NOVA REALIDADE

Interrupção do duelo entre PSG x Basaksehir por ato de racismo pode significar uma nova realidade no futebol

Jogadores dos dois times deixaram o campo após ato racista do quarto árbitro

Lucas Holanda
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Lucas Holanda
Publicado em 09/12/2020 às 13:05 | Atualizado em 09/12/2020 às 13:05
FRANCK FIFE / AFP
Jogadores deixaram o campo após ato de racismo do quarto árbitro - FOTO: FRANCK FIFE / AFP

Os jogadores de PSG e Instanbul Basaksehir participaram de um momento histórico na última terça-feira. Após Pierre Webó, membro da comissão técnica do time turco, acusar o quarto árbitro de ser racista, os atletas abandonaram o jogo e interromperam a partida, já que o acusado não foi retirado de campo. Um ato que foi - e está sendo - bastante elogiado pelo mundo todo. O confronto, aliás, não retornou na última terça, e só vai acontecer nesta quarta-feira, com outra equipe de arbitragem. Ou seja, a interrupção do duelo por conta do racismo gerou reações importantes dos envolvidos na luta contra o preconceito e pode significar uma nova realidade no futebol.

Na maioria das vezes, o mundo do futebol acaba relativizando os casos de racismo no esporte. Punições com valores irrisórios de multa para os clubes são bem comuns quando um fato desse acontece. No entanto, com essa reação de jogadores de PSG e Basaksehir, envolvendo atletas brancos e negros, pode significar uma nova realidade futebol. Um novo caminho apontando que, se houver racismo, não vai existir futebol, o que pode fazer com que as entidades responsáveis pelas partidas tomem atitudes mais duras com os responsáveis - sejam eles torcedores, atletas, ou até mesmo integrantes da comissão de arbitragem.

Por meio de sua conta oficial no Twitter, o diretor do Observatório de Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, exaltou o ocorrido na partida entre PSG x Basaksehir. Ele, que está nesta luta com o projeto desde 2014, disse que o fato dos jogadores abandonarem a partida é de suam importância na luta antirracista, além de poder significar uma nova realidade no mundo do futebol.

"Desde 2014 estou envolvido no projeto do Observatório de Discriminação Racial no futebol. De lá para cá muita coisa aconteceu, mas o fato de hoje pode ser histórico e o início de uma nova realidade. Os jogadores de ambas as equipes abandonarem o campo é fundamental na luta antirracista. Estou Feliz", disse Marcelo por meio de sua conta oficial no Twitter.

O projeto Observatório de Discriminação Racial no Futebol, aliás, é um dos grandes movimentos no país no combate ao racismo. Além do discurso de conscientização diário, o grupo também tem um site com conteúdos sobre a luta antirracista no futebol - que também se estende para a sociedade, claro. Por meio de suas redes sociais, o Observatório de Discriminação Racial no Futebol se posicionou sobre o que ocorreu no duelo entre PSG x Basaksehir.

Em um dos posicionamentos, o movimento exaltou a postura do brasileiro e camisa 10 do PSG, Neymar, que se manifestou em suas redes sociais após o jogo, escrevendo que 'vidas negras importam'. "Parabéns, Neymar, por seu posicionamento. Importante demais você usar sua representatividade na luta contra o racismo, afinal de contas és ídolo de milhões de crianças que precisam aprender e entender que racismo não se tolera, racismo se combate", escreveu o perfil em sua conta no Twitter.

O duelo entre PSG x Basaksehir foi mais um a registrar um ato de racismo no futebol. No entanto, a forma como os atletas de ambos os times reagiram foi inédita. E pode significar uma nova realidade no esporte quando um novo ato de discriminação ocorrer no meio esportivo. Ou seja, num novo caso de racismo em outra partida, muito provavelmente os atletas envolvidos vão lembrar do que aconteceu no jogo entre PSG x Basaksehir, e podem repetir o gesto histórico.

QUEM É PIERRE WEBÓ, MEMBRO DA COMISSÃO TÉCNICA QUE ACUSOU O QUARTO ÁRBITRO DE RACISMO?

Antes de ser membro da comissão técnica do Basaksehir, Webó foi jogador de futebol. No total, o camaronês teve uma carreira de 19 anos dentro de campo, onde 11 deles foram representando sua seleção - de 2003 a 2014. Ele surgiu em 1999 no Real de Banjul FC, na Gâmbia. No entanto, virou profissional no tradicional Nacional do Uruguai, clube em que ele foi bicampeão uruguaio e também um dos artilheiros da Copa Sul Americana de 2002, marcando quatro vezes.

De 2003 até 2001, Webó atuou no futebol espanhol. Primeiramente defendeu as cores Osasuña, e em seguida atuando pelo Mallorca. No Osasuña, aliás, foi vice-campeão da Copa do Rei. Em 2011, Webó foi para o Instanbul Basaksherir, clube que é membro da comissão técnica nos dias de hoje. Como jogador, ficou uma temporada e meia no time. Em seguida, transferiu-se para outra equipe turca: o Fenerbache, um dos mais tradicionais do país. Lá, era o camisa 9, jogou Champions League e ainda foi campeão nacional em 2014.

Ao sair do Fenerbache pouco depois de ser campeão, Webó transferiu-se para o Ankaraspor, que também é da Turquia. Depois, foi para o Gaziantep, outro clube turco. Por fim, voltou ao Nacional do Uruguai para se despedir do futebol - dentro de campo - em 2018.

QUEM É DEMBA BA, LÍDER DO PROTESTO ANTIRRACISTA NA PARTIDA?

"Você nunca diz 'aquele cara branco', você diz 'aquele cara'. Por que quando você menciona um cara negro você diz 'aquele cara negro ali". Essas foram as palavras ditas pelo jogador Demba Ba para o quarto árbitro, acusado de ser racista com Webó. A indignação do atleta de 35 anos rodou - e está - rodando o mundo. O senegalês, que estava no banco de reservas durante o ocorrido, foi o responsável por convocar os jogadores dos dois times a paralisarem o jogo e, sem dúvidas, foi um dos grandes personagens da noite dessa terça-feira.

Demba Ba começou sua carreira no futebol atuando no FC Rouen. Em 2006, transferiu-se para o Mouscron, da Bélgica. No clube belga, chamou atenção do Hoffenheim, da Alemanha, e no ano seguinte rumou para a Bundesliga. No Campeonato Alemão, marcou 37 gols em quatro temporadas, desempenho que chamou atenção do West Ham, da Inglaterra. Passou pouco tempo no clube londrino e foi para outra equipe inglesa: o Newcastle, onde foi destaque e rumou para o Chelsea, também da Premier League.

No Chelsea, passou uma temporada, mas guarda um momento para lá de especial. Foi o autor do primeiro gol num jogo contra o Liverpool, em 2014, que praticamente tirou o título dos Reds. Depois do Chelsea, Demba Ba passou por Besiktas, Shanghai Shenhua e Göztepe, até chegar no Instanbul Basaksehir, onde foi peça fundamental para o clube conseguir o inédito título do campeonato turco na última temporada.

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