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Frederik de Klerk, líder que aboliu apartheid, morre na África do Sul

Ele governou a África do Sul até 1994, quando Mandela se tornou o primeiro presidente negro do país

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Estadão Conteúdo

Publicado em 11/11/2021 às 19:58
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Frederik de Klerk, ex-presidente da África do Sul, que ganhou o Nobel da Paz em 1993 por seu papel no fim do apartheid, morreu ontem, aos 85 anos, em sua casa na Cidade do Cabo, na África do Sul. Em março, ele anunciou que tinha um câncer no pulmão.
De Klerk assumiu o poder em 1989 e surpreendeu o mundo ao dar início ao processo de democratização. O primeiro sinal foi dado por ele em setembro, ao permitir uma manifestação convocada pelo arcebispo Desmond Tutu, que reuniu 30 mil pessoas na Cidade do Cabo. "A porta para uma nova África do Sul está aberta, e não é preciso derrubá-la", disse o então presidente.
Ele governou a África do Sul até 1994, quando Mandela se tornou o primeiro presidente negro do país. Então, De Klerk foi para a oposição, liderando o Partido Nacional, o mesmo que havia idealizado o apartheid em 1948. Nos três anos seguintes, até 1997, quando decidiu se aposentar, ele conquistou um lugar na história ao travar uma batalha feroz para convencer os sul-africanos brancos a aceitarem o fim do governo da minoria.
Com uma teia de leis que distribuíam direitos, privilégios e até tamanhos de refeições em prisões com base na cor da pele, o apartheid não foi fácil de desfazer. No entanto, quando De Klerk legalizou o Congresso Nacional Africano (CNA), o Partido Comunista e a libertou Mandela e outros presos políticos, ele deu início a uma bola de neve que soterrou rapidamente o apartheid.
De Klerk e Mandela dividiram o Nobel da Paz em 1993 por seus esforços para reconstruir a África do Sul, mas e relação entre os dois nunca foi harmoniosa. Em sua autobiografia, A Última Jornada - Um Novo Começo, De Klerk reclamou que se sentiu subestimado e às vezes abertamente atacado por Mandela durante as celebrações do prêmio.
"Eu fervia de raiva", escreveu ele sobre o discurso de Mandela feito na Suécia, após a cerimônia de premiação. "Foi só com muito autocontrole que mais uma vez consegui morder a língua e não quebrar de uma vez por todas a ilusão de que havia uma relação cordial entre mim e Mandela."
CRÍTICAS
Em sua autobiografia, Long Walk to Freedom, Mandela caracterizou seu relacionamento com De Klerk como algo nascido da necessidade. "Para fazer as pazes com um inimigo, é preciso trabalhar com ele, e esse inimigo se torna nosso parceiro", escreveu Mandela.
"Apesar de suas ações aparentemente progressistas, De Klerk não foi o 'grande emancipador'. Ele era um gradualista, um pragmático cuidadoso. Ele não fez nenhuma de suas reformas com a intenção de se colocar fora do poder. Ele as fez precisamente pelo motivo oposto: para garantir o poder para o africâner (brancos da África do Sul) em uma nova era."
De Klerk nasceu em Johannesburgo em uma família defensora da segregação racial. Seu pai, Jan de Klerk, foi membro do Partido Nacional, ministro de Estado de três governos e presidente do Senado. Seu tio, Hans Strijdom, era um veemente defensor do apartheid e foi primeiro-ministro na década de 50.
Por várias vezes, De Klerk se aliou à linha-dura racial de seu partido e foi um dos ministros que foi até o presidente, Pieter Botha, em 1986, para exigir que chanceler sul-africano, Roelof Botha (que não era parente do presidente), se retratasse por dizer que a África do Sul poderia um dia ter um presidente negro - mais tarde, ele foi obrigado a admitir que sua declaração não refletia a posição do governo.
SANÇÕES
Nos anos 80, porém, a África do Sul se tornou um pária global, com sua economia estropiada por sanções internacionais. O regime racista perdeu força. Os admiradores de Frederik de Klerk garantem que ele percebeu que o apartheid estava com os dias contados e acreditava que, para sepultá-lo de vez, era preciso um líder conservador respeitado. Outros o viam como pragmático, ciente de que o controle dos brancos sobre a maioria negra estava diminuindo.
Ontem, após sua morte, a Fundação FW de Klerk divulgou um vídeo intitulado Mensagem Final em que ele fala sobre o apartheid. "Permitam-me hoje, na última mensagem, repetir: eu peço desculpas pela dor, pela mágoa, pela indignidade e pelos danos aos negros, pardos e índios na África do Sul", disse. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
 

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