Em ordem dispersa e, às vezes, de forma polêmica, os europeus iniciam um desconfinamento que promete ser particularmente complexo, ao ritmo de uma epidemia planetária de coronavírus ainda longe de ser interrompida.
Até o momento, a pandemia deixou quase 207.000 mortos para três milhões de infectados em todo mundo, segundo uma compilação feita pela AFP com base em dados oficiais.
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Dada a magnitude da pandemia e em defesa de sua ação, criticada por ser lenta e tendenciosa pelos Estados Unidos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou nesta segunda-feira que não tem "mandato para obrigar os países a seguir seus conselhos".
"O mundo deveria ter ouvido atentamente a OMS porque a emergência global começou em 30 de janeiro", com 82 casos e nenhuma morte fora da China, disse o diretor-geral da OMS Tedros Adhanom Ghebreyesus a repórteres em Genebra.
Na Europa, onde a pandemia deixa mais de 125.000 mortos, a doença começa a parecer sob controle nos quatro países europeus mais afetados: Itália (26.977), Espanha (23.521), França (23.293) e Reino Unido (21.092).
O primeiro-ministro britânico Boris Johnson voltou ao trabalho nesta segunda-feira e, depois de se recuperar do COVID-19, pediu paciência aos cidadãos ao apontar que a curva da epidemia "começa a se inverter" e alertou que os "esforços e sacrifícios dos britânicos" não podem ser desperdiçados, dando espaço para uma "segunda grande epidemia".
O Reino Unido registrou 360 mortes nesta segunda-feira, seu saldo diário mais baixo desde março.
Cabeleireiros abertos na Suíça
Na Espanha, onde nesta segunda-feira foram anunciadas 331 novas mortes, as autoridades afirmam que o país já consegiu achatar a curva de contágios e começou a aliviar no domingo o rigoroso confinamento em vigor desde 14 de março, permitindo que as crianças´possam brincar na rua durante uma hora por dia.
O confinamento foi prorrogado até 9 de maio e, na terça-feira, o governo de Pedro Sánchez apresentará um plano para suspender progressivamente as restrições.
A Noruega reabriu as escolas para crianças nesta segunda-feira. Uma semana após a reabertura da pré-escola, crianças entre seis e dez anos poderão retornar às aulas, embora em salas de aula limitadas a 15 alunos.
Os suíços, por sua vez, poderão voltar aos salões de cabeleireiro graças à reabertura de algumas lojas na segunda-feira, sob a condição de manter as medidas de distanciamento.
Na Alemanha e também na Áustria, grande parte das lojas foi aberta nos últimos dias, com pedidos de "distanciamento social" e a obrigação de usar uma máscara em locais públicos.
Na França, onde 437 novas mortes foram registradas em 24 horas na segunda-feira, o primeiro-ministro Edouard Philippe divulgará, nesta terça-feira, sua "estratégia nacional do plano de saída do confinamento", que deve começar em 11 de maio com a polêmica reabertura de escolas.
A Itália, onde as indústrias estratégicas retomaram suas atividades timidamente nesta segunda, apresentou seu plano de desconfinamento a partir de 4 de maio, mas as escolas permanecerão fechadas até setembro.
Volta às aulas na China
Na China, onde o coronavírus apareceu no final de 2019, estudantes do ensino médio em Pequim e Xangai voltaram às aulas na segunda-feira sob pesadas medidas de segurança, usando máscaras faciais e controles de temperatura, depois de quatro meses de férias após a pandemia.
"Estou feliz, já passou muito tempo desde que vi meus colegas", disse Hang Huan, 18 anos, à AFP em frente à escola secundária Chenjinglun, no leste da capital chinesa. "Senti muita saudade deles".
Em Pequim, apenas os alunos do ensino médio tiveram permissão para voltar às aulas nesta segunda-feira para se preparar para o 'gaokao', o temido vestibular de acesso à universidade.
Em Xangai, os alunos do ensino médio também retomaram as aulas. A maioria das escolas primárias e universidades da China ainda está fechada.
A China conseguiu conter a propagação do vírus, que oficialmente deixou 4.633 mortos no país, mas agora teme uma segunda onda de contaminação com os casos "importados", principalmente dos chineses que retornam ao país.
A Rússia, cada vez mais afetada pelo vírus, anunciou uma próxima reunião por videoconferência dos líderes dos cinco países membros permanentes do Conselho de Segurança.
A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu nesta segunda-feira aos países que respeitem o Estado de Direito, limitando no tempo medidas excepcionais contra o coronavírus para evitar um "desastre" para os direitos humanos.
Bachelet também pediu a Bangladesh que permita a entrada de dois navios com centenas de refugiados muçulmanos rohingya.
Trump fará coletiva de imprensa
A Casa Branca informou segunda-feira que o presidente Donald Trump participará da coletiva de imprensa diária sobre o coronavírus à tarde, horas depois de anunciar o cancelamento da entrevista diária.
Trump não fez sua coletiva de imprensa habitual sobre a situação da saúde no país no domingo, após a chuva de críticas que recebeu por sua recomendação ("sarcástica", segundo ele) de injetar desinfetante no corpo dos pacientes. Os Estados Unidos são de longe o país mais afetado do mundo, com 54.841 mortes no total.
No Peru, onde existem cerca de 730 mortes, o confinamento durará até 10 de maio, mas o presidente Martín Vizcarra criticou o desrespeito às novas regras. "Ainda não há consciência real da magnitude do problema", avaliou o presidente.
No Brasil, o cacique Raoni Metuktire, uma figura importante na luta contra o desmatamento na Amazônia, fez um apelo internacional por doações no domingo, para que os povos indígenas do Brasil possam sobreviver isolados durante a pandemia.
Por seu lado, o mundo muçulmano entrou no quarto dia do Ramadã nesta segunda-feira, mas sem orações coletivas ou refeições compartilhadas, já que as mesquitas estão fechadas e as reuniões familiares proibidas, embora em países como o Paquistão muitos ignorem essas medidas.
A Arábia Saudita suspendeu parcialmente o toque de recolher nesta segunda-feira, exceto na cidade sagrada de Meca.
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