Venezuela vive seu 'pior' momento nos direitos humanos em 30 anos, segundo ONG
Diretor da ONG Programa Venezuelano de Educação e Ação em Direitos Humanos destaca a "ausência de democracia e a crise econômica" como fatores responsáveis
A Venezuela vive seu "pior" período de violações aos direitos humanos nos últimos 30 anos, afirmou o sociólogo Rafael Uzcátegui, diretor da ONG Programa Venezuelano de Educação e Ação em Direitos Humanos (Provea), premiada nesta sexta-feira (10) em Caracas.
“Hoje vivemos a pior situação de direitos humanos nos 33 anos de existência da Provea, não só pela ausência de democracia, mas também pela crise econômica (...), que tem levado a níveis de pobreza nunca vistos nos últimos 40 anos", disse Uzcátegui ao receber um prêmio franco-alemão pelo Dia Internacional dos Direitos Humanos na embaixada da França na capital venezuelana.
O diretor do Provea falou sobre os riscos enfrentados pelos defensores dos direitos humanos, especialmente ativistas locais com menos cobertura midiática que ele.
“As autoridades não querem que se saibam muitas coisas, que não sejam visíveis, e celebramos o Dia Internacional dos Direitos Humanos com um colega na prisão”, declarou Uzcátegui, referindo-se a Javier Tarazona, diretor da ONG Fundaredes.
Especialista na área de fronteira com a Colômbia e crítico do governo, Tarazona foi preso em julho e acusado de "terrorismo".
“Este ano tivemos uma triste conquista, que é a investigação lançada pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) sobre a Venezuela” devido à repressão aos protestos antigovernamentais de 2017 e aos opositores que estão detidos, acrescentou.
“Há autoridades que sabem que os defensores (dos direitos humanos) e aqueles de nós que acompanhamos as vítimas tivemos uma grande responsabilidade em garantir que isso fosse alcançado e com certeza em algum momento vão querer cobrar essa conta.”
Uzcátegui destacou que o Provea foi acusado de "tráfico de drogas e lavagem de dinheiro", alegações que ele descreveu como "delirantes".
No entanto, o ativista comemorou que a ação das ONGs tenha ajudado na libertação de detidos e uma atuação "menos repressiva" das forças policiais e militares diante das manifestações nos últimos tempos.
“Como outros países da região superaram situações muito difíceis, os venezuelanos também o farão”, afirmou.
O governo da Venezuela nega violações sistemáticas dos direitos humanos, garantindo em particular que, no caso do TPI, mais de 150 policiais e militares foram indiciados por abusos desde 2017, prova de uma vontade real, segundo Caracas, de julgar os responsáveis pelas mais de cem mortes durante os protestos.