SATÉLITES

Rússia admite teste de míssil espacial, mas rejeita ameaça à Estação Espacial Internacional

O teste gerou mais de 1.500 pedaços de detritos orbitais rastreáveis

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AFP

Publicado em 17/11/2021 às 0:04
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A Rússia admitiu, nesta terça-feira (16), ter destruído um de seus satélites durante o teste de um míssil espacial, mas rejeitou a acusação dos Estados Unidos de que teria colocado em perigo a tripulação da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês).

Funcionários dos Estados Unidos acusaram ontem a Rússia de ter realizado um ato "perigoso e irresponsável", que criou uma nuvem de escombros e obrigou a tripulação da ISS a realizar uma ação evasiva.

"O Ministério da Defesa da Rússia executou com sucesso um teste, o que resultou na destruição do aparelho espacial 'Tselina-D', que estava em órbita desde 1982", afirmou o Exército russo em comunicado.

O ministro de Defesa russo, Sergei Shoigu, declarou posteriormente que foi utilizado um sistema "promissor", que acertou o alvo com "precisão".

"Os fragmentos que se formaram não representam nenhuma ameaça para a atividade espacial", acrescentou o ministro, citado pelas agências de notícias russas.

Funcionários do governo americano disseram que não foram informados com antecedência do teste, que gerou mais de 1.500 pedaços de detritos orbitais rastreáveis.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou na segunda-feira (15) que a nuvem de escombros representaria uma ameaça às atividades espaciais "durante décadas".

Por sua vez, o secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, descreveu nesta terça-feira o teste como um ato "imprudente" e "preocupante".

"É uma demonstração de que a Rússia está desenvolvendo novos sistemas de armas que podem derrubar satélites", disse Stoltenberg em uma reunião com os ministros da Defesa da UE.

A França também fez duras críticas ao que classificou de "saqueadores do espaço", que geram "detritos que poluem e colocam em risco nossos astronautas e satélites", enquanto a Alemanha afirmou estar "muito preocupada" e pediu medidas urgentes para "reforçar a segurança e a confiança".

O Exército russo disse que estava realizando atividades planejadas para fortalecer suas capacidades de defesa, mas negou que a manobra fosse perigosa.

"Os Estados Unidos sabem, com certeza, que os fragmentos resultantes [...] não representaram, nem vão representar, uma ameaça para as estações orbitais, naves e atividades espaciais", afirmou.

O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, classificou como "hipócritas" as acusações dos Estados Unidos. Até então, os EUA eram os únicos, junto com China e Índia, a terem lançado mísseis espaciais.

"Declarar que a Federação Russa criou riscos para a exploração com fins civis do espaço é hipócrita, para dizer o mínimo", disse Lavrov.

Posteriormente, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou em nota que o teste foi realizado em "estrita conformidade com o direito internacional" e que "não estava voltado contra ninguém".

A Nasa, por outro lado, disse que a tripulação da ISS, que atualmente consiste em quatro americanos, um alemão e dois russos, teve que se refugiar em suas naves de retorno.

Já a agência espacial russa Roscosmos assinalou que o seu "sistema automatizado de alerta de situações perigosas" estava "monitorando a situação para prevenir e neutralizar todas as possíveis ameaças à segurança da Estação Espacial Internacional e sua tripulação".

"Para nós, a principal prioridade tem sido, e continua sendo, garantir a segurança incondicional da tripulação", disse a Roscosmos em comunicado.

O diretor da Roscosmos, Dmitry Rogozin, contou que manteve uma conversa telefônica "detalhada" com o responsável da Nasa, Bill Nelson, na noite (horário local de Moscou) desta terça-feira.

"Em resumo... Estamos avançando, garantindo a segurança de nossas tripulações na ISS, e fazendo planos conjuntos", escreveu Rogozin no Twitter.

Nelson, por sua vez, disse na segunda-feira que estava "indignado" com o teste russo, que classificou de "irresponsável e desestabilizador".

O incidente reacendeu os temores de que o espaço seja transformado em um campo de batalha entre as grandes potências, que estão ávidas para experimentar novas tecnologias militares.

Até agora, Moscou havia levantado sua voz contra qualquer tentativa de militarizar o espaço. Ainda assim, o especialista militar russo Pavel Felgenhauer disse à AFP que Moscou nunca escondeu possuir sistemas com capacidade de alcançar o espaço a partir da Terra, entre os quais estão o S-500 e o S-550, que são capazes, segundo o Exército, de destruir satélites.

"A Rússia sempre disse que era contrária ao desdobramento de armas no espaço, mas não que se opunha ao uso de armas no espaço", detalhou o especialista do jornal Novaya Gazeta, ao assinalar que não existe uma proibição "formal" desse tipo de armamento no direito internacional.

As armas antissatélite (ASAT) são mísseis de alta tecnologia que apenas poucos países possuem. A Índia foi a última a realizar um teste contra um alvo em 2019, um incidente que também foi criticado pelos Estados Unidos e outros países.

Os Estados Unidos, por sua vez, derrubaram um satélite em 2008, em resposta a uma ação similar realizada pela China no ano anterior.

Apesar da tensão, Washington e Moscou cooperaram estreitamente no espaço desde o fim da Guerra Fria, cujo maior exemplo foi a própria ISS, construída pelos dois países juntos.


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