João Prata
O grupo Esporte pela Democracia lançou há duas semanas um manifesto em defesa dos direitos humanos, das instituições democráticas, do meio ambiente e da liberdade de imprensa. Atletas, ex-atletas, jornalistas e artistas aderiram ao movimento que já reúne pouco mais de duas mil assinaturas.
A iniciativa de mobilizar o mundo esportivo partiu do ex-jogador de futebol e comentarista Casagrande. "Pensei na formação dele ao ver as manifestações pelo assassinato do George Floyd. Aquilo mexeu comigo. Eu não poderia ficar sentado vendo de camarote", disse ao Estadão.
A ideia começou com os amigos mais próximos e rapidamente foi se espalhando. "Liguei para a Isabel, como sempre faço quando penso em formar algum movimento como este. Ela topou na hora e já falou com Ana Moser, Fabi e Joanna Maranhão. Eu comentei com o Raí e assim foi", conta Casagrande.
A partir daí, o grupo ganhou um texto claro e conciso sobre as pretensões, tomou as redes sociais e passou a receber assinaturas de profissionais de diferentes áreas: músicos, cineastas, escritores e jornalistas também fazem parte.
A escalação desse grupo é eclética. Caetano Veloso, Chico Buarque e Chico César estão juntos de Marcelo Rubens Paiva, Gustavo Kuerten, Thomas Koch, Juca Kfouri e Washington Olivetto. O manifesto é apartidário. Em nenhum momento cita o governo de Jair Bolsonaro, por exemplo, mas condena a maneira como o Brasil está tratando a pandemia. "A maioria da população brasileira está largada à própria sorte, especialmente a parte mais vulnerável social e economicamente, em total desrespeito às recomendações sanitárias básicas por parte de quem deveria dar o exemplo à população", informa.
Qualquer um pode fazer parte do manifesto. Basta entrar no site oficial e preencher nome completo, profissão e e-mail. A ideia de Casagrande era que o grupo deixasse o campo virtual. "Uma pena que estamos no meio de uma pandemia e não podemos sair das nossas casas, pois a nossa intenção é de ir às ruas mesmo. Pacificamente, sem conflito, sem confronto, mas mostrando a nossa cara e o que queremos fazer".
Reuniões virtuais
Enquanto a recomendação médica e científica é para que todos continuem em casa, o "Esporte pela Democracia" trata de ganhar corpo de maneira virtual. O grupo não tem uma liderança, mas as pessoas que começaram o movimento conversam diariamente através do WhatsApp. "Estamos agora muito focados no manifesto, na divulgação dele, em buscar formas de divulgar. O Casagrande tem ajudado a trazer muita gente. É essa mobilização que estamos tentando fazer neste momento", disse Ana Moser.
A ex-nadadora Joanna Maranhão contou que houve uma primeira reunião online no último sábado, por meio do aplicativo Zoom, que contou com participação da professora e historiadora Luana Tolentino. "Ela e outras três pessoas negras do grupo debateram sobre racismo por duas horas. Foi importante porque vem direto no nosso racismo estrutural. É um grupo de muita potência que quer fazer a diferença".
Nesta quinta-feira o grupo se reunirá com o "Atletas pelo Brasil", organização sem fins lucrativos que reúne atletas e ex-atletas pela melhoria do esporte. "Vamos escutar o que eles têm a dizer para agregar ao movimento e vamos construindo a partir daí", disse Joanna.
A intenção é trazer temas ligados aos direitos humanos para o debate. "Estamos tendo movimentações mais diretas contra o racismo, mas vamos fazer a favor da proteção das terras e dos povos indígenas; outra pela democracia diretamente; contra a homofobia e o feminicídio", informou Casagrande.
O manifesto "Esporte pela Democracia" finaliza com um questionamento. "O sonho de todo atleta é representar o seu país Estamos então aqui hoje para reconvocar a lucidez, diante da questão inadiável: que Brasil é esse que queremos trazer na camisa e chamar de nosso?".
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