Putin ironiza Biden e promete defender interesses russos
O presidente dos Estados Unidos chamou Putin de "assassino". Em resposta, o russo afirmou que "aquele que diz é que é"
O presidente russo, Vladimir Putin, ironizou nesta quinta-feira (18) o americano Joe Biden, que o chamou de "assassino" em uma entrevista na véspera, antes de reafirmar que a Rússia defenderá seus interesses e trabalhará com os Estados Unidos onde for "vantajoso".
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A disputa pode mergulhar a relação entre os dois rivais geopolíticos em uma nova espiral de tensões, apesar de ambas as potências terem manifestado vontade de cooperar em casos de interesse comum.
"Aquele que diz é que é", disse Putin, sorrindo, segundo declarações transmitidas pela televisão russa.
"Não é apenas uma expressão infantil, uma piada. O significado é profundo e psicológico. Sempre vemos no outro as nossas próprias características", declarou.
Putin, que também disse desejar "boa saúde, sem qualquer ironia", ao presidente Biden, reafirmou que Moscou não se intimidaria, um 'leitmotiv' de sua diplomacia.
Na quarta-feira, Biden respondeu afirmativamente a um jornalista que o perguntou se Putin era "um assassino", numa entrevista com a emissora ABC.
"Defenderemos nossos próprios interesses e trabalharemos com (os americanos) em condições que serão vantajosas para nós", insistiu Putin nesta quinta.
À noite, ele voltou a se manifestar para sugerir a Biden "uma discussão" no formato "ao vivo" na sexta ou segunda-feira, que seja transmitida na internet ou televisão.
"Seria interessante para o povo russo, o povo americano e muitos outros países", afirmou.
A Casa Branca não respondeu imediatamente e a porta-voz Jen Psaki disse apenas que Biden está viajando na sexta-feira e está "muito ocupado".
Apesar da ironia de Putin, Moscou não deixou de ressaltar que as afirmações de Biden eram inaceitáveis.
Convocação para consultas
Adotando uma disposição sem precedentes desde 1998, o ministério das Relações Exteriores da Rússia convocou seu embaixador nos Estados Unidos para consultas, para discutir o futuro da relação "estagnada" entre Moscou e Washington.
De acordo com a embaixada russa em Washington, as "declarações imprudentes de autoridades americanas correm o risco de causar o colapso de relações já conflituosas".
O Kremlin, por sua vez, denunciou afirmações que mostram que Biden "claramente não quer melhorar as relações com nosso país".
O Departamento de Estado americano afirmou à AFP que não tinha planos de chamar seu representante em Moscou para consultas.
Na mesma entrevista, Biden afirmou que queria fazer o presidente russo "pagar" pela interferência nas eleições americanas de 2016 e 2020, acusação que Moscou sempre rejeitou.
Putin "pagará as consequências", alertou Biden. "Logo verão o preço que ele irá pagar", insistiu.
O presidente da Câmara Baixa do Parlamento russo, Viacheslav Volodin, descreveu como um "insulto" aos russos e um "ataque" contra seu país.
Um vice-presidente da Câmara Alta, Konstantin Kosachev, exigiu "explicações e desculpas".
Sanções
As relações entre Moscou e Washington e, em geral, entre Rússia e países ocidentais, vêm se deteriorando há anos, como resultado da anexação da Crimeia, a guerra na Ucrânia, o conflito na Síria e o envenenamento e posterior prisão do opositor russo Alexei Navalny, entre outros assuntos.
Nesse contexto, várias rodadas de sanções e contra-sanções foram adotadas. Washington anunciou na quarta-feira que estenderia as restrições à exportação de produtos "sensíveis" para a Rússia, e nesta quinta-feira ameaçou aplicar sanções a "todas as entidades envolvidas" no polêmico projeto do gasoduto Nord Stream 2 entre a Rússia e a Alemanha.
Nesta quinta-feira, o grupo de países do G7 denunciou novamente a "ocupação" da Rússia na Crimeia.
Desde sua chegada à Casa Branca, Biden tem demonstrado grande firmeza para com o Kremlin, em contraste com a leniência que seu antecessor, Donald Trump, costumava mostrar, criticado por democratas e pelo Partido Republicano.
Se as relações entre as duas potências se deteriorarem ainda mais, a incipiente cooperação em casos de interesse comum poderá se ver ameaçada.
O exemplo mais claro, citado por Biden na quarta-feira, seria a extensão do tratado de limitação de arsenais nucleares do New Start, acordada no início deste ano.
Outras questões em que russos e americanos estudam colaborar são o programa nuclear iraniano ou a crise climática, de acordo com Moscou.
Biden insistiu que deseja "trabalhar" com os russos em questões de "interesse mútuo".
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, elogiou a "linguagem muito clara" de Biden com Putin.
"Queremos manter aberta a janela de diálogo com Moscou sobre questões importantes, desarmamento ou mudança climática", declarou o ministro das Relações Exteriores, Heiko Maas.
O ministro, por outro lado, não quis "comentar ou avaliar" a qualificação de "assassino".