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Twitter investiga ataque em massa que gera debate sobre segurança cibernética

Mensagens apareceram nas contas de vários usuários com grande notoriedade

AFP
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Publicado em 16/07/2020 às 19:29 | Atualizado em 16/07/2020 às 19:31
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REDE Pressionada, empresa disse ter o desafio de não arbitrar a verdade - FOTO: DIVULGAÇÃO

Os primeiros elementos da investigação sobre a pirataria de que foi vítima o Twitter na quarta-feira (15) apontam a um espião e suscitam várias dúvidas sobre a integridade das eleições presidenciais americanas ou a segurança da conta de Donald Trump, que tem a intenção de se manter ativo na rede social. As mensagens, que foram em sua grande maioria apagadas, apareceram nas contas de vários usuários de grande notoriedade.

A conta do presidente Donald Trump, permanentemente usada pelo chefe de Estado e que tem 83,5 milhões de seguidores, não foi afetada.

A porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, afirmou que "o presidente permanecerá no Twitter" e assegurou que a Presidência não está preocupada com as vulnerabilidades da rede social, descobertas na quarta.

Entre as contas atacadas, estão as de personalidades políticas de primeiro plano, como o candidato democrata à Presidência, Joe Biden, o ex-presidente Barack Obama e o ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg.

Também tiveram as contas invadidas o fundador da Microsoft, Bill Gates, e os diretores-executivos da Tesla, Elon Musk, e da Amazon, Jeff Bezos.

Os textos convidavam os seguidores a enviarem em 30 minutos 1.000 dólares em bitcoins para receber a quantia duplicada.

"Detectamos o que acreditamos ter sido um ataque tecnológico coordenado por indivíduos que atacaram com êxito alguns de nossos funcionários que tinham acesso a nossos sistemas e ferramentas internas", explicou o Twitter.

"Foi um dia duro para nós", admitiu no Twitter o CEO da rede social, Jack Dorsey.

"Todos nos sentimos muito mal com o que aconteceu. Estamos fazendo um diagnóstico e vamos compartilhar tudo o que for possível assim que entendermos melhor o que aconteceu exatamente", completou.

O site Blockchain.com, que monitora as transações em criptomoedas, afirmou que 12,58 bitcoins, equivalentes a 116.000 dólares, foram enviados ao endereço de e-mail mencionado nos tuítes da fraude.

A pouco mais de três meses para as eleições presidenciais, a segurança cibernética nas redes sociais se tornou um dos principais tópicos de debate.

Poucas horas antes do ataque de quarta-feira, o Comitê de Supervisão e Reforma da Câmara dos Representantes solicitou a nomeação de um super-agente nacional de segurança cibernética.

Reflexo do crescente papel das redes sociais na vida pública, essas plataformas tornaram-se ferramentas geopolíticas essenciais, especialmente em tempos de crise.

"Para os tomadores de decisões dos EUA, o Twitter apresenta um pequeno paradoxo", dizem Heather Williams e Alexi Drew, autoras de um livro recentemente publicado que aborda o lugar da rede social na diplomacia.

"Por um lado, os tuítes dos funcionários do governo podem ajudar a moldar a narrativa pública americana e proporcionar um maior entendimento da tomada de decisões dos Estados Unidos para reduzir a percepção equivocada dos estrangeiros", escreveram.

Mas também "os tuítes podem aumentar a percepção equivocada e semear a confusão durante a crise, criando incentivos de escalada em um adversário", alertaram as especialistas.

Contas verificadas

O Twitter anunciou que bloqueou as contas afetadas e eliminou os tuítes publicados pelos 'hackers'. Nem a conta de Trump, com 83,5 milhões de seguidores, nem a da Casa Branca foram atacadas.

"A conta do presidente já havia sido eliminada por um funcionário independente do Twitter há vários anos e parece que colocaram um monte de proteções ao redor da mesma", disse o ex-chefe de segurança do Facebook, Alex Stamosn, à CNBC.

Em novembro de 2017, um funcionário do Twitter desativou a conta de Trump por 11 minutos.

A revista Vice informou que alguém dentro do Twitter estava por trás do hackeamento, com base em capturas de tela que vazaram, enquanto duas fontes anônimas reivindicaram responsabilidade pelo ataque cibernético. Uma delas afirmou à Vice que um funcionário do Twitter recebeu um pagamento.

O senador americano Josh Hawley tuitou uma mensagem para Dorsey expressando seus temores pela privacidade dos milhões de usuários da empresa com sede em São Francisco.

"Me preocupa que este evento possa representar não apenas um conjunto coordenado de incidentes de invasão feitos separadamente, mas também um ataque bem-sucedido à segurança do Twitter".

Logo após a invasão, as ações da empresa caíram em Wall Street nas trocas eletrônicas após o fechamento.

Falhas repetidas

O tuíte postado na conta do bilionário sul-africano Elon Musk, fundador da Tesla e da SpaceX, dizia: "Feliz quarta-feira! Eu estou devolvendo bitcoin a todos meus seguidores. Eu dobrarei todos os pagamentos enviados ao endereço Bitcoin abaixo".

As contas do cofundador da Microsoft Bill Gates, do CEO da Amazon Jeff Bezos, do ex-prefeito de Nova York Mike Bloomberg também publicaram mensagens similares.

Os fraudadores também hackearam as contas da Apple e Uber, além de outras empresas que negociam bitcoins. O Twitter já foi atacado por piratas cibernéticos no passado.

Em março de 2017, as contas da Anistia Internacional, do Ministério da Economia da França e o serviço norte-americano da BBC foram supostamente hackeadas.

Em agosto do ano passado, insultos e mensagens racistas foram publicados na conta pessoal de Jack Dorsey, fundador do Twitter, sem seu conhecimento.

Mas o ataque de quarta-feira parece estar em uma escala completamente diferente e levantou muitas questões a quase três meses das eleições presidenciais dos Estados Unidos, quando os problemas de segurança cibernética devem ter destaque.

 

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