CRISE

Ucrânia desafia ameaça de invasão; Otan não constata retirada de tropas russas

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, prometeu que seu país resistirá a qualquer invasão, enquanto a Otan informou que não constatou nenhuma retirada militar por parte da Rússia na fronteira com a ex-república soviética

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AFP

Publicado em 16/02/2022 às 19:02 | Atualizado em 16/02/2022 às 19:11
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O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, prometeu nesta quarta-feira (16) que seu país resistirá a qualquer invasão, enquanto a Otan informou que não constatou nenhuma retirada militar por parte da Rússia na fronteira com a ex-república soviética.

Zelensky, que decretou um "Dia da Unidade" nesta quarta-feira, assistiu a algumas manobras militares perto de Rivné, no oeste, onde uma fileira de veículos foi destruída por mísseis e vários blindados dispararam em meio a um deserto amarelado.

Depois, viajou para a cidade de Mariupol, a última cidade do leste controlada pelo governo. É considerada um dos territórios sob ameaça em caso de invasão, já que está a quase 20 quilômetros dos separatistas pró-russos que mantêm um conflito armado.

"Não temos medo de nenhuma eventualidade, não temos medo de ninguém, de nenhum inimigo", disse Zelensky, que vestia um casaco verde de estilo militar. "Nós nos defenderemos". "Protejam seu país", insistiu.

Em solidariedade a Zelensky, o embaixador da União Europeia na Ucrânia, Matti Maasikas, e os embaixadores da Espanha, Estônia, Polônia e Alemanha também se deslocaram para Mariupol.

Mas o presidente ucraniano negou ter observado qualquer indício de que as tropas russas estejam se retirando.

"Estamos vendo pequenas rotações. Não chamaria essas rotações de uma retirada das forças por parte da Rússia", comentou na televisão. "Não vemos nenhuma mudança", acrescentou.

Devido ao "Dia da Unidade", muitas ruas de Kiev estão cheias de bandeiras. Em algumas escolas da capital, foram organizados exercícios de retirada.

Essas manifestações patrióticas coincidiram com o apelo do Kremlin por "negociações sérias" com os Estados Unidos, enquanto líderes europeus continuam pedindo uma solução negociada para a crise.

'Nova normalidade'

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, que presidiu uma reunião dos ministros da Defesa da Aliança em Bruxelas, descartou que a ameaça na fronteira tenha diminuído, depois que a Rússia afirmou que começou a retirar seus soldados.

O responsável anunciou que a Otan reforçará suas defesas no leste da Europa com mais mobilizações em seus países-membros fronteiriços com a Ucrânia.

Nesta quarta-feira, centenas de paraquedistas dos Estados Unidos chegaram ao aeroporto de Rsezsow, na Polônia, um país-membro da Otan.

Stoltenberg denunciou a "nova normalidade para a segurança" na Europa imposta pela Rússia, que consiste em "contestar os princípios fundamentais com o uso da força".

Sobre as supostas retiradas dos soldados russos, declarou: "Não verificamos nenhuma desescalada no terreno até agora. Pelo contrário, parece que a Rússia continua reforçando sua presença militar".

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse à rede ABC News que Washington não viu "uma retirada significativa" das tropas russas.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que há "poucas provas" de uma retirada russa. Após uma conversa por telefone com o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, os dois líderes concordaram que uma invasão russa teria "consequências catastróficas".

O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, afirmou que a Rússia mantêm "tantas forças" como antes na fronteira com a Ucrânia e que os anúncios de Moscou devem "ser verificados".

Os líderes da União Europeia planejam participar de uma reunião nesta quinta-feira na qual discutirão a situação na Ucrânia.

Aposta diplomática

A mobilização de mais de 100.000 soldados russos na fronteira com a Ucrânia foi classificada pelos Estados Unidos como um risco de uma invasão iminente e é considerada a pior crise de segurança na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Os ocidentais alertaram que aplicariam novas sanções econômicas em massa contra a Rússia em caso de ofensiva, o que o Kremlin nega querer fazer.

O Exército russo anunciou que concluiu seus exercícios e que seus soldados estavam se retirando da península anexada da Crimeia, no sul da Ucrânia, publicando um vídeo que mostra uma retirada das tropas e do arsenal militar em um trem.

Belarus também afirmou que todos os soldados russos mobilizados em seu território no marco de manobras abandonarão o país em 20 de fevereiro, enquanto os exercícios terminam.

Os Estados Unidos pediram mais provas dessa desescalada, embora o presidente Joe Biden tenha estendido a mão e se declarado aberto a encontrar uma solução pela via diplomática, um anúncio aplaudido pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

"O presidente dos Estados Unidos também ter expressado sua disposição a negociações sérias é algo positivo", afirmou.

O governo russo lamenta que os ocidentais tenham rejeitado suas principais exigências, como pedir que a Otan acabe com sua política de expansão e que proíba uma eventual adesão da Ucrânia à Aliança Atlântica, além da retirada da infraestrutura militar da Otan do leste da Europa.

Os ocidentais propuseram iniciar um diálogo sobre questões como o controle do armamento.

A Ucrânia acusou Moscou de um ataque cibernético em massa do qual foi vítima na terça-feira e que afetou principalmente o site do Ministério da Defesa e cerca de 15 bancos. "A Rússia não tem nada a ver com nenhum ataque cibernético", respondeu Dmitri Peskov nesta quarta-feira.

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