O advento e uma espiritualidade horizontal
REVERENDO IVAN ROCHA
Estamos em dezembro, no período do advento, que é o tempo em que as igrejas cristãs esperam e se preparam, em reflexão profunda, para celebrar brevemente o Natal. O Cardeal Raniero Cantalamessa afirma que ninguém simboliza tão bem o advento como Maria, a mãe de Jesus, porque ela literalmente esperou o Natal, carregando dentro de si o salvador do mundo!
O Evangelho de Lucas relata que o anjo, após ter informado a Maria das coisas que estavam para acontecer com ela, disse também que sua prima, Isabel, estava grávida há seis meses. Sem perder tempo, Maria foi visitar sua prima. Duas canções explodiram no dia em que se encontraram Maria e Isabel. A primeira, foi a canção de Isabel. João Batista, no seu ventre, se agitou e ela disse: “Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre” (Lc 1:42)
A segunda foi a canção de Maria, conhecida como “Magnificat”, que se encontra em Lc 1:46-55. Há muita coisa linda a ser dita sobre essa canção, mas não caberia neste artigo, e por isso eu quero destacar apenas uma questão muito importante. Mesmo depois de ter recebido a visita de um anjo que lhe chamou de “agraciada” e “bendita entre as mulheres” (Lc 1:28) e mesmo depois de ter ouvido da prima que era uma bem aventurada (Lc 1:45), Maria entendeu que o que estava acontecendo não era sobre ela mas tinha um propósito muito maior.
Maria canta engrandecendo ao Senhor, exaltando a santidade e a misericórdia de Deus. Mas imediatamente passa a cantar sobre a obra de Deus no mundo. A visitação, o milagre e a escolha dela não eram mais importantes do que a salvação e o impacto do nascimento de Jesus para o Seu povo.
Isso nos ensina que não faz sentido uma espiritualidade vertical que se relaciona com Deus e recebe “benefícios” se não houver o entendimento de que Deus é trino, em comunidade (Pai, Filho e Espírito Santo) e nos abençoa enquanto povo, em comunidades. A salvação e a bênção de Deus nos encontram para que possamos abençoar outras pessoas!
Deus nos encontra para que “...com a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os que estão passando por tribulações.” (1 Co 1:4). Prepare-se para que este Natal seja diferente e que você o celebre também horizontalmente. Seja feliz não somente entre os seus familiares, tendo seus desejos realizados por Deus. Seja feliz abençoando alguém com um abraço, uma visita, uma ajuda, um encorajamento, uma renúncia ou um sacrifício pessoal. Amém!
Ivan Rocha é pastor da Catedral da Reconciliação e advogado