Por Gustavo Krause
Paraibano de Pocinhos, sertanejo do Cariri, Salomão Sales Couto veio ao mundo para ser um vencedor. Campeão.
Nasceu na periferia pobre do pobre nordeste brasileiro.
Na fila do chafariz, deixava as latas, guardando sua vaga, arrastado por um sonho redondo chamado bola.
Às vezes perdia a vaga, a água ou chegava tarde.
A doçura da mãe tinha limite;o castigo, inevitável, porém, era insuficiente para que o meninose dobrasseao destino de vidas secas.
A precoce atração pelo futebol, pressentiu, seria um caminho e, no fundo docoração, a sensibilidade social, marca de toda existência, o chamado da vocação tinha um nome: a medicina.
Com a bola, a intimidade virou um caso de amor e um casamento com comunhão de bens. Viveram felizes para sempre.
Simples perceber e explicar: o enlace do talento, da imaginação, a beleza da arte fizeram da relação de Salomão com a bola um permanente encanto e afeto renovado no estilo elegante, objetivo e vertical do jogador.
Salomão recebeu dons, como os profissionais virtuosos, que a mais moderna tecnologia não vai criar, repito, talento e imaginação. Como todo craque consumado, era discípulo do mestre Alexandre Borges que ensinava: “Futebol se joga com a cabeça; corre com os pulmões e chuta com os pés”.
As homenagens por sua partida vão recordar sua biografia e brilhante trajetória de jogador e médico, os sonhos realizados.
Como conheci, convivi com ele e meus amados boleiros, restam-me palavras de gratidão pelo que deixou para os amigos: obrigado, Salomão pelas tardes de domingo felizes, engrandecendo o Náutico e o futebol; obrigado Salomão pela lição: para ser Campeão e fazer História, é preciso ter caráter e valores; obrigado Salomão pela luta incansável, ao lado seu gentil irmão siamês, Ivan Brondi, em favor da formação de atletas-cidadãos, na construção do CT Wilson Campos.
Na minha memória, continuo a vê-lo em campo como se deslizasse no espaço. Voa, Salomão, Voa em direção à Eternidade, ao abrigo celestial, pois a seleção do Criador está precisando de Homens Bons.
*Gustavo Krause, torcedor do Náutico e ex-governador de Pernambuco
O texto não reflete necessariamente a opinião do Jornal do Commercio.