A Morte é um Mistério

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JC

Publicado em 27/08/2023 às 0:00
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PADRE BIU DE ARRUDA

Geralmente, a morte é um assunto avesso às pessoas. Não se costuma comentar. Causa medo. É fato estranho a quem não vê a morte como fenômeno natural. Lembrando que de todos os encontros, o único que a pessoa se encontra sozinha na existência humana, com suas infinitas interrogações, acontece quando há o desprendimento da alma do cárcere, isto é, do corpo. O desalojar-se definitivo. Daí para frente, tudo pode ser conjecturas, especulações da mente humana. Vindo ao consolo da pessoa, a religião para quem acredita. Sim, nesse momento, a fé exerce um papel preponderante. É de fundamental importância. É o refúgio dos crentes, isto é, de quem crê. Sendo a morte, na visão freudiana, uma das maiores pulsões.
É necessário ter coragem para enfrentar, com confiança, na companhia de si mesmo e com naturalidade, o fenômeno da morte que joga todos os seres humanos na finitude de uma mesma e única realidade, visto que tudo acaba. Tudo passa. Tudo tem um fim. Afinal, a morte é uma demonstração natural de que o ser humano não é dono de si mesmo, já que, por índole teleológica, tende para um fim. É preciso aproveitar, com intensidade única, cada momento vivido, fazendo sempre o bem. Porque, um dia partiremos todos para uma realidade que o ser humano não a conhece na sua totalidade. Isso vai acontecer quando o cérebro se tornar um punhado de células mortas, irrecuperáveis, pondo fim à existência biológica.
Diante do mistério da morte, há crenças diversas. Alguns defendem que, depois desse fato natural, não restará vida sobre vida. Tudo termina assim e nada mais pode surgir de um punhado de cinzas. Para os prosélitos da metempsicose, tudo volta em aparência física diferente para purgar, purificar o carma, pois é preciso que haja o nirvana. Outros defendem que a morte, como fenômeno natural, é uma quebra, uma divisão, uma separação. É um desabrochar para uma infinita eternidade. Uma felicidade sem fim. Ademais, não falta quem assegure que todos passaremos pelos Novíssimos do homem, esperando a volta do Salvador, quando haverá o juízo final, onde alguns ressuscitarão para a felicidade eterna e outras para a infelicidade.
Por outro lado, é bom lembrar que se morre a cada instante pela falta de consciência de que cada um é responsável pela vida, como também pelo próprio abandono de si mesmo. Sendo assim, o respeito pela morte, talvez, possa trazer um equilíbrio e uma harmonia nas escolhas humanas. Por essa razão, é preciso ver a vida como a obra prima do Criador; contudo, sem esquecer que é breve tão quanto a gota de orvalho que cai ao amanhecer, cintilando ao calor do sol e, com o mesmo calor, se dissipa. A morte é sempre um abismo insondável que a mente humana é incapaz de abarcar na sua totalidade. Sem olvidar, também, que a morte acontece mesmo, para alguns, quando ninguém lembra mais de quem já morreu.
Acerca da morte, uma coisa é certa: além de ser um mistério insondável, põe fim a existência biológica. Por isso, é necessário aproveitar cada momento da vida para celebrar as vitórias, uma vez que ninguém é sabedor de quando vai acontecer a celebração da páscoa definitiva. Afinal, um dia partiremos todos, restando apenas e tão somente a saudade de quem fez o bem e conviveu com os semelhantes.

Padre Biu de Arruda – AOR é pároco da Paróquia de Santa Luzia no bairro da Estância e da Arquidiocese de Olinda e Recife

 

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