Desde a morte de um homem negro em Minneapolis até um incidente racista no Central Park, as câmeras de celular são cada vez mais usadas como armas contra o racismo, mesmo que a justiça nem sempre ocorra depois.
Aconteceu com George Floyd, asfixiado na segunda-feira (25) durante sua prisão em Minneapolis, e com Christian Cooper, falsamente acusado no mesmo dia de ameaçar a vida de uma mulher branca no Central Park, em Nova York.
Ambos eram negros, como Ahmaud Arbery, de 25 anos, que foi assassinado em fevereiro, baleado por moradores brancos no bairro onde havia apenas saído para correr, na Geórgia.
“The series of events captured in this video confirm what all the evidence indicated prior to its release— Ahmaud Arbery was pursued by three white men that targeted him solely because of his race and murdered him without justification. This is murder.” pic.twitter.com/v4TAs0RjO7
— S. Lee Merritt, Esq. (@MeritLaw) May 5, 2020
Desde o espancamento de Rodney King pela polícia de Los Angeles, filmado por um cinegrafista amador em 1991, o racismo cotidiano nos Estados Unidos é documentado regularmente em vídeos.
Back in March 1991, a few months before I graduated HS, LA cops beat the hell out of Rodney King. A year later, when a jury found them Not Guilty of police brutality, the LA riots broke out. 63 deaths, 2.4K injuries, 12K arrests & $1 billion in property damage. #GeorgeFloyd pic.twitter.com/1sQ31hoYLa
— Jake Morphonios (@morphonios) May 28, 2020
Mas, há alguns anos, a gravação desses incidentes se tornou mais sistemática.
"A triste realidade é que o que aconteceu com George Floyd, Ahmaud Arbery e Christian Cooper acontece com os negros americanos há gerações", tuitou a senadora Kamala Harris, que é negra e foi candidata às primárias democratas.
"Os celulares só tornaram mais visível", completou.
Os vídeos "lembram que, onde quer que estejam, as pessoas de cor são vulneráveis", afirmou a diretora do Centro de Estudos de Relações Raciais da Universidade da Flórida, Katheryn Russell-Brown.
A generalização das minicâmeras carregadas pelos próprios policiais em serviço durante a última década deu origem à esperança de uma grande mudança.
Após os primeiros estudos com resultados satisfatórios, porém, trabalhos mais recentes e aprofundados mostram que "na maioria dos casos, as câmeras não causam o desejável abandono da força", explicou o pesquisador Daniel Lawrence, do Urban Institute.
Muitos serviços policiais autorizam os agentes a apagar esses registros à vontade, e alguns foram acusados de fazer edições antes de divulgar as imagens publicamente.
"É suficiente?"
A gravação de um incidente parece ser cada vez mais uma ferramenta decisiva, cujo efeito rapidamente se multiplica pelas redes sociais.
"Se não houvesse um vídeo, teríamos acreditado nas testemunhas que viram o ocorrido e pediram aos policiais que parassem?", questionou o diretor do Centro de Pesquisa Antirracista da American University, Ibram Kendi, à rádio Democracy Now.
Embora seja poderosa, essa forma de justiça não deve ser confundida com aquela aplicada pela lei, alertou Russell-Brown, que lembra que calúnia é crime.
Surpreendida com a rapidez com a qual quatro policiais envolvidos no caso de George Floyd foram demitidos, ele apontou, porém, que a justiça não foi feita.
"Foram demitidos. Isso é o suficiente? Não", disse. "Uma pessoa está morta. Agora queremos que o sistema judicial faça o seu trabalho", frisou.
A situação gerou diversas manifestações e noites de violência em Minneapolis. Investigações locais e federais estão em curso, mas sem acusações até o momento.
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