CRISE UCRANIANA

Talvez Brasil esteja do lado oposto ao da maioria, dizem Estados Unidos após ida de Bolsonaro à Rússia

Porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, realizou críticas ao regime russo e considerou que a grande maioria da comunidade internacional concorda com os EUA nesta avaliação

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Estadão Conteúdo

Publicado em 18/02/2022 às 18:33 | Atualizado em 18/02/2022 às 18:53
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Porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki foi questionada nesta sexta-feira (18) sobre o fato de que o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, expressou "solidariedade" ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante visita nesta semana ao país. Em sua resposta, ela realizou críticas ao regime russo e considerou que a grande maioria da comunidade internacional concorda com os EUA nesta avaliação.

Jen Psaki fez a ressalva de que não havia falado sobre a declaração do líder brasileiro com o presidente norte-americano, Joe Biden, mas prosseguiu: "O que diria é que a grande maioria da comunidade global está unida em sua visão compartilhada de que invadir outro país, tentar tomar parte de suas terras e aterrorizar seu povo certamente não está alinhado com os valores globais, então talvez o Brasil esteja do outro lado de onde está a maioria da comunidade global."

Bombardeios e evacuações aumentam temor de invasão russa

Os confrontos se multiplicaram, nesta sexta-feira (18), no leste da Ucrânia, onde separatistas ordenaram a evacuação de civis para a Rússia, gerando novos temores de que o presidente Vladimir Putin esteja finalizando os preparativos para invadir o país.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, denunciou a implementação de "um cenário" de "provocações" desenhado pelos russos para justificar um ataque contra a Ucrânia, após dois dias de enfrentamentos. As autoridades das regiões separatistas do leste do país ordenaram a evacuação dos civis.

Um porta-voz do Departamento de Estado americano considerou "cínico e cruel utilizar seres humanos como peões, com o objetivo de distrair a atenção para o fato de que a Rússia está reforçando suas tropas para um ataque".

E o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, garantiu que o exército russo estava enviando "mais forças", se preparando para uma intervenção "ao se aproximar da fronteira, posicionando tropas, aumentando suas capacidades logísticas".

Um funcionário americano estimou que a Rússia contava com 190.000 efetivos nas imediações da Ucrânia e em seu território, incluindo as forças separatistas. Até agora, falava-se de 150.000 nas fronteiras do país.

O presidente dos EUA, Joe Biden, manterá uma reunião por videoconferência com os mandatários de vários países europeus e da Otan e deve fazer declarações a respeito às 21h00 GMT (18h00 em Brasília).

O presidente russo, por sua vez, acusou a Ucrânia de atiçar o conflito e admitiu um "agravamento da situação" em Donbass, a região onde o Exército ucraniano enfrenta há oito anos as forças separatistas.

"Tudo o que Kiev tem que fazer é ir para a mesa de negociações com os representantes de [os separatistas] Donbass e conversar", afirmou Putin ao receber o presidente de Belarus, seu aliado Alexander Lukashenko.

Levante armado

Durante todo o dia, os beligerantes se acusaram mutuamente de violar uma trégua e de utilizar armas pesadas.

Os países ocidentais ameaçaram a Rússia com sanções econômicas em caso de um ataque à Ucrânia.

"As sanções virão, aconteça o que acontecer. Com ou sem razão, eles vão encontrar uma, pois seu objetivo é interromper o desenvolvimento da Rússia", afirmou Putin.

O barulho das bombas era facilmente perceptível em Stanytsia Luganska, uma localidade ucraniana controlada por forças governamentais nas proximidades da linha de frente, segundo os jornalistas da AFP no local. Ontem, a cidade foi alvo de bombardeios, que atingiram um jardim de infância, em um ataque que, milagrosamente, não deixou mortos.

Denis Pushilin, dirigente separatista da região de Donetsk, anunciou a evacuação de civis para a Rússia, "em primeiro lugar, mulheres, crianças e idosos".

Leonid Pasechnik, líder de Lugansk, fez o mesmo e pediu a "todos os homens capazes de portar uma arma que defendam sua pátria".

Putin ordenou o pagamento de um auxílio de 10.000 rublos (cerca de 129 dólares) a cada evacuado dessas regiões. As emissoras de televisão da Rússia exibiram imagens de evacuações de crianças em um orfanato.

"Isso não está acontecendo", declarou, contudo, o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, esta sexta-feira, diante dos deputados.

Segundo o governo americano, a Rússia estaria buscando um "pretexto" para atacar a Ucrânia, e o aumento da violência em Donbass poderia ser um deles, já que Moscou se considera, segundo os ocidentais, o defensor das populações russófonas da região, entre as quais distribuiu passaportes russos no passado.

14.000 mortos

Nesta sexta-feira foram reportadas dezenas de violações do cessar-fogo, mas nenhuma das partes informou sobre mortes na linha de frente, que tem centenas de quilômetros. Desde 2014, o conflito resultou na perda de mais de 14.000 vidas.

Os observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE, na sigla em inglês) informaram que houve um aumento significativo de disparos, com 189 violações do cessar-fogo na região de Donetsk na quinta-feira, em comparação com as 24 do dia anterior. Em Lugansk, por sua vez, foram 402 violações na quinta e 129 na quarta-feira.

O ministro de Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, acusou a OSCE de parcialidade e de "atenuar os pontos que indicam a culpabilidade das forças armadas ucranianas".

Os acordos de paz firmados em 2015, em Minsk (Belarus), permitiram instaurar um cessar-fogo e reduzir consideravelmente os confrontos, que, no entanto, vez ou outra, continuavam acontecendo.

A Rússia, que já anexou parte do território ucraniano, a península da Crimeia, em 2014, nega qualquer intenção de invadir a Ucrânia.

O Kremlin, no entanto, exige garantias para a sua segurança, como o fim da política de expansão da Otan, impossibilitando uma eventual adesão da Ucrânia, e que o Ocidente se comprometa a não posicionar armas ofensivas perto do território russo, além de retirar suas infraestruturas na Europa Oriental. Essas demandas, porém, têm sido rejeitadas pelos países ocidentais.

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