Boca de urna dá "empate estatístico" entre Fujimori e Castillo no Peru
Quem vencer terá um grande desafio, pois terá que tomar medidas urgentes para superar a pandemia, a recessão econômica e a instabilidade política
A candidata de direita Keiko Fujimori obteve neste domingo (6) 50,3% dos votos contra 49,7% do rival de esquerda Pedro Castillo, segundo pesquisa de boca de urna da Ipsos divulgada no fechamento dos centros eleitorais no Peru.
A pesquisa da Ipsos definiu como "um empate estatístico" este resultado preliminar após 12 horas de votação. Os primeiros resultados parciais oficiais serão divulgados por volta das 23h00 locais (01h00 de Brasília).
"Temos um empate estatístico, dentro da margem de erro, um empate muito ajustado. Não há maneira de declarar um vencedor neste momento", explicou o diretor da Ipsos Peru, Alfredo Torres, ao canal América.
Com mensagens de unidade, a direitista Keiko Fujimori e o esquerdista Pedro Castillo prometeram respeitar qualquer que seja o resultado deste domingo (6) de uma das eleições presidenciais mais disputadas da história do Peru, em um país devastado pela pandemia e por uma crise política feroz.
Com projetos antagônicos, o professor rural e a filha do ex-presidente preso Alberto Fujimori chegaram empatados nas pesquisas para esta eleição, após uma campanha marcada pela incerteza e pela exacerbação de temores, que elevou a cotação do dólar na sexta-feira a um recorde de 3,9 soles.
Castillo participou de um café da manhã familiar no pátio coberto de sua casa no vilarejo de Chugur, no norte da região de Cajamarca, e foi votar ao meio-dia na cidade vizinha de Tacabamba, seguido pelas ruas por centenas de apoiadores.
“Tomei uma decisão, não estarei em Lima pela saúde de meus pais”, anunciou o candidato após votar na escola Simón Herrera, cancelando seu plano de viajar à capital para aguardar os resultados.
“Vamos ser respeitosos assim que houver um resultado oficial” da contagem de votos, afirmou também o candidato de 51 anos, vestido com paletó marrom e chapéu branco, típico dos camponeses de Cajamarca.
Sua adversária, Keiko Fujimori, que participou de um café da manhã em família na encosta de uma colina de um bairro pobre do bairro de San Juan de Lurigancho, em Lima, também afirmou que reconhecerá o resultado da votação, algo que não fez em 2016, quando perdeu para o banqueiro Pedro Pablo Kuczynski.
“A partir de agora posso dizer que seja qual for o resultado, respeitarei a vontade popular, como deve ser”, prometeu a candidata de 46 anos, que disputa pela terceira vez a possibilidade de se tornar a primeira presidente mulher do Peru.
Fujimori, que votou à tarde no distrito de Surco, em Lima, parabenizou "os avós e avôs" por terem ido votar. “Eles fazem isso com seus filhos e netos em mente”, disse ela.
Os mais de 11.000 centros de votação ficarão abertos até as 19h00 locais (21h00 de Brasília), após receber por 12 horas os votos de 25 milhões de cidadãos, de acordo com o gabinete eleitoral nacional.
Vença quem vencer, o Peru continuará mantendo um perfil conservador com a rejeição de ambos os candidatos ao aborto, ao casamento homossexual e à identidade de gênero.
Ambos os candidatos passaram as últimas horas com suas famílias. Na quinta-feira, encerraram suas campanhas em Lima em comícios com centenas de partidários aglomerados, apesar do agravamento da pandemia no Peru, que esta semana teve a maior taxa de mortalidade do mundo por covid-19 e acumula quase dois milhões de contaminações e mais de 180.000 mortes.
"Não é tarefa fácil"
Castillo concentra o apoio nas áreas rurais do "Peru profundo", como sua nativa Cajamarca, mas há peruanos temerosos de que o país se transforme em uma nova Venezuela que votarão em Fujimori por enxergá-la como "o mal menor".
"Não quero nem votar, para mim os dois não merecem o voto, mas estou em pânico com Castillo, então voto em Keiko", disse Johnny Samaniego, de 51 anos, de Lima.
Quem vencer terá um grande desafio, pois terá que tomar medidas urgentes para superar a pandemia, a recessão econômica e a instabilidade política, lidar com um Congresso fragmentado, corrupção e má gestão pública.
Se Fujimori vencer, "não é uma tarefa fácil, dada a desconfiança que seu nome e o de sua família geram em amplos setores. Ela terá que acalmar rapidamente os mercados e gerar medidas que permitam sua reativação", analisou a cientista política Jessica Smith à AFP.
E se Castillo vencer, ele deve "mostrar liderança independente" de seus líderes partidários e "consolidar uma maioria parlamentar que lhe permitirá levar a cabo seu ambicioso programa", acrescentou.
Entretanto, o analista Luis Pásara afirmou à AFP que “vai demorar algum tempo até acalmar as águas, porque a polarização é forte e existe um ambiente de conflito social”.
"Respeitar a vontade"
Cerca de 160.000 soldados e policiais foram enviados para garantir a segurança do processo eleitoral.
O Peru viu quatro presidentes assumirem o poder desde 2018, três em apenas cinco dias em novembro de 2020.
Neste domingo (6), um milhão de peruanos residentes em 75 países também votaram, incluindo 140.000 na Venezuela, Chile, Paraguai e Aruba que não puderam fazê-lo no primeiro turno devido a restrições impostas pela pandemia.
O novo presidente tomará posse em 28 de julho, dia em que o Peru comemora o bicentenário de sua independência, substituindo o presidente interino de centro Francisco Sagasti, que pediu a seus compatriotas "que respeitem escrupulosamente a vontade expressa nas urnas".
Os primeiros resultados oficiais serão conhecidos por volta das 23h00 hora local (1h00 de segunda-feira em Brasília).