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O Ano Novo Judaico e o Dia do Perdão

É um momento marcante que culmina uma sequência de dez dias, iniciados com o ano novo judaico

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JÁDER TACHLITSKY

Publicado em 24/09/2023 às 0:00 | Atualizado em 25/09/2023 às 10:16
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Por JÁDER TACHLITSKY

Do anoitecer deste domingo, 24/09, ao anoitecer da segunda, 25/09, judeus e judias, no mundo inteiro, celebrarão seu marco religioso mais importante do ano, o Dia do Perdão (Yom Kipur).

É um momento marcante que culmina uma sequência de dez dias, iniciados com o ano novo judaico, RoshHashaná (Cabeça do Ano). Este período é conhecido como YamimNoraim, que pode ser traduzido como Dias Intensos. Também se utiliza a expressão “Grandes Festas” para designar essas datas tão significativas.

O ano novo vivenciado há poucos dias possui uma série de simbolismos. O principal preceito é ouvir os cem toques do Shofar, um chifre de animal, em geral de carneiro. O toque do Shofar, que no passado se destinava a várias situações marcantes de convocação do povo, representa um profundo momento de reflexão. É uma chacoalhada em nossas vidas. A abertura de nossa alma para transcender nossos pensamentos mais imediatos e conectá-la às questões mais profundas de nossas existências.

Costumamos comer maçã com mel e desejar “ShanáTováUmetuká” (um ano bom e doce), expressando simbolicamente a doçura como o que de melhor desejamos em relação ao próximo.

Durante os dias entre o ano novo e o Dia do Perdão transitamos entre o individual e o coletivo. Cada um de nós deve refletir sobre como conduzimos nossa vida durante o ano que se encerrou. Fomos fiéis a nós mesmos? Aos nossos princípios e propósitos? Fomos empáticos em nossos relacionamentos com quem nos rodeia? Trabalhamos por um aperfeiçoamento de nossos lares, de nossa sociedade? Demos nosso quinhão de contribuição para melhorar o mundo em que vivemos?

A partir de nossas reflexões devemos nos arrepender sinceramente de nossos erros. E pedir perdão. Perdão a nós próprios, dotando-nos da capacidade de aceitar que falhamos e que queremos corrigir essa falta; perdão aos nossos semelhantes por algo de mal que tenhamos cometido contra alguns deles.
Quem pede perdão deve fazê-lo com toda a sinceridade, não como uma formalidade. Quem recebe esse pedido deve aceitá-lo, de coração aberto, sem guardar rancor. É necessário que se reestabeleça uma confiança mútua entre as partes, capaz de transformar um conflito latente ou real num novo caminho de concórdia.

Pedimos, enfim, perdão ao Criador. Assumimos nossa limitação enquanto seres humanos, mas seguimos o que a ética judaica nos convoca sempre, ao nosso aprimoramento individual e nosso compromisso com o coletivo.

Ao arrependimento sincero, despertado por nossas orações; ao nosso retorno ao caminho correto, nos nossos relacionamentos, é fundamental que sejam agregadas as nossas ações. O Judaísmo é uma fé de compromisso. Não se limita a uma experiência espiritual. Na verdade aprofunda essa experiência através de atitudes concretas, que revelam nosso empenho na construção de um mundo melhor para toda a humanidade.

Judeus e judias, no mundo inteiro, durante o Yom Kipur, estarão nas sinagogas, estabelecerão diálogos, entoarão preces coletivas, seguindo um jejum completo de 25 horas. Durante todo esse tempo não é o corpo que será nutrido, é o espírito.

Ao final dessa jornada de imersão ouvirão novamente os toques do Shofar, congratular-se-ão e retornarão a seus lares. Cada família quebrará o jejum num jantar festivo. A roda da vida continuará seguindo seus caminhos. Mas a cada ano os judeus e judias se dão essa oportunidade de se conectar com mais intensidade ao Criador e contribuir, cada qual a seu modo, para que a obra da Criação se aperfeiçoe.

*Jáder Tachlitsky, economista, professor de Cultura Judaica e história judaica, coordenador de Comunicação da Federação Israelita de Pernambuco

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