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Estudante australiano é alvo da ira de Pequim

Os países estão em conflito

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Publicado em 16/09/2020 às 15:03
LUISI MARQUES/JC IMAGEM
Bandeira da China, na muralha da China - FOTO: LUISI MARQUES/JC IMAGEM

Um estudante australiano de 21 anos, com pouca atividade nas redes sociais e que nunca pisou na China, tornou-se surpreendentemente alvo das críticas de Pequim, em um momento em que as relações entre os dois países se deterioram.

Quando um porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores atacou Drew Pavlou, pessoalmente, em uma coletiva de imprensa, a campanha contra ele ganhou uma dimensão enorme.

Este jovem de 21 anos entrou na mira de Pequim ao organizar um pequeno protesto contra as políticas praticadas pelo governo chinês em julho de 2019, na universidade australiana de Queensland, onde estudava.

Desde então, "The Global Times", um tabloide nacionalista chinês, publica uma série de artigos contra o rapaz. Descrito como um "encrenqueiro contra a China", ele é apresentado como a personificação do racismo contra os chineses na Austrália.

O estudante de Filosofia afirma ter sido alvo de ameaças de morte, após ser rotulado de "separatista" por representantes chineses em seu país.

Em agosto passado, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China perguntou a ele sobre uma foto que viralizou na Internet, na qual um diplomata chinês caminha sobre as costas de habitantes do Kiribati, um pequeno país insular do Pacífico. Pavlou foi acusado de ter divulgado a imagem.

"Esta pessoa sempre esteve contra a China por razões políticas", disse o porta-voz, embora o jovem não tenha sido o autor da foto, nem o primeiro a divulgá-la.

O estudante afirma estar "profundamente chocado" com essas declarações.

"É muito estranho que uma superpotência aponte para um estudante australiano de 21 anos, um australiano que é fundamentalmente muito estúpido e faz muitas estupidezes", disse Pavlou à AFP.

Ele também foi acusado de racismo depois de ter postado, no início da pandemia de coronavírus, em frente ao Instituto Confúcio de sua universidade - financiado pela China -, uma imagem segurando um cartaz que dizia "risco biológico covid-19".

 

Hoje, Pavlou diz que se arrepende da postagem, mas sustenta que não entende por que permanece na mira de Pequim.

Uma explicação seria que o jovem tocou em um ponto sensível.

Além de acusar Pequim de repressão em Hong Kong, Xinjiang e Tibet, Pavlou também colocou os holofotes nas relações entre universidades australianas e chinesas.

Esses laços agora estão sob investigação por parte das autoridades australianas, que temem que o fluxo de dinheiro chinês possa ter comprometido o interesse nacional.

A diretora da seção australiana da Human Rights Watch (HRW), Elaine Pearson, destacou que isso atraiu mais a atenção de Pequim, particularmente "sensível", sobre o jovem.

Em maio passado, após uma audiência a portas fechadas, Pavlou foi expulso da universidade por dois anos. Em apelação, este prazo foi reduzido para até o final de 2020.

O estudante decidiu processar a universidade, seu reitor e vice-reitor, exigindo 3,5 milhões de dólares australianos (cerca de US$ 2,61 milhões) pela ruptura do contrato e por difamação.

A universidade tem sido muito criticada por sua gestão deste caso. O ex-primeiro-ministro Kevin Rudd chegou a afirmar que é como "se ajoelhar diante de Pequim".

Em 2019, cerca de 182.000 estudantes chineses se matricularam em universidades australianas, o que representa uma verdadeira e inesperada fonte de renda para a economia do país.

Uma porta-voz da Universidade de Queensland negou qualquer "motivação política" nas ações contra Pavlou.

Este último, que não parece sentir-se intimidado por Pequim, afirma que nunca "quis ser um ativista político" e se limitou a organizar uma única manifestação "para perturbar o campus".

 

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