O Brilho Invade a Cidade

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JC

Publicado em 26/11/2023 às 0:00
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PADRE BIU DE ARRUDA

Percebe-se que, à proporção que o tempo avança, existe um ar diferente invadindo as nossas praças. Do casebre ao palácio luxuoso, aparece sinal de luz em meio a trevas. Afinal, luz e escuridão não combinam. Sem olvidar que, por menor que seja o ponto de luz, vai se sobressair em meio à escuridão. Por essa razão, é gratificante aos olhos humanos, vislumbrar - por todo lado - sinais de que o povo cristão, mais uma vez, se prepara para celebrar as manifestações da grande Luz do mundo. A luz que não precisa de adereço algum para brilhar, uma vez que é a própria luz, isto é, o Emanuel, Deus conosco, nascendo num estábulo por causa da insensibilidade de alguns.
O clima, além de ser agradável, é contagiante. Há um esforço hercúleo de todos. Do litoral ao sertão, existe sempre um sinal de que alguém especial está para chegar. Por isso, a toalha nova é posta sobre a mesa. A colcha rendada sai da naftalina e ornamenta a cama. Quem está distante da família pede para matar o capão, visto que já está com a passagem comprada. O sertanejo pinta a capelinha. A comunidade ensaia a novena natalina. A casinha de pau a pique é revestida de brilho. E assim, o clima de alegria vai invadindo o coração humano com esperança de que tudo pode ser renovado.
A economia é aquecida. Empregos são gerados. No comércio, muitos ficam de olho no décimo de quem está empregado. A disputa é grande. Ganha mais quem melhor oferta. O comércio popular pega fogo. Tudo é disputado no grito. As estreitas ruas parecem mais um formigueiro em ebulição. Os adeptos da superstição visitam as lojinhas de incenso, como também não esquecem as ervas da sorte. Gosto para todo freguês. A atmosfera faz a roda girar com o desejo de dias melhores com menos violência e corrupção.
Os marqueteiros não perdem tempo. Investem pesado nos grandes centros de compras (shopping centers), visando ao consumo, ao bem-estar. Nesses lugares, não se sabe mais quando é noite ou dia. O movimento é intenso. O ponteiro do relógio avança sem quem ninguém perceba. A disputa, às vezes, é desumana. Sem falar que a manjedoura já se tornou, nesses lugares, uma insignificante réplica da idealização de Francisco de Assis, em um cuvico de parede; lamentavelmente. Enquanto a casa do dito bom velhinho, ocupa um espaço de destaque que recebe propagando diuturnamente.
De crente a ateu, de opulento a miserável, todos são contaminados pelo clima celebrativo das manifestações natalinas. Herança cultural e de fé maravilhosa que aqui deixaram os nossos cristãos católicos colonizadores. Contudo, é preciso deixar claro que a verdadeira celebração do Natal não acontece de fora para dentro. Consiste no inverso. A metanoia deve acontecer de dentro para fora, gerando, assim, ações solidárias. É perceptível que, nesse tempo, as mãos ficam mais generosas. O olhar humano torna-se mais humano. E assim, a solidariedade cresce com gestos de distribuição de tanto amor concretizado em alimentos para as pessoas em situação de abandono. Aquelas que estão à margem da sociedade. Por essa razão, antes de enfeitar, com lindos adereços coruscantes a nossa casa, é necessário fazer do nosso interior uma espaço de acolhimento, expurgando para longe, os sentimentos deletérios.
É preciso reconhecer que há muito o que celebrar entre nós humanos. Por outro lado, é de lamentar também situações em que não apenas envergonham a humanidade, mas sacrificam tantos inocentes. A corrupção e as guerras sangrentas despontam, lamentavelmente. Como também o holocausto silencioso que encontra apanágio em alguns Estados Soberanos. Como falar de celebração natalina e de ano novo para os ucranianos e israelenses? Sem esquecer, é claro, os palestinos inocentes que perderam a vida por causa do ódio de alguns governantes.
A humanidade anda doente. Isso é fato. Isso acontece por causa da indiferença. A indiferença é uma guerra fria que, às vezes, acontece na convivência familiar. É necessário abandonar as diferenças e celebrar com o que nos une. Lembrando que a pandemia levou muitas pessoas queridas nossas, contudo, não arrancou de nós o desejo de ressurgir das cinzas, visto que há, no interior humano, a força inquebrantável da fé.
Em consideração derradeira, é de lamentar que o mundo celebre mais um Natal e um Ano Novo tendo que enxugar as lágrimas de tantas famílias feridas por causa do ódio de alguns. Portanto, celebre esse novo tempo, com leitão ou com galeto. Com champanhe ou com cachimbada. Só não esqueça de celebrar com muito amor, uma vez que o amor vence sempre. O resto é com você. Com garra, determinação, foco, fé etc., faça história para os outros contarem. E não esqueça de deixar a Luz Divina iluminar sempre os seus projetos de vida.

Padre Biu de Arruda – é pároco na Paróquia de Santa Luzia , no bairro da Estância  e da Arquidiocese de Olinda e Recife

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