contemplar torcedores de norte a sul, leste e oeste, a CBF buscou manter uma equidade entre os estádios que vão receber as disputas das Eliminatórias Sul-Americanas.
“Independentemente de um lado ser um pouquinho mais torcedor, o outro mais crítico. É inevitável, sem hipocrisia. Aqui a gente tem um carinho. Diferentemente, por exemplo, eu vou falar da minha terra, do Rio Grande do Sul. Lá já é mais reticente. Porque não sei. Mas é o que eu sinto. São características. Todos querem o bem, cada um se manifestando de uma forma”, refletiu.
Enquanto não entra em campo na presença da torcida, o técnico pelo menos já reúne as lembranças do gramado da Arena de Pernambuco. O campo do equipamento recebeu bastantes elogios do treinador, direcionados também aos funcionários que acompanharam sua visita ontem. Resta agora acrescentar os torcedores para que Tite, enfim, sinta a energia que tanto busca junto com a seleção brasileira.