PANDEMIA

Europa deve se preparar para pandemia 'mais dura' nos próximos meses

O alerta foi feito por um diretor da Organização Mundial da Saúde, nesta segunda-feira (14)

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Publicado em 14/09/2020 às 19:45 | Atualizado em 14/09/2020 às 19:45
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Diante da multiplicação de focos da doença em todo o mundo, os países voltam a impor fortes medidas de contenção. - FOTO: SEBASTIEN BOZON / AFP

A pandemia de coronavírus vai se agravar na Europa nos próximos dois meses e a mortalidade vai aumentar, alertou nesta segunda-feira (14) um diretor da Organização Mundial da Saúde, um dia após o mundo registrar um recorde de contágios diários.

"Vai ser mais duro. Em outubro, em novembro, vamos observar uma mortalidade mais elevada", afirmou em uma entrevista à AFP o médico belga Hans Kluge, diretor para a Europa da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Diante da multiplicação de focos da doença em todo o mundo, os países voltam a impor fortes medidas de contenção.

A Inglaterra, por exemplo, adotará restrições às reuniões sociais, enquanto Israel voltará a impor um confinamento nacional a partir do fim de semana.

A Europa registra atualmente uma aceleração dos contágios, sobretudo na Espanha e na França, embora a taxa de mortalidade permaneça estável, segundo a OMS Europa.

No domingo, um novo recorde de contágios foi alcançado com 308.000 novos casos.

Segundo Kluge, a descoberta de uma vacina contra o vírus não vai encerrar a pandemia. "Escuto o tempo todo: 'a vacina será o fim da epidemia'. Com certeza não", afirmou.

"Não sabemos se a vacina vai ser eficaz para todos os setores da população. Recebemos alguns sinais de que será eficaz para alguns, mas não para outros", acrescentou.

O alto-funcionário da OMS pediu que se privilegie medidas específicas de combate à propagação do vírus, ao invés da imposição de confinamentos generalizados para frear a contaminação.

Como na Inglaterra, onde a partir desta segunda-feira serão proibidas reuniões com mais de seis pessoas. A medida, que não afeta as demais regiões do Reino Unido, será aplicada em locais fechados e abertos, com exceção de escolas, locais de trabalho, casamentos e funerais.

A partir de terça-feira, em Birmingham, a segunda cidade mais populosa do Reino Unido, não serão autorizados encontros entre amigos ou familiares, anunciaram as autoridades locais.

Na Áustria, o uso obrigatório da máscara foi estendido a lojas e prédios públicos diante do "início de uma segunda onda", nas palavras do chanceler Sebastian Kurz.

Volta às aulas na Itália

O coronavírus contaminou mais de 29,1 milhões de pessoas no mundo e é responsável por cerca de 925.000 mortes, de acordo com uma recontagem da AFP elaborada com dados oficiais.

Na Itália, outro país europeu muito afetados pelo vírus, com mais de 35.500 mortes e mais de 280.000 infecções, cerca de 5,6 milhões de alunos voltaram às salas de aula nesta segunda-feira, após seis meses de fechamento.

O país anunciou medidas sanitárias para permitir o retorno: o uso de máscaras, das quais o governo fornecerá cerca de 11 milhões de exemplares diários para professores e alunos, a repetida lavagem das mãos, possível graças aos 170 mil litros de álcool em gel prometidos semanalmente pelas autoridades, e o distanciamento social, possibilitado pela construção de 5.000 novas salas e a expansão de outras 5.000.

Do outro lado do Atlântico, na Venezuela, as aulas presenciais não serão retomadas até o próximo ano.

"Sem dúvida, o retorno presencial às aulas não é favorável para o controle da pandemia, por isso não há retorno presencial na Venezuela e veremos se voltaremos em janeiro", disse o presidente Nicolás Maduro, acrescentando que a educação continuará à distância.

A região da América Latina e Caribe é a mais afetada pelo vírus, com quase 310.700 mortes e 8,3 milhões de infecções, de acordo com um balanço da AFP.

O Brasil é de longe o país mais afetado do continente, com 131.625 mortes e 4,3 milhões de infecções.

Confinamento em Israel

Globalmente, apenas os Estados Unidos superam o Brasil. A maior potência mundial contabiliza mais de 194.080 mortes e 6,5 milhões de infecções, de acordo com a Universidade Johns Hopkins.

Os números não impediram, no entanto, que o presidente Donald Trump realizasse um comício no domingo em um complexo em Nevada (sudoeste), iniciativa que indignou autoridades locais, já que não são autorizadas reuniões de mais de 50 pessoas neste estado.

Os Estados Unidos flexibilizaram nesta segunda-feira o alerta para viagens à China, reconhecendo que o gigante asiático teve avanços na luta contra a covid-19, apesar das frequentes críticas do governo de Donald Trump por seu papel na pandemia.

O Departamento de Estado, que antes recomendava aos cidadãos que não viajassem à China, agora pede aos americanos que reconsiderem caso planejem uma viagem ao país que deu origem ao vírus.

Apesar dos surtos da doença em muitos países, os governos estão tentando evitar medidas de contenção rígidas, que têm provocado estragos nas economias.

Em Israel, entretanto, as autoridades decidiram retomar um confinamento nacional por três semanas, para tentar conter a alarmante disseminação do vírus. O país, com nove milhões de habitantes, tem 153.217 casos e 1.103 mortes.

A medida entrará em vigor na sexta-feira, véspera dos feriados judaicos de Rosh Hashanah e Yom Kippur, quando as famílias se encontram e os fiéis se reúnem nas sinagogas.

Falta de preparação

Apesar dos meses de luta contra o coronavírus, o mundo carece de preparação diante de uma próxima pandemia, alertou um painel internacional de especialistas.

"Se não forem aprendidas as lições da covid-19 ou se não agirmos com os meios e o compromisso necessário, a próxima pandemia -que é uma certeza- será ainda mais devastadora", alertou o Conselho de Supervisão da Preparação Global (GPMB), um órgão independente criado em 2018 pela OMS e pelo Banco Mundial.

"O impacto da covid-19 é ainda pior do que havíamos previsto e as medidas que recomendamos no ano passado ainda não foram tomadas", lamentou Gro Harlem Brundtland, copresidente do Conselho e ex-chefe da OMS.

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