Dia do Gari: categoria celebra conquistas, sem deixar de lado as reivindicações

Capina, varre, coleta, pinta. Sempre tem um gari em ação para manter a cidade limpa, nos finais de semana ou feriados, 24 horas por dia. Em Pernambuco, pelo menos 9 mil profissionais trabalham todos os dias para garantir o funcionamento das cidades, livre do acúmulo de lixo e evitando a proliferação de doenças. E mesmo com a pandemia de covid-19, o serviço - considerado essencial - não parou um dia sequer.

De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Asseio e Conservação e Limpeza Urbana do Estado de Pernambuco (Stealmoaic), desde 2020, a incidência mensal de afastamentos aumentou em 3% entre os profissionais da categoria, por suspeita ou confirmação de casos de covid-19, fruto da exposição nas ruas, inclusive de materiais descartados de forma irregular. O número ultrapassa os afastamentos por problemas na coluna, antes a principal causa de baixas entre os funcionários.

João Antônio Neto, mais conhecido como Café, é um desses profissionais que continuam na labuta. Aos 62 anos, ele sai de casa todos os dias às 4h15 da manhã, em direção ao Centro do Recife, para fazer a varrição do local. Na profissão há 44 anos e já aposentado, ele diz que não pensa em largar o ofício, apesar dos riscos.

“Continuo com a mesma rotina. A diferença é que agora uso a minha máscara e carrego um álcool em gel no bolso. A gente se cuida como pode e pede proteção a Deus, mas eu não penso em parar, não. O trabalho é a minha vida, foi com ele que criei os meus quatro filhos e ajudei os meus pais antes de casar. Gosto da interação com as pessoas na rua e no trabalho também. Se parar, acho que morro mais cedo”, conta o profissional, feliz por já ter tomado a primeira dose da vacina.

O Dia do Gari, neste domingo (16/05), é um motivo de comemoração de conquistas coletivas, como o direito ao ticket para a categoria, mas também é uma data em que as entidades representativas lutam pela inserção dos profissionais na lista prioritária da vacinação contra a covid-19.

O presidente da Força Sindical de Pernambuco, Rinaldo Júnior, lamenta a situação. “Eles estão, muitas vezes, em contato com lixo contaminado. Lidam com todo tipo de exposição e não foram incluídos no Plano Federal de Imunização, apesar de serem considerados trabalhadores de serviço essencial. A maior parte deles está na faixa dos 35 anos, então também não dá para esperar pela vacinação por idade”, afirma.

Já o diretor de Base do Stealmoaic, Rinaldo Lima, pensa que falta um olhar diferenciado por parte do poder público para os profissionais. Ele afirma que o sindicato oferece auxílio médico aos trabalhadores, através de estrutura própria e de convênios, mas que também há articulações junto ao poder público, a exemplo da reivindicação para que os profissionais que foram afastados em virtude da covid-19 tenham garantida a estabilidade da mesma forma que acontece quando sofrem acidentes de trabalho.

“Os garis - sejam dos grupos de coleta, varredura, capinação, bueiros ou da pintura - exercem um papel fundamental para toda a sociedade, sem o qual ninguém conseguiria viver. Precisamos urgentemente reconhecer essa importância e oferecer condições dignas de serviço para que eles continuem atuando”, finaliza.

A origem do nome

O termo surgiu em 1976, quando o francês Pedro Aleixo Gary fundou a primeira empresa de coleta de lixo do Brasil, no Rio de Janeiro. Foi assim que se convencionou chamar os “garis” para que as ruas fossem limpas, sobretudo após a passagem dos cavalos. Do século XIX até os dias atuais, muita coisa mudou, mas uma delas se mantém firme: a importância dos garis para o bem estar social, com a higienização e preservação das cidades.