VIOLÊNCIA

Quatro mercenários mortos e dois presos após o assassinato do presidente do Haiti

O presidente do Haiti, Jovenel Moise, foi morto a tiros dentro de casa, em Porto Príncipe, na manhã desta quarta-feira (7)

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AFP

Publicado em 08/07/2021 às 0:20 | Atualizado em 08/07/2021 às 2:07
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Quatro "mercenários" foram mortos e dois foram presos após o assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moise, informou a polícia local nesta quarta-feira (7), revelando que suas forças realizam uma operação na capital, Porto Príncipe.

"Quatro mercenários foram mortos, dois colocados sob nosso controle. Três policiais que foram feitos reféns foram recuperados", declarou o diretor-geral da polícia haitiana, Leon Charles, em um comunicado à televisão.

Ele acrescentou que a polícia perseguiu os assassinos imediatamente após o tiroteio contra Moise e sua esposa, que ficou ferida mas sobreviveu ao ataque, em sua residência em Porto Príncipe, na manhã desta quarta-feira (7).

O primeiro-ministro em final de mandato, Claude Joseph, declarou "estado de exceção" e disse que agora está no comando do país. Ele pediu à população que mantenha a calma, insistindo que a polícia e o Exército vão garantir a segurança.

Enquanto isso, crescia a indignação e o choque na comunidade internacional.

"O presidente foi assassinado em sua casa por estrangeiros que falavam inglês e espanhol", relatou Joseph sobre a agressão, que ocorreu por volta das 01H00 locais (02H00, em Brasília).

"Esta morte não ficará impune", afirmou o premiê em um discurso à nação.

A primeira-dama, Martine Moise, inicialmente tratada em um hospital local, foi transferida de avião para Miami, onde está recebendo cuidados no hospital Jackson Memorial, segundo a imprensa americana.

O que aconteceu ameaça desestabilizar ainda mais o país, que já enfrenta uma dupla crise: política e de segurança.

Moise governava o Haiti, o país mais pobre das Américas, por decreto, após o adiamento das eleições legislativas de 2018.

Além disso, os sequestros em busca de resgate aumentaram nos últimos meses, refletindo ainda mais a crescente influência de gangues armadas neste país caribenho.

O Haiti também enfrenta pobreza crônica e desastres naturais recorrentes.

Acusado de inação diante da crise, o presidente era visto com forte desconfiança por grande parte da população civil, que considerava seu mandato ilegítimo. Nos últimos quatro anos, o país teve sete primeiros-ministros.

Joseph estava programado para ser substituído esta semana, após três meses no cargo.

Porto Príncipe paralisado

Após o anúncio do assassinato, todas as atividades, o comércio e os transportes foram paralisados em Porto Príncipe e outras cidades, segundo testemunhos.

As ruas da capital estavam calmas nesta quarta-feira (7), sem presença reforçada da polícia ou das forças de segurança.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, condenou em um comunicado o "ato hediondo" e enviou seus "mais sinceros votos pela recuperação da primeira-dama Moise".

O Departamento de Estado americano pediu, entretanto, a realização das eleições legislativas e presidenciais marcadas no Haiti para este ano.

Reino Unido, França, Espanha e muitos países da América Latina também expressaram sua forte condenação ao atentado.

O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, por sua vez, alertou para o risco de desestabilização e de uma espiral de violência no Haiti.

O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) disse estar "profundamente chocado" e realizará uma reunião de emergência na quinta-feira para tratar da situação.

Enquanto isso, a Organização dos Estados Americanos (OEA) declarou seu apoio à democracia no Haiti, condenando veementemente o assassinato, após uma sessão virtual extraordinária de seu Conselho Permanente.

O embaixador do Haiti em Washington, Bocchit Edmond, disse que os perpetradores do assassinato eram mercenários "profissionais" que se passavam por agentes americanos e podem já ter fugido do país.

"Foi um ataque bem planejado e eles foram profissionais", afirmou o embaixador Bocchit Edmond a jornalistas. "Temos um vídeo e acreditamos que eram mercenários."

Moise, ex-empresário que construiu diversos negócios no norte do país, de onde é natural, irrompeu no cenário político em 2017 com uma mensagem de reconstrução.

Ele fez campanha com promessas populistas, mas manteve a retórica mesmo depois de ser eleito em fevereiro de 2017.

O tempo de duração do seu mandato tornou-se fonte de confronto político. Moise sustentava que duraria até 7 de fevereiro de 2022, mas outros afirmavam que terminou em 7 de fevereiro de 2021.

A discordância decorre de Moise ter sido eleito em uma votação posteriormente anulada por fraude. Um ano depois, ele ganhou as eleições novamente.

Sem um parlamento, a crise do país se agravou em 2020, levando Moise a governar por decreto, alimentando a desconfiança.

Eleições adiadas 

Com temores crescentes de uma anarquia generalizada, o Conselho de Segurança da ONU, os Estados Unidos e a Europa consideraram a realização de eleições legislativas e presidenciais livres e transparentes como uma prioridade até o final de 2021.

Na segunda-feira (5), Moise nomeou o médico Ariel Henry como primeiro-ministro - o sétimo a ocupar o cargo em quatro anos. Henry, de 71 anos, fez parte da resposta ao coronavírus e ocupou cargos no governo em 2015 e 2016 como ministro do Interior e, depois, como ministro dos Assuntos Sociais e do Trabalho.

Também foi membro do gabinete do ministro da Saúde de junho de 2006 a setembro de 2008, antes de se tornar chefe de gabinete. Ocupou este cargo entre setembro de 2008 e outubro de 2011.

Moise encarregou Henry de "formar um governo de base ampla" para "resolver o problema flagrante da insegurança" e trabalhar para "a realização de eleições gerais e do referendo".

Henry é próximo da oposição, mas sua nomeação não foi bem recebida pela maioria destes partidos, que continuaram a exigir a renúncia do presidente.

O governo da República Dominicana ordenou o "fechamento imediato" de sua fronteira com o Haiti após o assassinato.

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