A pandemia de COVID-19, que inicialmente progrediu mais lentamente na África do que em outras regiões do mundo, agora está acelerando no continente mais pobre, uma fonte de preocupação para a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo dados compilados pela AFP, cerca de 860.000 casos foram registrados em todo o continente, com pelo menos 18.000 mortes.
Os números ainda são baixos se comparados à Europa ou aos Estados Unidos, mas o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, expressou recentemente sua preocupação com a "aceleração" da epidemia na África, onde os sistemas públicos de saúde são precários.
As medidas precoces e rigorosas de confinamento "permitiram retardar a progressão" da doença na África, observa Mary Stephens, especialista do escritório regional da OMS na África, questionada pela AFP.
Mas o pico da pandemia está chegando, alertou, já que muitos países relaxaram as restrições para evitar o colapso de suas economias.
Aqui está uma atualização sobre a situação nos principais países:
A África do Sul é de longe o país mais afetado do continente, com mais de 450.000 casos, incluindo 7.067 mortes. Globalmente, ocupa o quinto lugar entre os países com o maior número de contaminações.
A taxa de mortalidade permanece baixa (1,6% dos casos). Mas esse dado poderia estar grosseiramente subestimado. Segundo pesquisadores, cerca de 17.000 mortes adicionais, não contabilizadas entre as mortes da COVID-19, foram registradas desde o início de maio, em comparação com o mesmo período do ano passado.
O ministro da Saúde, Zweli Mkhize, alertou que "o pico (da pandemia) será em julho, agosto e setembro".
O país impôs um dos mais rígidos confinamentos do mundo no final de março, antes de aliviá-lo.
Diante da explosão de contaminações, as escolas voltaram a ser fechadas por um mês e um toque de recolher noturno foi restabelecido.
A Nigéria, com 200 milhões de habitantes, é o segundo país mais afetado da África Subsaariana, com mais de 41.000 casos, incluindo pelo menos 860 mortes. No entanto, os números podem estar muito subestimados por falta de testes disponíveis. O país realiza apenas 3.000 testes diários, cerca de um décimo do número de testes realizados na África do Sul, que tem um quarto da população nigeriana.
"Para cada caso identificado, outros nos escapam porque não podemos testar todos", admitiu Sani Aliyu, chefe da força-tarefa encarregada de combater o vírus.
Na capital econômica Lagos, epicentro da pandemia na Nigéria, haverá em breve um problema de espaço para isolar os pacientes, alertou a autoridade municipal de saúde, Akin Abayomi.
O número de casos no Quênia triplicou em um mês, com quase 18.000 infecções confirmadas, incluindo 285 mortes.
Sob pressão do setor privado, o país suspendeu recentemente a proibição de sair ou ir para Nairobi e Mombasa (leste), os principais focos da epidemia.
Mas na segunda-feira, o presidente Uhuru Kenyatta anunciou uma proibição da venda de álcool em restaurantes e uma extensão de um mês do toque de recolher noturno para conter a propagação "agressiva" da COVID-19.
As escolas primárias e secundárias só serão reabertas em janeiro de 2021.
Camarões, que não impôs um confinamento estrito, é o país da África Central mais afetado, com mais de 16.000 casos.
"O primeiro pico da epidemia ocorreu entre o final de junho e o início de julho", segundo Yap Boum, representante para a África do Epicentro, o ramo de pesquisa e epidemiologia da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF). Mas "isso não significa que a pandemia acabou, não!", insiste.
O presidente Andry Rajoelina elogia as virtudes, segundo ele, preventivas e curativas de um chá de ervas contra a COVID-19, à base de artemísia. No entanto, nenhum estudo científico confirmou sua eficácia. O chá de ervas tem sido amplamente distribuído gratuitamente no país, mas o número de contaminações continua a aumentar (9.690, incluindo 91 mortes).
Djibuti, um Estado com um milhão de habitantes, é o segundo país mais afetado da África Oriental em termos de número de casos (mais de 5.000 infecções). O governo explica esses números por sua forte capacidade de testar (mais de 5% da população) e por sua política agressiva de localizar pacientes.
A Tanzânia está entre os poucos países do mundo que negam a gravidade do vírus. No final de abril, publicou seus últimos números, relatando 509 casos. O presidente John Magufuli diz que não há mais contaminação. "É por isso que não usamos a máscara. Você acha que não temos medo de morrer? É porque não há COVID", afirmou na segunda-feira.