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Estados Unidos e Rússia querem manter diálogo, mas Washington pede 'desescalada imediata' na fronteira com a Ucrânia

Os Estados Unidos admitiram nesta terça-feira (1º) que não conseguiram garantir o compromisso da Rússia com uma iminente desescalada na fronteira com a Ucrânia, mas os chefes da diplomacia das duas potências rivais parecem querer continuar com seu diálogo.

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AFP

Publicado em 01/02/2022 às 16:23 | Atualizado em 01/02/2022 às 16:24
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Os Estados Unidos admitiram nesta terça-feira (1º) que não conseguiram garantir o compromisso da Rússia com uma iminente desescalada na fronteira com a Ucrânia, mas os chefes da diplomacia das duas potências rivais parecem querer continuar com seu diálogo.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, voltaram a falar por telefone para tentar acabar com essa crise de alto risco que ameaça culminar em uma guerra na Europa.

Enquanto isso, o presidente russo, Vladimir Putin, recebeu o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, seu aliado embora membro da União Europeia e da Otan, em uma forma de afronta destinada a mostrar certa divisão no campo ocidental.

Blinken "pediu a desescalada russa imediata e a retirada de tropas e equipamentos das fronteiras da Ucrânia", disse o porta-voz do Departamento de Estado. Também "pediu para seguir um caminho diplomático".

Mas um alto funcionário americano disse à imprensa que Lavrov não deu "nenhum indício" de "uma mudança nos próximos dias" na fronteira ucraniana, onde o Ocidente acusa Moscou de ter concentrado mais de 100.000 soldados, visando uma possível invasão ao país vizinho.

"Continuamos ouvindo essas garantias de que a Rússia não planeja invadir, mas certamente cada ação que vemos diz o contrário", disse o responsável sob condição de anonimato.

A Rússia nega qualquer intenção bélica, mas condiciona qualquer desescalada a garantias para sua segurança, particularmente que a Ucrânia nunca será membro da Otan e que a Aliança Atlântica vai retirar suas forças de suas posições de 1997, ou seja, antes de suas sucessivas ampliações na Europa do Leste.

- Espera de nova resposta russa -
Os Estados Unidos rejeitaram esses pedidos em uma carta na semana passada e abriram a porta para negociações sobre outros assuntos, como o lançamento de mísseis ou os limites recíprocos aos exercícios militares.

A conversa entre Blinken e Lavrov foi a primeira desde essa carta americana.

Embora Blinken tenha reiterado a ameaça de sanções "rápidas e severas" em caso de uma ofensiva russa, disse que os Estados Unidos queriam "continuar um diálogo substantivo com a Rússia sobre preocupações de segurança mútua".

"Blinken concordou que há razões para continuar o diálogo. Veremos como será", disse Lavrov à televisão russa.

Segundo o alto responsável americano, o próximo passo será a entrega por parte da Rússia aos Estados Unidos, em uma data indeterminada, de uma "resposta formal" validada por Putin à carta enviada por Washington.

Como sinal de apoio enquanto dezenas de milhares de soldados russos seguem mobilizados na fronteira com a Ucrânia, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson está previsto viajar a Kiev, onde seu homólogo polonês, Mateusz Morawiecki, já visitou.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, elogiou o crescente apoio diplomático e militar ocidental a Moscou, "o maior" desde 2014, quando a Rússia anexou a península ucraniana da Crimeia.

- Ameaça de sanções -
Para dissuadir Moscou de qualquer agressão, o Ocidente também acelerou seus preparativos para impor medidas econômicas punitivas.

Estados Unidos e Reino Unido, uma das áreas de investimento favoritas dos oligarcas russos, disseram na segunda-feira que iriam sancionar as pessoas próximas ao Kremlin.

No Reino Unido, os russos ricos correrão o risco de congelamento de ativos no país e também podem ficar proibidos de entrar no território. Cidadãos e empresas britânicas também podem ficar proibidos de fazer transações com eles.

"Não vamos recuar nem ficar quietos ouvindo as ameaças de sanções dos Estados Unidos", respondeu nesta terça-feira a embaixada russa em Washington em sua página do Facebook.

Orban em Moscou

Enquanto Moscou privilegiou desde o início desta crise os contatos diretos com Washington, os europeus tentam se manter no jogo diplomático.

Durante uma conversa telefônica nesta terça-feira, o chefe do governo italiano Mario Draghi pediu a Putin para "desescalar".

Na segunda-feira, na véspera de sua viagem a Kiev, Boris Johnson pediu à Rússia para "dar um passo atrás e começar um diálogo".

Como resposta a este front ocidental, o presidente russo recebeu na terça-feira o húngaro Orban, cuja viagem é criticada pela oposição devido às tensões em torno da Ucrânia.

Putin, que não se pronuncia sobre o assunto ucraniano desde o final de dezembro, dará uma entrevista coletiva com seu anfitrião no final da tarde.

 

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