CORONAVÍRUS

Aumento de mortes na Nigéria faz temer expansão da pandemia

A princípio, as autoridades atribuíram o fenômeno a doenças como diabetes, hipertensão e malária, mas os resultados de uma missão oficial concluíram que muitos óbitos estavam relacionados ao coronavírus

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Publicado em 13/05/2020 às 11:17
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Covid-19 já matou milhões de pessoas em todo o mundo - FOTO: KOLA SULAIMON/AFP

O grande aumento no número de mortes inexplicáveis no norte da Nigéria suscita temores de uma forte disseminação do novo coronavírus nessa região, uma das mais pobres do mundo.

No último mês, Kano, a cidade mais populosa do norte, com quase 10 milhões de habitantes, testemunhou centenas de mortes, principalmente entre idosos.

A princípio, as autoridades atribuíram o fenômeno a doenças como diabetes, hipertensão e malária, mas os resultados de uma missão oficial concluíram que muitos óbitos estavam relacionados ao coronavírus.

Na terça-feira, o estado de Kano registrava oficialmente 666 infecções e 32 mortes por COVID-19. É o segundo maior foco na Nigéria, depois de Lagos, no sul.

O número de testes realizados, especialmente no norte, é insignificante. Além disso, nesta região essencialmente muçulmana, as famílias enterram os mortos algumas horas após a morte, sem a possibilidade de necropsia.

Os surtos de "mortes misteriosas" se multiplicam nos estados vizinhos: Jigawa, Yobe e, mais recentemente, na cidade de Azare, no estado de Bauchi, onde uma equipe de epidemiologistas foi enviada após a morte de 110 pessoas, segundo o líder tradicional local, Mahmood Abdullahi.

Kano é o centro nervoso de toda faixa saheliana da Nigéria, o país mais populoso da África, com 200 milhões de habitantes.

No norte, as taxas de pobreza extrema (US$ 1,25 por dia, de acordo com o Banco Mundial) rondam 90% da população em alguns estados como Sokoto, ou Jigawa, segundo os últimos dados oficiais.

O comércio entre estados é muito ativo, e a população se relaciona muito entre si.

"Quando Kano espirra, todo norte fica gripado", resume o dr. Ibrahim Musa, médico local.

Além disso, milhares de crianças desabrigadas foram transportadas de volta para suas aldeias no início do confinamento, levantando temores de que o coronavírus se espalhe pelos estados vizinhos.

O novo coronavírus é um desafio adicional para o serviço de saúde, que carece de materiais e de pessoal.

"Não podemos negar que a COVID-19 causa estragos em Kano e na região, mas as outras epidemias que precederam essa pandemia complicam ainda mais as coisas", explica o dr. Ibrahim Musa.

Essa época do ano, de abril a junho, costuma ser a mais quente, ou seja, a mais propícia à disseminação de doenças presentes na região, como cólera, febre tifoide, meningite e sarampo.

"Já estamos enfrentando várias epidemias, o que explica o número de mortes", diz Sadiq Wali, professor de medicina em Kano.

Os hospitais fecharam as portas para outros pacientes por medo da disseminação do coronavírus, e os profissionais da saúde, sem equipamentos de proteção, relutam em cuidar dos pacientes.

Binta Mohammed, uma moradora de Kano, teve de "assistir" a seu marido morrer de complicações, devido ao diabetes.

"Quatro hospitais particulares se recusaram a vê-lo por medo de que ele tivesse o vírus", contou.

No domingo, o governador de Kano, Abdullahi Umar Ganduje, pediu que os hospitais particulares admitissem e tratassem pacientes que sofriam de outras doenças e distribuiu máscaras faciais e álcool em gel.

O estado de Kano continua a impor medidas de confinamento, mas, nesta cidade extremamente pobre e densamente povoada, elas são impossíveis de aplicar.

A vida continua, quase normalmente durante este período do Ramadã, e os fiéis preferem confiar em Deus e ir à mesquita, apesar das proibições.

"Eles não percebem o terremoto que está por vir", diz Musa.

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O que é coronavírus?

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Como prevenir o coronavírus?

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
  • Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).

Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.

Confira o passo a passo de como lavar as mãos de forma adequada

 

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