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Kuki: duas décadas de amor ao Náutico

Com 20 anos de Náutico completados recentemente, Kuki falou ao Jornal do Commercio sobre sua relação com o alvirrubro e com o Recife.

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Luana Ponsoni

Publicado em 10/01/2021 às 9:08
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Cearense de nascença, gaúcho de vivência e pernambucano de coração. Ao completar 20 anos de Náutico, o ex-atacante e auxiliar técnico Kuki celebra história de amor por Pernambuco. No Recife, firmou raízes, viveu emoções dentro e fora de campo e continua escrevendo história de superação. Confira entrevista abaixo:

JORNAL DO COMMERCIO - São 20 anos de Náutico e, consequentemente, 20 anos de Recife. O que a cidade significa para você?

Kuki - A cidade é linda, apaixonante. As pessoas acolhedoras. A maneira como fui recebido aqui... Eu costumo dizer que o povo recifense e o pernambucano de uma forma geral é muito parecido com o povo gaúcho. Acolhedor, mas também um povo guerreiro. Se você observar, inclusive na história, há semelhança nesse espírito de luta. Os meus amigos que vêm do Sul, à visita, não querem mais ir embora.

JC - Antes de ser contratado pelo Náutico em 2001, boa parte da sua vida havia sido no Sul do País. Passou por algum problema de adaptação?

Kuki - Não. Só no primeiro dia. Lembro que acordei de manhã cedo e, no café da manhã, aquela chuva forte e eu pensei: "O que é que é isso?". Não tinham a menor ideia que, em poucas horas, ia abrir aquele sol durante o treino e fazer muito calor. Cheguei a passar mal. Mas foi só no primeiro dia mesmo.

JC - Um peso, uma conquista, o que a palavra "ídolo" representa para você?

Kuki - Ah, é motivo de muito orgulho para mim. Uma satisfação enorme e uma grande alegria. Mas eu sempre falo para os garotos e jogadores lá (no Náutico) que ser ídolo não é apenas fazer os gols dentro de campo. Tem todo um papel que você precisa desempenhar e respeitar fora também. Eu sempre fui um cara cheio de energia dentro de campo. Mas fora, independente do que tivesse acontecido, procurava receber as pessoas bem, tratar o torcedor bem, dar atenção. Isso é importante.

JC - Entre os 184 gols que você marcou pelo Náutico, é possível apontar o mais bonito?

Kuki - Acho que um dos mais bonitos foi aquele contra o Intercontinental, logo após o acidente de carro (em abril de 2003). Mas devido ao ocorrido, né? De dois jovens perderem a vida, né? Eu deixei de citar esses gols quando me perguntavam, em respeito às vítimas. Mas tiveram outros. Contra o Paulista de Jundiaí. Um chute muito bonito, de fora da área. Teve um contra o Ypiranga, de Santa Cruz do Capibaribe, muito bonito também. Eu dei um drible da vaca. driblei o goleiro e marquei. Teve outro, na final do turno de 2004, que foi contra o Intercontinental. Eu fiz dois nesse jogo por cobertura. E um muito bonito contra o Grêmio no estádio Olímpico, de cabeça, de costas. Foi um dos mais bonitos que eu fiz na verdade.

JC - E o jogo mais importante entre os 387 pelo Náutico?

Kuki - O jogo mais emocionante, além de muitas decisões, foi o jogo Náutico 3x3 Paulista, em 2006 aqui em Recife. Não vencemos, mas foi um jogo muito disputado, muito bonito de se ver.

JC - Sua despedida do Náutico se deu com o uma derrota do Timbu diante do Avaí, por 1 x 0 em 2009, com o clube já rebaixado à Série B. Como foi lidar com aquele momento?

Kuki - Na verdade, não era para ser a despedida. Não era para aquele ter sido o meu último jogo pelo Náutico. O que aconteceu é que não houve a renovação de contrato que eu estava esperando após aquela temporada. Infelizmente foi assim. Do contrário, eu ainda jogaria muitos anos pelo Náutico. Mas foi como aconteceu.

JC - Agora você é um universitário. Como surgiu a ideia de voltar a estudar?

Kuki - Ah, eu tive muito incentivo da minha namorada, Vanessa. Não foi fácil para um cabeça dura como eu voltar a estudar depois de 24 anos. Eu interrompi meus estudos no segundo grau. Ia completar (os estudos) em uma prova que o pessoal faz na Paraíba. Mas a vontade estava tanta que errei o endereço (risos). Depois surgiu a oportunidade de voltar a frequentar a sala de aula na EREM (Escolas de Referência em Ensino Médio), lá do Santos Dumont. O dia da prova foi triste porque eu tinha recém acabado de enterrar minha avó, lá no Sul, mas deu tudo certo.

JC - Quando concluir o curso de Fisioterapia, gostaria de trabalhar no Departamento Médico do Náutico?

Kuki - Ah, sim, claro! Mas entendo também que um fisioterapeuta recém-formado precisar correr atrás, para ganhar experiência. Continuar estudando muito. A atualização nessa área não para.

JC - E nesses 20 anos de Náutico, há algum arrependimento?

Kuki - Em 2005, quando ganhamos o bicho em um dos jogos do Campeonato Brasileiro, nós reunimos o dinheiro para comprar uma casa para um dos funcionários do clube. E eu só me arrependo de não ter tomado mais a iniciativa em atitudes como essas. Dar uma casa para um funcionário do clube, isso não tem preço, ainda mais quando é de coração. De carreira um arrependimento que eu tenho é de não ter sido um verdadeiro atleta de 1993, quando eu comecei, até 1999. Joguei 6 anos da minha vida de atleta fora. Acho que esse é o meu maior arrependimento.

JC - Ainda tem sonhos a realizar com o Náutico?

Kuki - Tenho: o de ver a base do Náutico ser mais valorizada. Os resultados que esses meninos conseguem nas competições ser mais divulgado. O nome já diz, é a base de tudo, de qualquer clube. Mas eu sou muito grato ao Náutico, que realizou o meu sonho de voltar a compor o clube, agora como auxiliar técnico e foi junto com o Náutico que recebi e recebo tanto carinho, inclusive de torcedores dos três clubes (Sport e Santa Cruz também). Então, eu não tenho palavras para expressar o tamanho da minha gratidão pelo Náutico e por tudo que tenho vivido.

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