DIVERSIDADE

Diversidade nas empresas: mais que estratégia de negócio, uma função social

Empresas que apostam na transformação pela diversidade tem mais chances de inovar e lucrar, apontam estudos

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JC360

Publicado em 15/11/2021 às 21:05
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Quais as chances de pessoas com o mesmo perfil trazerem soluções inovadoras e pensar os problemas de forma diferentes dentro de uma empresa? Estudos realizados mundo afora apontam que são muito pequenas. Um deles, da consultoria americana McKinsey, realizado em 2020, em 15 países, incluindo o Brasil, mostrou que as empresas que têm a diversidade como parte da estratégia de seus negócios têm mais chances de inovar e lucrar acima da média do mercado. Uma constatação que contrasta com a demografia das empresas brasileiras, onde homens brancos e héteros formam maioria em muitas corporações e as mulheres, os negros, os indígenas, as pessoas LGBTQPIA+, que compõe uma parcela expressiva da população brasileira, são deixados de fora do contexto do mercado de trabalho. Um paradoxo social que reforça a importância de ter empresas mais plurais, com diversidade, inclusão e equidade na sua base.

“Várias pesquisas apontam que empresas mais diversas são mais inovadoras. Quando você tem uma mescla maior você traz uma diversidade de pensamento, de realidade e visão de mundo. Essa diversidade é crucial para o mundo que vivemos hoje: complexo, não linear, imprevisível, não processual. Esse mundo que nos faz cada vez mais perguntas complexas, exige novas posturas e comportamentos e que nos adaptemos rapidamente a ciclos cada vez menores de mudanças. Só com um time diversificado, conseguiremos dar essas respostas mais ágeis e nos adaptarmos melhor”, comenta Daniela Diniz, diretora de conteúdo e relações institucionais do GPTW.

Estudo feito pela Gestão Kairós, consultoria de sustentabilidade e diversidade, denominado “Diversidade, Representatividade & Percepção - Censo Multissetorial da Gestão Kairós”, apontou que 68% do quadro funcional das empresas é composto por homens e 32% por mulheres; 64% do quadro funcional são brancos, 33% são negros e 0,9% são indígenas; 94% são heterossexuais e 99,6% são cisgênero, sendo que somente 6% são lésbicas, gays e bissexuais; e só 0,4% são transgêneros; pessoa com deficiência representam 2,7%. Uma sub-representatividade que demanda tempo para ser superada. Levar a diversidade para dentro das empresas é um processo que exige uma mudança de postura. Para ser sustentável, a iniciativa precisa passar a fazer parte da cultura da empresa.

“Não é um processo que acontece naturalmente. Para mudar esse cenário, primeiro as empresas têm que fazer um diagnóstico. E o diagnóstico da diversidade é o Censo. A partir desse diagnóstico, estabelecer metas e indicadores nas frentes as quais são necessárias para acompanhar se com o passar do tempo estamos melhorando, piorando, ficando mais inclusivos ou menos inclusivos. E a partir disso, letrar, sensibilizar, engajar todos os funcionários em todas as posições, desde a alta liderança até os profissionais da operação”, defende Liliane Rocha, fundadora e CEO da Gestão Kairós.

No Brasil, de maneira geral, não há leis que obriguem as empresas a ter um quadro de funcionários heterogêneo e nem estabelece que as corporações tenham cotas na composição do quadro funcional. A única exceção é para pessoas com deficiência, que conta com a chamada Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência, Lei Nº 8.213/91, instrumental legal pelo qual as empresas com mais de 100 funcionários devem, sem seu quadro geral, destinar um percentual específico de vagas. Para Liliane Rocha, a formação de um ambiente de trabalho mais diverso, formado também por mulheres, negros, indígenas, LGBTQPIA+, e profissionais 50+ de forma igualitária, não é uma obrigação legal, mas uma questão de valor humano e inteligência de negócio. 

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Liliane Rocha, fundadora e CEO da Gestão Kairós, destaca que levar a diversidade para dentro das empresas é um processo que exige uma mudança de postura - DIVULGAÇÃO

“Falar que é uma obrigatoriedade, stricto sensu, significaria dizer que todas as empresas têm que fazer e quem não fez está sofrendo alguma sanção legal por causa disso. Isso não é verdade. Mas quando a gente fala de inteligência de negócio, de justiça social, de construção de sociedade, negócios perenes, aí é uma obrigatoriedade. A questão é, como a gente tem feito para que altos executivos e lideranças compreendam que essa é a forma mais inteligente de fazer negócio e como a gente traz esse processo para a gestão das grandes empresas?”, conclui, Liliane Rocha.

“As empresas têm uma responsabilidade muito grande na construção de uma sociedade. Esse assunto não deve ser tratado como um modismo – vai lá e cria um comitê para falar de Mulheres – não! É preciso ter seriedade no processo, desenvolver a liderança e estabelecer metas de curto, médio e longo prazo e mapear o impacto que uma força de trabalho mais diversa traz para o negócio”, completa Daniela Diniz, diretora de conteúdo e relações institucionais do GPTW..

Equidade de gênero 

A equidade de gênero no mundo corporativo também é uma forma de promover a diversidade. Mesmo de forma tímida, a ascensão da mulher no ambiente de trabalho tem apresentado avanços que merecem ser celebrados. No mais recente levantamento, feito neste ano de 2021, o GPTW revelou o resultado da 5ª edição do Ranking das Melhores Empresas para a Mulher Trabalhar no Brasil, que é fruto da missão da consultoria de "construir uma sociedade melhor, transformando cada organização em um great place to work for all".

A pesquisa identificou e reconheceu as 70 empresas (35 de porte grande e 35 de porte médio), entre as 641 inscritas, que mais se destacaram pelas políticas e práticas em prol da equidade de gênero. Número que representa 741.665 funcionários. Nas empresas selecionadas, a média é de 52% funcionários do gênero feminino e 48% masculino, contra 38% de mulheres e 62% de homens, na pesquisa realizada em 2017.

Ainda no comparativo com 2017, o número de mulheres na alta liderança se manteve em 26%, em “outras lideranças”, que correspondem a cargos de média gestão, caiu de 49% para 44%, em “outros cargos” houve um crescimento de 45% para 54% e o número de CEOs caiu de 17% para 13%. Já mulheres no conselho de administração, na comparação com 2019-2021, caiu de 30% para 28%.

“A cada ano, percebemos um tímido avanço. Tímido, porém, poderoso quando tratamos de equidade de gênero no mundo corporativo. O ano de 2020, no entanto, marcou um retrocesso nessa jornada. A pandemia interrompeu uma tendência de anos no avanço da participação feminina na força de trabalho. Portanto, identificar e reconhecer as empresas que seguem firmes no propósito de promover a igualdade de gênero e estimular a presença e ascensão de mulheres é mais do que um ato simbólico, é uma forma de alertar a sociedade de que não podemos para”, reforça Daniela Diniz.

Além do Melhores Empresas para Trabalhar: Mulher, o GPTW Brasil também tem rankings Étnico-racial, Pessoas com Deficiência, LGBTQIA+ e 50 +. A relação completa está disponível aqui (incluir link - https://gptw.com.br/ranking/melhores-empresas/).

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