O planeta superou nesta quinta-feira (14) a marca de 300 mil mortos pelo novo coronavírus, em meio à tensão na corrida para conseguir uma vacina e a ataques renovados do presidente americano, Donald Trump, contra a China.
Em pleno ano eleitoral, Trump afirmou em entrevista à TV que não descarta romper relações com a China, à qual acusa de ter ocultado detalhes sobre o surto do coronavírus em dezembro, que poderiam, em sua avaliação, ter evitado a morte de centenas de milhares de pessoas.
"Agora mesmo não quero falar com ele", disse Trump, em alusão ao presidente Xi Jinping.
Os Estados Unidos, país mais afetado do mundo pela pandemia, com mais de 85.000 mortes, havia acusado previamente a China de tentar espionar seus pesquisadores dedicados à luta contra o novo coronavírus.
Segundo um balanço da AFP, com base em dados oficiais, o balanço mundial da pandemia às 20h30 GMT (17h30 de Brasília) desta quinta-feira era de 300.140 óbitos e 4.403.714 casos de contágio.
O mundo segue com apreensão e nervosismo pelo caminho do desconfinamento, e os países mais afetados temem, acima de qualquer coisa, uma segunda onda de infecções.
Todos os países sonham com uma vacina que ponha um fim à pandemia.
A gigante farmacêutica francesa Sanofi gerou indignação ao anunciar que se descobrisse a vacina, a distribuiria primeiro nos Estados Unidos, cujo governo se antecipou e se associou às pesquisas, caras e cheias de riscos.
"Os esforços realizados nos últimos meses mostram a necessidade de que esta vacina seja um bem público mundial, alheia às leis do mercado", protestou o presidente francês, Emmanuel Macron.
"O vírus é um vírus mundial", acrescentou a Comissão Europeia, braço executivo da UE.
"O objetivo é que esta vacina esteja disponível ao mesmo tempo em Estados Unidos, França e Europa da mesma forma", declarou o diretor da Sanofi na França, Olivier Bogillot.
Mas, na prática só será possível "se os europeus trabalharem tão rápido quanto os americanos", acrescentou Bogillot.
Atualmente, há mais de cem projetos e uma dezena de testes clínicos vem sendo realizada.
'Pode ser que nunca desapareça'
Levando em consideração os testes que estão sendo realizados atualmente, a existência de uma vacina em um ano é uma previsão "otimista", estimou a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) nesta quinta-feira.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu que o novo coronavírus poderá permanecer para sempre e se tornar uma doença com a qual a humanidade terá que aprender a conviver.
"Este vírus pode se tornar endêmico em nossas comunidades, pode nunca mais desaparecer", mesmo que se descubra uma vacina, declarou o diretor de Emergências Sanitárias da instituição, Michael Ryan.
O nervosismo voltou à China. Em Wuhan, onde a doença surgiu, autoridades ordenaram novos testes de detecção em massa, ante o surgimento de novos casos.
"É uma maneira de ser responsável em relação aos outros e a você", comentou um homem de 40 anos depois de fazer o teste pela segunda vez em 10 dias.
Reabertura de praias em Los Angeles
Enquanto os cientistas correm contra o tempo para encontrar um tratamento, os governos devem impor medidas para conter a disseminação da doença enquanto tentam reativar suas economias. Para isso, muitos países continuam avançando no desconfinamento gradual de suas populações.
Nesta quinta-feira, o Japão anunciou a suspensão do estado de emergência na maioria das regiões do arquipélago, embora permaneça em Tóquio e Osaka.
"Temos a confirmação de que o número de novos casos retrocedeu até os níveis de meados de março, quando as infecções começaram a se propagar", disse o ministro da Economia, Yasutoshi Nishimura.
Na Europa, onde a pandemia já deixou mais de 161.000 mortos, a maioria dos países iniciou uma redução do confinamento.
Segundo país mais atingido do mundo, com mais de 33.000 mortes, o Reino Unido reduziu as restrições na Inglaterra, e a população está autorizada a voltar a trabalhar.
O campeonato de futebol na Alemanha será retomado a portas fechadas neste sábado, e pode ser que britânicos, espanhóis e italianos façam o mesmo em breve.
Nos Estados Unidos, as praias de Los Angeles, fechadas há seis semanas, reabriram parcialmente. Alguns surfistas apareceram. Pegar sol e praticar esportes coletivos continua proibido.
A Covid-19 ganha terreno e provoca nervosismo nos países mais afetados pela doença na América Latina. O Brasil é o país mais atingido da região, com mais de 13 mil mortos.
Na África, a pandemia não causou tanto estrago quanto se antecipava. Oficialmente, o continente registra menos de 2.500 mortos. Há cada vez mais indicações, porém, de que este número é muito menor do que o real.
O aumento significativo de mortes inexplicáveis no norte da Nigéria, o país mais populoso da África, suscita temores de uma grande disseminação do coronavírus nessa região, uma das mais pobres do mundo.
Os 'novos pobres' da Itália
No campo econômico, quase 600.000 pessoas foram demitidas na Austrália em abril devido ao confinamento, o número mais alto em mais de quatro décadas no país.
Já a Alemanha anunciou que este ano deixarão de entrar nos cofres públicos cerca de 100 bilhões de euros por causa da crise, a pior no mundo desde a Grande Depressão dos anos 1930.
Milhões de pessoas que viram sua fonte de renda evaporar tiveram que recorrer à ajuda alimentar.
Nos Estados Unidos, um terço dos desempregados não conseguem pagar as contas, segundo uma pesquisa oficial. Em Cuba, um terço dos negócios privados estão ameaçados pela crise.
Na Itália, primeiro epicentro da pandemia na Europa e que já conta com mais de 30.000 mortes, a desaceleração econômica está deixando muitos "novos pobres". É o caso de "Ana", que reside em Roma, onde trabalhava no setor de limpeza.
Depois de perder sua renda, Ana atravessa toda a cidade em busca da comida distribuída por uma associação de caridade. "Venho aqui de vez em quando, quando a situação se torna difícil. Tenho vergonha", murmura.
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