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Catatau: o rei das massagens no mundo árabe

Carlos Henrique da Silva, 54 anos, conhecido no mundo do futebol como Catatau, trabalhou muitos anos no Sport e teve passagem rápida no Santa Cruz.

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Marcelo Cavalcante

Publicado em 14/03/2021 às 13:22 | Atualizado em 14/03/2021 às 19:05
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O massagista no futebol é o anjo da guarda de todos os jogadores. Especialmente os mais rápidos e habilidosos, alvos preferidos dos marcadores implacáveis. Carlos Henrique da Silva, 54 anos, é um desses anjos. Conhecido no mundo do futebol como Catatau, trabalhou muitos anos no Sport e teve passagem rápida no Santa Cruz. Atuando sempre na beira do gramado, atento a todos os lances. Qualquer pancada, esperava a autorização do árbitro para disparar em velocidade com a água milagrosa. Dava o trato e o craque ficava em pé, como se nada tivesse acontecido. No pós-jogo, um milagreiro. Muitos grandes jogadores recorriam a ele para fazer um relaxamento muscular. Em 2007, sua vida mudou. Foi convidado pelo técnico Hélio dos Anjos para integrar a comissão técnica da seleção da Arábia Saudita e de lá não saiu mais. Hoje é um coordenador do departamento médico.

Catatau mora em Riad, capital da Arábia Saudita, e se sente realizado profissionalmente. "Tive meu trabalho reconhecido graças a Deus. No momento, ainda estou no Recife, de férias, pois os voos de volta não foram liberados. Estamos todos preocupados, porque tudo referente ao setor físico e médico da seleção passa por mim. Mas estamos sempre em contato", disse.

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Catatau - DIVULGAÇÃO

A seleção é atualmente comandada pelo francês Hervé Renard, que fala bem o português e facilitou a vida de Catatau. "Eu aprendi poucas palavras em árabe. Mas dá para se virar". Através da seleção, já conheceu vários países do mundo. Recentemente, esteve na Indonésia, para a disputa do Pré-Olímpico. Ajudou e muito a seleção conseguir uma vaga para as Olimpíadas, algo que não acontecia há 26 anos. Em 2018, esteve na Copa do Mundo da Rússia, um momento de grande aprendizado. E de ter um tremendo susto. "O avião pegou fogo quando a gente já estava perto de aterrissar. Foi um susto danado. Ficamos apreensivos. Mas graças a Deus, chegamos com vida." Sobre a participação na Copa do Mundo... "Olha, foi uma experiência tão incrível que, acredite, a ficha ainda não caiu".

Dentre os hábitos do povo árabe, o mais complicado para Catatau se adaptar foi o Radamã. No nono mês do calendário islâmico, todos os muçulmanos fazem o jejum, que começa quando o sol nasce e termina quando se põe. E durante esse período, todos fazem cinco orações diárias. Mas episódio inusitado que presenciou foi fora do jejum. "Depois da conquista da Copa da Ásia, fomos comemorar num restaurante. Lugar bem luxuoso, bonito. Aí, sentou um árabe ao meu lado e, quando o prato chegou, ele não teve dúvidas: comeu tudo com as mãos. Me assustei", relembra. Após a saída de Hélio, Catatau continuou sua nova vida. Sua adaptação só não ficou mais complicada graças a seu carisma natural que fez cativar amigos. Hoje, vive com sua atual esposa, Simone Félix.

O COMEÇO

Antes de ser massagista, Catatau foi de tudo um pouco. Zelador, assistente de estivador, ajudante de pedreiro e também limpava os jazigos do Cemitério de Santo Amaro, ao lado do seu pai. A massagem surgiu na sua vida por acaso. Nas peladas de futsal que jogava nos finais de semana com amigos, conheceu Nilton, um dos peladeiros e que era roupeiro do time de base do futsal do Bandepe. Rapidamente foi para os profissionais. No total, seis anos de trabalho. Até se transferir para a Geraldo Equipadora, outro time de destaque do futsal, onde aprendeu as técnicas de massagens.

"Na Geraldo, eu fiquei dois meses. Foi quando fui desafiado para ir ao Sport e fazer uma massagem no meia Ataíde. Disseram que ele tinha musculatura dura, diferenciada. Fui, o pessoal gostou e acabei ficando", relembra Catatau. O ano era 1992. No Leão, estavam Aílton, Givaldo, Zico, Lopes, Dinda e o técnico Gil, mais conhecido como Búfalo Gil. O entrosamento foi rápido. Ao ponto de ganhar a alcunha que carrega até os dias de hoje. "O pessoal perguntou como gostaria de ser chamado. Eu disse que o pessoal da pelada me chamava de Henágio. Mas ele tinha relação com o Santa Cruz. Foi quando o então preparador de goleiros do clube, Ivan Carneiro, passou a me chamar de Catatau. E ficou até hoje".

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Catatau - DIVULGAÇÃO

Em 94, no time em que tinha Juninho, Chiquinho, Dário, Marcelo e o técnico Givanildo Oliveira, Catatau participava da corrida dos massagistas. A prova era de 100 metros rasos, em que ele disputava com o também massagista Mema. "Os jogadores faziam bolão de apostas. Eu sempre ganhava". Dois anos depois, Hélio dos Anjos chegou, se tornou entusiasta da corrida e fez amizade com o massagista. Catatau lembra que o treinador sempre comprava cestas básicas para os funcionários do clube. Em 99, essa ajuda acabou causando sua demissão na Ilha. "Hélio dos Anjos estava no Goiás e foi treinar na Ilha para o jogo contra o Santa Cruz. Aí, ele mandou comprar as cestas. Comprei e coloquei no clube. No outro dia, uma revista publicou a seguinte manchete: 'Hélio mata fome dos funcionários do Sport'. No outro dia, disseram que eu ajudei a fazer isso e fui demitido."

Hélio dos Anjos, hoje no Náutico, mantém contato com o massagista. Sempre que podem, se encontram. E só tem elogios. "Mesmo com a saída do nosso grupo da seleção, Catatau recebeu proposta para ficar e ficou. É um profissional respeitadíssimo. Ele atende a todas as seleções. É um mestre da massagem, algo que o árabe adora. Fico feliz por ter participado da ida dele e mais ainda por ele ter ficado. Ele é uma referência", destaca.

Catatau não ficou rico financeiramente. No entanto, está rico de humildade, felicidade e prosperidade. Faz o que aprendeu a amar. "Planto, e rego para, lá na frente, pegar os frutos. Até porque eu sei que vai ter a hora do descanso", diz.

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