NUDEZ FEMININA

Apesar de mudança em política do Instagram sobre nudez, fotógrafa acredita que continuará havendo censura

Para Maria Ribeiro, o conteúdo para consumo masculino continuará imune e o trabalho de artistas como ela continuará sendo censurado

Carolina Fonsêca
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Carolina Fonsêca
Publicado em 29/10/2020 às 19:53 | Atualizado em 29/10/2020 às 19:53
MARIA RIBEIRO
A fotógrafa Maria Ribeiro tem seu trabalho censurado pelo Instagram por mostrar o corpo feminino sem roupas. - FOTO: MARIA RIBEIRO

Na última terça-feira (27), o Instagram anunciou a atualização da sua política sobre nudez, principalmente em relação a fotos exibindo seios femininos, após uma campanha lançada por uma modelo plus-size que acusou as regras de serem discriminatórias. A mudança nesta política coloca em evidência a relação das redes sociais, da sociedade e também da publicidade com a nudez e o corpo das mulheres. 

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Entretanto, a atualização da política da rede social não convenceu como "mudança" para alguns usuários. É o caso da fotógrafa, cineasta e ativista Maria Ribeiro. Maria alia a fotografia e o feminismo para emancipar mulheres. Atualmente trabalha com vivências fotográficas que são rituais criados por ela, dentro um processo de pesquisa feito durante quatro anos, para criar um ambiente onde a mulher se sinta com autonomia sobre o próprio corpo, a própria narrativa, "para que ela se encontre com esse corpo, faça as pazes com esse corpo". Em sua conta do Instagram, a fotógrafa compartilha alguns dos seus cliques, onde os corpos das mulheres não estão vestidos em roupas, mas em autonomia e em protagonismo feminino. Nessa relação de desconstruir o "mito da beleza", as fotos feitas por Maria foram censuradas pelo Instagram.

"A censura do Instagram sempre foi um problema porque a gente vê claramente que não é só aplicar as regras do Instagram. Toda vez que a nudez não está ali empacotada e sexualizada para consumo masculino, ela incomoda. Tanto que você vê um monte de contas pornográficas no Instagram que nunca sofrem com a censura, enquanto que as artistas mulheres que trabalham com uma imagem respeitosa e onde a mulher tem propriedade, identidade e personalidade, a gente tá sempre sofrendo com essa censura - ele [o Instagram] não entrega mais o nosso conteúdo, shadowban e tudo isso", afirmou Maria. 

Segundo a rede, com a atualização da política seios sendo apertados não serão autorizado, já que isso costuma ser associado a conteúdo pornográfico "mas sabemos que cometemos erros na forma como isto é aplicado, especialmente em relação à comunidade plus-size", declarou um porta-voz da rede em comunicado enviado à agência de notícias AFP. Com a atualização, conteúdo em que uma pessoa abraça ou apenas segura os seios será autorizado.

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O trabalho de Maria Ribeiro é resultado, também, de sua reflexão sobre o "mito da beleza". "Quando me formei, fui trabalhar com publicidade e tive contato com os bastidores da criação dos padrões estéticos que a gente consome enquanto sociedade, padrões que não existem e que fazer com que as mulheres se odeiem com todas as repercussões que isso tem. Então eu quis fazer algo que questionasse todas essas práticas e fiz o meu primeiro projeto, que é o 'Nós Madalenas, uma palavra pelo feminismo', onde as mulheres escolhiam uma palavra que representa o feminismo na vida delas, escreviam com batom no corpo e a gente fazia uma foto", contou. "Desde então eu trabalho com o mito da beleza, com pesquisa, imagem e fotografia, exatamente para tirar a mulher de um lugar de objeto e trazê-la para um lugar de autonomia, de protagonismo sobre nossos corpos, nossas existências", acrescentou. 

Esse projeto guiou a fotógrafa pelo caminho que gerou o seu trabalho atual. "Desde então eu fotografo mulheres, faço projetos com mulheres, todo com essa mesma premissa", disse.

Ao compartilhar seu trabalho atualmente, ela mesma "censura" as fotos, borrando ou rabiscando partes do corpo das mulheres fotografadas. "Me incomoda ter que censurar as fotos? Incomoda. Porque está mexendo na minha arte, eu estou ali rabiscando a minha foto. E todas essas questões com relação a como o corpo da mulher é visto na sociedade que são problemáticas. É muito diferente como o corpo da mulher é visto e como o corpo do homem é visto. Mas eu não acredito que o Instagram vai flexibilizar a nudez para nós. É muito hipócrita e muito parcial, sexista e misógino a forma como a censura trabalha no Instagram. Eu acho que o conteúdo pornográfico para consumo masculino vai continuar imune como sempre este e nós vamos continuar censuradas como sempre estivemos. Então não acho que vai ser a solução", destacou.

 

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