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Alemanha afirma que opositor russo foi envenenado e exige explicações

O governo alemão disse que informará os parceiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e da União Europeia sobre suas descobertas e buscará uma reação conjunta sobre o caso

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Publicado em 03/09/2020 às 8:02 | Atualizado em 03/09/2020 às 8:03
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O líder opositor russo, Alexei Navalny, passou mal a bordo de um avião na Sibéria, no mês passado. Inicialmente, foi atendido em um hospital local, antes de ser transferido de avião para a capital alemã. - FOTO: Foto: AFP / Mladen ANTONOV

A Alemanha afirmou, nesta quarta-feira (2), que tem "provas inequívocas" de que o opositor russo Alexei Navalny foi envenenado, e exigiu que a Rússia apresente explicações "urgentes" sobre o caso.

Navalny, que está hospitalizado em estado grave em um hospital de Berlim, após uma transferência da Rússia, foi envenenado com um agente tóxico nervoso "do tipo Novichok", um "incidente chocante", afirmou o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, em um comunicado.

"O governo [alemão] condena firmemente este ataque. Exigimos que o governo russo forneça esclarecimentos sobre o incidente", acrescentou.

As análises realizadas pelo Exército alemão em consulta com o Hospital da Charité de Berlim, onde Navalny está internado, encontraram "provas inequívocas de um agente químico nervoso da família do Novichok", declarou Seibert.

Este agente nervoso já havia sido usado contra o ex-agente duplo russo Serguei Skripal e sua filha Yulia em 2018 na Inglaterra, de acordo com as autoridades britânicas. O caso gerou uma crise diplomática entre Londres e Moscou.

Foram os minuciosos exames realizados por um laboratório do exército alemão que permitiram detectar a presença dessa substância no organismo de Navalny.

O líder opositor russo, de 44 anos, passou mal a bordo de um avião na Sibéria, no mês passado. Inicialmente, foi atendido em um hospital local, antes de ser transferido de avião para a capital alemã.

O Hospital da Charité anunciou "certa melhora" no estado de Navalny que, no entanto, permanece em coma e com um respirador.

O estabelecimento médico acrescentou que ainda é "muito cedo para avaliar os efeitos de longo prazo desta grave intoxicação".

Os resultados dos exames mostraram que Navalny foi de fato "vítima de um crime", com a intenção de "silenciá-lo", denunciou a chanceler alemã, Angela Merkel, em nota à imprensa.

"Perguntas muito sérias estão sendo feitas agora, que apenas o governo russo pode e deve responder", advertiu a chanceler.

"O crime contra Alexei Navalny é contrário aos valores e direitos fundamentais que defendemos", insistiu Merkel, cujo país detém a presidência do Conselho da União Europeia.

A Rússia afirmou, por sua vez, que está "pronta" para cooperar com a Alemanha.

"Os resultados de várias expertises realizadas no âmbito das investigações preliminares não revelaram qualquer substância venenosa ou intoxicante potente no corpo de Navalny", sustentou, porém, uma fonte da polícia russa citada pela agência estatal Tass.

No Twitter, o diretor do Fundo de Luta contra a Corrupção criado por Navalny, Ivan Jdnaov, comentou que o Estado russo é o "único" ator que tem a possibilidade de recorrer a um agente neurotóxico como o Novichok.

"Apenas o Estado (FSB, GRU) pode recorrer ao Novichok. Vai além de qualquer dúvida razoável", afirmou ele, citando as siglas de agências da comunidade russa de Inteligência.

O embaixador russo em Berlim foi "convidado com urgência" ao ministério das Relações Exteriores alemão, informou o chefe da diplomacia Heiko Maas.

Berlim enviou uma "mensagem clara" e instou-o a esclarecer o envenenamento de Alexei Navalny, agora comprovado, "nos mínimos detalhes e com total transparência", disse Maas, que deseja "que os responsáveis na Rússia sejam identificados e levados à justiça".

A Alemanha também manterá "os seus parceiros na União Europeia e na OTAN informados dos resultados da investigação" com vista a uma "resposta conjunta apropriada".

UE, OTAN, Washington, Paris e Londres já haviam pressionado Moscou nesta questão. Mas, até então, o Kremlin considerava prematuras as conclusões apontando na direção de uma ação criminosa.

Nesta quarta-feira à noite, o Reino Unido pediu à Rússia que "diga a verdade", considerando o uso de uma "arma química proibida absolutamente inaceitável". A União Europeia denunciou "um ato desprezível e covarde".

Os Estados Unidos ficaram "muito preocupados" com os resultados dos testes alemães e a OTAN pediu uma investigação.

"A Rússia já usou o agente nervoso Novichok no passado", enfatizou o Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.

O Canadá afirmou que "as autoridades russas devem explicar o que aconteceu" e classificou o uso de armas químicas de "horrível e inaceitável".

O governo alemão também planeja "contatar a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ)", uma vez que agentes do tipo Novichok são banidos por esta organização.

Este caso traçou paralelos com dois supostos envenenamentos no Reino Unido relacionados ao Kremlin.

Em 2006, o presidente Vladimir Putin foi acusado pela morte por envenenamento do ex-agente do KGB Alexander Litvinenko, em Londres.

Em 2018, o Kremlin foi novamente acusado de estar por trás da tentativa de assassinato do ex-agente duplo Serguei Skripal em Salisbury, no sudoeste da Inglaterra, usando a substância nervosa Novichok.

O governo alemão disse que informará os parceiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e da União Europeia sobre suas descobertas e buscará uma reação conjunta sobre o caso.


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