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Hong Kong inicia campanha de detecção do coronavírus afetada por desconfiança na China

A desconfiança pode ser o maior inimigo do projeto

AFP
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Publicado em 01/09/2020 às 12:43
ANTHONY WALLACE/AFP
A população terá de se acostumar com o novo normal - FOTO: ANTHONY WALLACE/AFP

Hong Kong iniciou nesta terça-feira (1) uma campanha de detecção do novo coronavírus gratuita e voluntária, mas o sucesso do projeto pode ser afetado pela desconfiança provocada pela participação de médicos e empresas da China continental.

Desde a abertura das inscrições no sábado, mais de 650.000 pessoas se registraram, o que representa quase 9% dos 7,5 milhões de habitantes de Hong Kong.

Quase 80.000 pessoas, incluindo membros do governo, foram submetidas ao teste durante a manhã, anunciou a chefe do Executivo local, Carrie Lam.

"Ajudará Hong Kong a sair ilesa da pandemia e é propício para a retomada das atividades diárias", afirmou Lam à imprensa.

As autoridades de saúde esperam detectar os pacientes assintomáticos com o objetivo de terminar com uma terceira onda da epidemia, que obrigou a cidade a impor drásticas restrições há algumas semanas.

Especialistas da área de saúde que aconselham o governo advertiram que cinco milhões de pessoas precisam fazer o teste para que a cidade tenha condições de controlar as transmissões comunitárias ocultas e frear a terceira onda de contágios.

Hong Kong registra 4.800 casos desde que o vírus chegou à ex-colônia britânica no fim de janeiro, mas 75% das infecções foram detectadas desde julho.

"Estou fazendo por mim e pelos outros", declarou à AFP Winnie Chan ao entrar em um centro de testes. "Confio e dou apoio à política do governo", completou.

Outras pessoas afirmaram, porém, que não pretendem participar do programa.

"Acho que é uma perda de tempo. O governo não pode me convencer da efetividade do programa de testes", disse Emily Li à AFP.

 

O principal problema é a desconfiança do governo local e de Pequim pelo temor de uso dos dados compilados. A participação de três empresas e de médicos da China continental provocaram as dúvidas.

O Executivo local afirma que os exames seguem parâmetros internacionais e que as preocupações com coleta de DNA são "absolutamente infundadas".

"As mostras não serão levadas para a China continental para análise", insistiu o governo, que ameaçou processar quem divulgar boatos.

O Escritório de Assuntos de Hong Kong e Macau chamou as pessoas contrárias aos testes de "radicais antichineses" que "desprezam" a saúde pública.

A sociedade de Hong Kong está profundamente dividida entre grupos favoráveis e contra Pequim. A ex-colônia britânica sofreu em 2019 sua crise política mais grave desde a devolução em 1997, com manifestações quase diárias contra a interferência de Pequim.

O magnata dos meios de comunicação Jimmy Lai, que foi detido recentemente com base na polêmica lei de segurança nacional, afirmou no Twitter que não comparecer ao teste é um ato de "resistência passiva".

A cidade, densamente habitada, adotou medidas para lutar contra o coronavírus, como o distanciamento social.

 

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