VANDALISMO

Jogadores de futebol estão correndo risco de morte no Brasil

Nos primeiros meses de 2022 ocorreram vários episódios de violência no País contra atletas, comissão técnica e até arbitragem

Filipe Farias
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Filipe Farias
Publicado em 11/04/2022 às 20:10
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VISÃO Uma bomba arremessada para dentro do ônibus do Bahia resultou em ferimentos graves em um dos olhos do goleiro Danilo Fernandes - FOTO: Reprodução do Instagram
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Cenas lamentáveis de violência, agressão e vandalismo estão se tornando rotineiras nesses primeiros meses do ano no futebol brasileiro. Seja dentro ou fora de campo, diante da impunidade, cada vez mais os torcedores estão se achando no direito de cobrar violentamente de jogadores e comissões técnicas dos clubes. Com ameaças verbais (que por si só já se configura crime de acordo com o Código Penal Brasileiro) e, muitas vezes, com a agressão física. Colocando todos que fazem o futebol em risco de morte.

E as formas praticadas de vandalismo desde o início de 2022 foram diversas. Em fevereiro, por exemplo, o ônibus do Bahia foi alvo de um atentado por parte de uma das principais torcidas organizadas do clube. Antes do jogo contra o Sampaio Corrêa, pela Copa do Nordeste, membros da organizada jogaram bombas em direção ao ônibus que conduzia os jogadores para a Arena Fonte Nova.

Com o estilhaço, o goleiro Danilo Fernandes ficou bastante ferido, com cortes no rosto e precisou passar por cirurgia por conta de uma lesão na retina.

No mesmo final de semana, em fevereiro, foi a vez dos jogadores do Grêmio serem alvos de um atentado antes do clássico contra o Internacional. Na chegada ao estádio Beira Rio, a delegação gremista foi recebida com uma chuva de pedradas. Uma delas quebrou o vidro do ônibus e atingiu o volante paraguaio Villasanti.

No mesmo dia, 26/02, próximo de Porto Alegre, desta vez em Curitiba, torcedores do Paraná invadiram o gramado do estádio Durival Britto (também conhecido como Vila Capanema) para agredir os jogadores do Tricolor paranaense. O motivo? O time perdia para o União-PR por 3x1, placar que rebaixou o Paraná para a Segunda Divisão estadual, quando parte da torcida entrou no campo, aos 40 minutos do segundo tempo, para atacar os atletas, que tiveram de correr para os vestiários.

No Recife

Aqui no Recife também ocorreu caso de vandalismo. No desembarque da delegação do Náutico após a eliminação na primeira fase da Copa do Brasil, para o Tocantinópolis, membros da principal organizada do clube foram ao Aeroporto Internacional dos Guararapes para protestar, intimidar e tirar satisfação com os atletas. Apesar do policiamento e da segurança reforçada no local, o efetivo não foi suficiente para evitar que os marginais quebrassem os vidros da van que transportava os jogadores.

Semanas antes a esse episódio, após a derrota do Náutico para o Retrô por 2x1, nos Aflitos, pelo Campeonato Pernambucano, torcedores conseguiram ter acesso próximo a área dos vestiários para cobrar os atletas. O atacante Kieza chegou a trocar socos com um dos torcedores.

Também na capital pernambucana, no último final de semana, o ônibus que transportava a delegação do Sampaio Corrêa, que estreou na Série B com derrota para o Sport por 1x0, no último sábado (9), na Ilha do Retiro, foi atacado a pedradas por torcedores rubro-negros quando retornava para o hotel. As janelas do veículo ficaram danificadas e, por sorte, ninguém ficou ferido.

PROTESTOS

Diante do mau momento no início de temporada dos dois times de maior torcida do País, os jogadores de Corinthians e Flamengo, foram bastante cobrados e ameaçados na última semana. O goleiro corintiano, Cássio, foi ameaçado via redes sociais. O personal trainer da esposa do goleiro recebeu mensagens de áudio no direct do seu perfil no Instagram com juras e ameaças para serem repassadas aos dois corintianos. O "pedido" era para que o camisa 12 pedisse para deixar o clube. Em uma das mensagens, uma foto em que aparece um revólver e balas em cima de uma camisa do Timão.

Na última sexta-feira (8), um grupo de mais de 30 torcedores se concentraram na entrada do Ninho do Urubu (Centro de Treinamentos do Flamengo) para protestarem contra o momento do time. A medida que os atletas chegavam, seus carros eram atacados e danificados. Nem mesmo a polícia e os seguranças do clube conseguiram evitar o dano material e as as tentativas de agressão. Diego Alves, Thiago Maia, Diego, Willian Arão e Léo Pereira foram os principais alvos de críticas dos manifestantes - apenas um chegou a ser detido, por tentar tirar a arma de um policial.

AGRESSÃO À ÁRBITRA

No último domingo (10), uma cena revoltou e chocou a todos. Após o apito do final do primeiro tempo das quartas de final do Campeonato Capixaba entre Desportiva Ferroviária e Nova Venécia, o técnico da Desportiva, Rafael Soriano, se dirigiu ao trio de arbitragem para contestar e, após receber amarelo por proferir xingamentos, ele foi em direção à assistente Marcielly Netto e disparou uma cabeçada contra a árbitra.

Não satisfeito, Rafael Soriano ainda ameaçou a árbitra na saída do campo. "Se disser que eu te agredi iremos para a delegacia fazer corpo de delito. Se não vou te processar", disse o treinador intimidando Marcielly Netto. As imagens foram registradas pela TV Educativa, do Governo do ES.

 

reprodução / TV Educativa ES
Árbitra assistente Marcielly Netto foi agredida com uma cabeçada pelo técnico Rafael Soriano, da Desportiva Ferroviária - reprodução / TV Educativa ES

Ainda durante o jogo a diretoria da Desportiva Ferroviária publicou uma nota repudiando a violência cometida por Rafael Soriano contra a árbitra assistente Marcielly Netto e comunicando a demissão do treinador.

Rafael Soriano foi suspenso por um mês pelo Tribunal de Justiça de Desportiva do Espírito Santo (TJD-ES), que ainda julgará o caso. A depender da condenação, o ex-treinador da Deportiva Ferroviária pode pegar uma pena superior a 180 dias.

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