Líbano e Israel, países vizinhos oficialmente em guerra, iniciaram nesta quarta-feira discussões técnicas para delimitar sua fronteira marítima e levantar obstáculos à exploração de hidrocarbonetos, em uma segunda rodada de negociações inéditas sob os auspícios de Washington e da ONU.
As negociações entre as delegações libanesa e israelense estão programadas para durar até quinta-feira. A sessão de quarta-feira terminou ao meio-dia após uma reunião de quatro horas na sede da ONU em Naqura, uma cidade ao sul do Líbano na fronteira com Israel, informou a Agência Nacional de Informação Libanesa (ANI).
Após vários anos de esforços diplomáticos dos Estados Unidos nos bastidores, Líbano e Israel anunciaram no início de outubro o lançamento dessas negociações, "históricas" segundo Washington.
A mediação agora é garantida por um alto funcionário americano, John Desrocher.
O Líbano insiste na natureza "técnica" e não política das discussões, deixando claro que se trata de discussões "indiretas", o que significa que as duas equipes não dialogam.
Helicópteros da Unifil, força da ONU posicionada na linha que serve de fronteira terrestre entre os dois países, sobrevoaram o setor de sua base fechado por postos de controle onde os negociadores se encontram.
A disputa marítima entre os dois países cobre uma área de 860 km2.
As negociações são cruciais para o Líbano, cuja economia está em crise e depende da exploração marítima de hidrocarbonetos.
Os libaneses chegaram na quarta-feira com "mapas e documentos mostrando os pontos de contenção", de acordo com a agência ANI.
Para o governo israelense, o objetivo é "examinar a possibilidade de um acordo sobre a demarcação da fronteira marítima para permitir o desenvolvimento dos recursos naturais", segundo nota divulgada na terça-feira.
"A sessão do dia é a primeira técnica, devem começar as discussões detalhadas sobre a demarcação", prevê Laury Haytayan, especialista em boa governança de recursos de hidrocarbonetos no Oriente Médio.
Para Haytayan, o Líbano pensa em "exigir o máximo que puder obter", e planeja até ir "além dos 860 quilômetros quadrados" em discussão. Isso incluiria o campo de gás natural Karish, atualmente explorado por Israel.
Há um ano, o Líbano sofre uma recessão econômica acompanhada por uma desvalorização da moeda nacional e um aumento da pobreza. A comunidade internacional se recusa a liberar qualquer ajuda financeira sem a adoção de reformas.
Apesar deste contexto terrível, as autoridades "querem enviar um sinal aos libaneses, e às negociações israelenses e americanas, de que eles não estão na mesa de negociações em uma posição de fraqueza", enfatiza Haytayan.
De acordo com a ONU, as negociações sobre a fronteira terrestre serão conduzidas separadamente, no âmbito dessas reuniões.
Estas negociações acontecem em um contexto regional de fortes tensões no Mediterrâneo Oriental, por causa dos hidrocarbonetos e do limite das fronteiras marítimas, com a Turquia, a Grécia e o Chipre no centro das disputas.
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