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Chile tem noite de protestos antes de voto chave sobre acesso a fundos previdenciários

No centro de Santiago, um grupo de encapuzados incendiou 20 veículos em uma concessionária, além de um ônibus público

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Publicado em 15/07/2020 às 16:25 | Atualizado em 15/07/2020 às 16:25
Foto: CLAUDIO REYES / AFP
Nesta terça-feira (22), mais três mortes foram confirmadas pelo governo - FOTO: Foto: CLAUDIO REYES / AFP

O Chile viveu uma noite de panelaços, saques e barricadas, após convocações feitas nas redes sociais para apoiar um projeto de lei visando à retirada antecipada de valores depositados em fundos previdenciários. O texto será submetido a votação chave no Congresso nesta quarta-feira, em meio à quarentena.

O barulho das panelas foi sentido com força a partir das 21h locais, por mais de uma hora, em grande parte de Santiago e nas principais cidades do país. Em seguida, houve distúrbios, carros incendiados e barricadas erguidas em diferentes bairros da capital chilena.

Os protestos buscam pressionar pela aprovação de uma lei que possibilite a retirada antecipada de 10% dos valores depositados em fundos previdenciários, cujo debate foi aprovado na semana passada pela Câmara dos Deputados em votação considerada uma "derrota histórica" para a direita da coalizão do governo de Sebastián Piñera.

Segundo pesquisas, a medida conta com o apoio de mais de 80% dos cidadãos, em meio a uma crise econômica sem precedentes após quatro meses de confinamento.

O descontentamento social voltou a ser sentido em Santiago, onde vivem 7,1 milhões dos 18 milhões de chilenos, e que, como capital, concentra a maior parte do PIB do país. Após 55 dias de quarentena total na região metropolitana, a classe média, que arrasta níveis de endividamento acima de 70%, sente a crise em seus lares e não recebeu nenhuma assistência pública direta.

O cenário econômico sombrio se cruza com uma estratégia sanitária que teve tropeços depois de dois meses de aparente êxito, e que deixou o Chile entre os 10 países com mais casos do novo coronavírus.

Violência 

Os distúrbios em bairros periféricos de Santiago foram registrados em meio ao toque de recolher em vigor. Manifestantes ergueram barricadas e saquearam supermercados.

No centro de Santiago, um grupo de encapuzados incendiou 20 veículos em uma concessionária, além de um ônibus público. No total, houve 28 barricadas, 13 saques e dois ataques a quartéis da polícia, que levaram à prisão de 61 pessoas em todo o país, segundo a polícia.

"Nenhuma discussão democrática, nenhuma causa pode justificar atos de violência como os que ocorreram ontem à noite", criticou nesta quarta-feira o ministro do Interior e da Segurança, Gonzalo Blumel.

Dia chave no Congresso 

Os panelaços e barricadas antecederam a votação na Câmara dos Deputados sobre uma retirada antecipada dos fundos previdenciários privados no país, pioneiro em instaurar um sistema de capitalização absolutamente individual, sem o aporte dos empregadores, em plena ditadura de Augusto Pinochet (1973 - 1990).

A Câmara aprovou na semana passada legislar sobre a iniciativa, e debate agora, em particular, os artigos do projeto, antes da sua revisão pelo Senado. Se ela for rejeitada, o projeto será arquivado, um resultado adverso para grande parte da opinião pública.

O presidente Sebastián Piñera se opôs à iniciativa e alertou que a mesma prejudicará as aposentadorias dos chilenos. Para evitar a sua aprovação, ele anunciou novas medidas nesta terça-feira, dentro de um plano de apoio à classe média, fortemente afetada pela pandemia.

Piñera concedeu um bônus de transferência direta de cerca de US$ 630 para trabalhadores de classe média ou desempregados que tivessem um certo nível de renda formal antes da pandemia, além de um crédito solidário de até US$ 2.400, adiamento dos aluguéis e créditos estudantis.

 

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