Biden declara fim da 'guerra eterna' com retirada do Afeganistão
Biden fez nesta terça-feira (31) uma defesa enérgica de sua "sábia" decisão de retirar as tropas do Afeganistão e disse a seus concidadãos que se nega a mandar outra geração a lutar em uma "guerra eterna"
O presidente americano, Joe Biden, fez nesta terça-feira (31) uma defesa enérgica de sua "sábia" decisão de retirar as tropas do Afeganistão e disse a seus concidadãos que se nega a mandar outra geração a lutar em uma "guerra eterna".
"Compatriotas americanos, a guerra no Afeganistão terminou", declarou Biden em um discurso à nação na Casa Branca, após o fim da intervenção militar que se seguiu aos atentados de 11 de setembro de 2001.
A traumática saída do Afeganistão, concluída um minuto antes da meia-noite de segunda-feira, hora de Cabul, foi "a decisão correta. Uma decisão sábia. E a melhor decisão para os Estados Unidos", assegurou o presidente democrata.
Depois de ter sido criticado por seus adversários republicanos pelo caos da retirada de Cabul, Biden disse que fez o que deveria ter sido sido feito há anos.
"Não ia prolongar esta guerra eterna, e não ia estender uma saída para sempre", garantiu.
Ele elogiou o "sucesso extraordinário" da missão de retirada aérea que tirou do país mais de 123.000 civis estrangeiros e afegãos, segundo números do Pentágono.
Discursando na ornamentada Sala de Jantar de Estado da Casa Branca, Biden bateu no púlpito enquanto detalhava os custos deste conflito - mais de 2.400 mortes de militares americanos, gastos de até 2,3 trilhões de dólares -, que terminaram com a volta ao poder do Talibã, grupo extremista que se pretendia derrotar.
"Assumo a responsabilidade pela decisão", disse. "Eu me comprometi com o povo americano a pôr fim a esta guerra. Hoje, cumpri este compromisso. Era hora de ser honesto".
"Depois de 20 anos no Afeganistão, me neguei a enviar outra geração de filhos e filhas dos Estados Unidos a lutar uma guerra".
"Retirada desastrosa"
Depois de duas semanas de voos de evacuação, um esforço titânico ofuscado pelo atentado suicida que matou 13 militares americanos e dezenas de afegãos, Biden enfrenta críticas que podem abalá-lo internamente.
Sair da última grande guerra posterior ao 11 de setembro foi uma das promessas de campanha de Biden ao assumir o cargo. E a ideia contava com o apoio esmagador da opinião pública.
Mas para muitos, a retirada, que terminou com um avião solitário decolando de Cabul com as últimas tropas e diplomatas, equivale a uma derrota impactante.
Os republicanos, liderados por Donald Trump, o sempre crítico antecessor de Biden, descrevem a saída como um fracasso humilhante, uma derrota que supera inclusive a evacuação de Saigon em 1975 e um sinal para o mundo de que os Estados Unidos se renderam.
"O presidente Biden acaba de dizer que sua retirada desastrosa do Afeganistão foi um 'sucesso extraordinário'", tuitou o Partido Republicano na Câmara de Representantes.
"Treze militares morreram em ação. CENTENAS de americanos ficaram abandonados. BILHÕES de dólares em equipamentos militares americanos estão agora nas mãos dos talibãs", enumerou.
Biden insistiu em seu discurso em que os talibãs permitiriam os americanos que ainda estão no Afeganistão, muitos com dupla nacionalidade, partir se quisessem.
Embora não esteja claro quantos americanos foram impedidos realmente de ir embora, o tema é um assunto político perigoso para Biden.
Para quem ficou para trás, "não há data limite. Continuamos comprometidos a tirá-los, se quiserem", prometeu.
E ao abordar outra preocupação crescente em Washington, o presidente advertiu o grupo extremista Estado Islâmico do Khorasan (EI-K), que assumiu a autoria do atentado suicida da quinta-feira no perímetro do aeroporto de Cabul, que haverá represálias.
"Ainda não terminamos com vocês", disse Biden, dirigindo-se ao grupo.
Mas ele também se dirigiu aos americanos que durante muito tempo questionaram a necessidade de os Estados Unidos tentarem construir uma nação em países hostis.
Com a saída do Afeganistão, os Estados Unidos estão "pondo um fim a uma era de importantes operações militares para refazer outros países", disse.
"Os direitos humanos estarão no centro da nossa política externa, mas a forma de fazê-lo não é mediante mobilizações militares intermináveis", assegurou.