Investigação

Tripulação do avião que caiu na Indonésia não enviou alerta de emergência

Uma gravação das conversas com o controle de tráfego aéreo aponta para trocas de rotina e nenhuma outra comunicação

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AFP

Publicado em 11/01/2021 às 12:49 | Atualizado em 11/01/2021 às 13:34
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A tripulação do avião que caiu neste fim de semana na Indonésia com 62 pessoas a bordo não declarou emergência ou relatou problemas técnicos antes de se acidentar, informou nesta segunda-feira (11) um investigador.

Uma gravação das conversas com o controle de tráfego aéreo aponta para trocas de rotina e nenhuma outra comunicação quando o Boeing 737-500 da Sriwijaya Air caiu 10.000 pés (3.000 metros) para mergulhar no mar de Java.

"É uma conversa normal e não há nada suspeito", disse à AFP Nurcahyo Utomo, investigador do Comitê Nacional de Segurança nos Transportes. "Não se fala de uma emergência ou algo parecido", acrescentou ele sobre a gravação.

Dados preliminares sugerem que é "muito provável" que o avião estivesse intacto quando caiu na água no sábado, disse Utomo, que afirmou ainda não saber as causas do acidente.

Mergulhadores indonésios exploravam nesta segunda o fundo do mar na costa de Jacarta em busca das caixas-pretas do Boeing, enquanto o trabalho em terra começou para identificar as vítimas.

Pelo menos 2.500 socorristas e soldados participam da operação de busca que possibilitou localizar o sinal das duas caixas-pretas.

As equipes de resgate relataram na noite de domingo que recuperaram dez sacos contendo restos humanos, bem como 16 grandes partes da fuselagem e dez sacos de fragmentos a cerca de 23 metros de profundidade.

Imagens divulgadas pela Marinha mostram o fundo do mar coberto de destroços, mas as equipes devem agir rapidamente porque as correntes nesta área das "mil ilhas" ao largo de Jacarta podem arrastá-los para longe.

O avião transportava 62 indonésios, entre passageiros e tripulantes, incluindo 10 crianças. No comando estava Afwan, um ex-piloto da força aérea de 54 anos e pai de três filhos, de acordo com a mídia local.

No principal porto de Jacarta, os sacos com restos humanos foram borrifados com desinfetante e transferidos para um hospital da Polícia, onde os investigadores tentarão identificá-los usando amostras de DNA retiradas de parentes das vítimas.

Rapin Akbar, que tinha cinco parentes a bordo, incluindo uma irmã, um sobrinho e sua esposa e seu bebê de sete meses, deu uma amostra de sangue em um hospital para os testes.

"[Meu sobrinho] planejava voltar para Pontianak no domingo, mas mudou de ideia e decidiu voar no sábado", disse Akbar à AFP.

"Ela me ligou para dizer que o voo estava atrasado e me enviou uma foto de seu bebê", acrescentou.

Na noite desta segunda-feira, as autoridades identificaram o comissário de bordo Okky Bisma, de 29 anos, como a primeira vítima confirmada após comparar as impressões digitais de uma mão recuperada com as de um banco de dados do governo.

A investigação sobre o acidente, o último de uma série de desastres aéreos na Indonésia, pode levar meses.

Especialistas em aviação apontaram que os dados de voo indicam que o avião desviou bruscamente de sua trajetória antes de despencar cerca de 10.000 pés (3.000 metros) em menos de um minuto e mergulhar no mar de Java.

Eles acreditam que o mau tempo (chuvas torrenciais atrasaram a decolagem), erros de pilotagem, ou um problema técnico podem ter causado a tragédia.

Stephen Wright, professor de sistemas aeronáuticos da Universidade Finlandesa de Tampere, estima que a velocidade relativamente baixa do avião era um sinal de alerta.

"Algo dramático aconteceu após a decolagem", disse ele à AFP.

A companhia aérea de baixo custo Sriwijaya Air, que assegura destinos na Indonésia e Sudeste Asiático, não forneceu informações sobre o que pode ter acontecido neste avião de 26 anos, anteriormente operado pela Continental Airlines e United Airlines nos Estados Unidos.

É o primeiro acidente fatal da Sriwijaya Air desde que a companhia foi lançada em 2003.

Em outubro de 2018, 189 pessoas morreram quando um Boeing 737 MAX caiu no mar de Java, 12 minutos após a decolagem.

O avião da Sriwijaya não pertence à polêmica nova geração do Boeing 737 MAX, mas é um "clássico" Boeing 737.

O setor de transporte aéreo na Indonésia lamentou várias tragédias nos últimos anos, e algumas companhias aéreas deste país foram proibidas de operar na Europa no passado.

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