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Ofensiva russa na Ucrânia abala campanha presidencial na França

O lançamento da ofensiva russa na madrugada de quinta-feira foi um retrocesso nos esforços do presidente francês

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AFP

Publicado em 25/02/2022 às 10:35
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A invasão russa da Ucrânia atingiu a disputa presidencial na França, onde os candidatos se viram obrigados a adaptar sua estratégia, principalmente o presidente Emmanuel Macron, preso no limbo de uma campanha ainda não lançada, a um mês e meio da eleição.

Macron tinha como meta conseguir uma desescalada na crise na Ucrânia antes de confirmar sua candidatura à reeleição, razão pela qual nas últimas semanas atuou, sem sucesso, como mediador entre seus colegas russo, Vladimir Putin, e o ucraniano, Volodimir Zelensky.

O lançamento da ofensiva russa na madrugada de quinta-feira foi um retrocesso em seus esforços e o obrigou a se envolver ainda mais na gestão internacional da crise, deixando de lado a confirmação de sua candidatura e de sua campanha, prevista para a próxima semana.

O chefe de Estado centrista encadeou contatos com seus pares do G7, da UE e da Otan. Nesta sexta-feira, conversou com seus antecessores, o socialista François Hollande e o conservador Nicolas Sarkozy, antes de enviar uma mensagem às duas câmaras do Congresso.

A ofensiva russa é "um ponto de virada na história da Europa e do nosso país", com "consequências profundas e duradouras nas nossas vidas", alertou Macron na quinta-feira num discurso solene, ao lado de bandeiras da França, Ucrânia e União Europeia.

Ao contrário de sua tentativa de mediação entre Kiev e Moscou, criticada por seus principais rivais na eleição presidencial, o ataque russo à Ucrânia conseguiu a rejeição unânime de todos os candidatos, da extrema-direita à esquerda radical na França.

E chamou a atenção em uma campanha sem intensidade que aguarda Macron, líder nas pesquisas. O cientista político Mathieu Gallard, da Ipsos, estimou no Twitter que o "efeito da guerra na Ucrânia" é que finalmente "não há campanha ou debate substantivo" na França.

Mas a crise representa uma faca de dois gumes para o atual presidente, pois por um lado ele pode reforçar sua aura presidencial, mas ao mesmo tempo deve mostrar que pode proteger os franceses dos efeitos dessa guerra, segundo analistas.

A política internacional não costuma pesar na campanha presidencial, a menos que tenha consequências para os cidadãos. E, em um contexto em que a principal preocupação dos franceses é o poder de compra, os rivais de Macron recorrem a essa carta.

A alta dos preços dos combustíveis já incentivou o protesto social dos "coletes amarelos" que abalaram o mandato de Macron na França em 2018 e 2019 e, há meses, o governo tenta limitar a alta dos preços da energia.

"As sanções financeiras contra a Rússia criam um enorme risco de retaliação contra os produtos europeus, com os produtos agrícolas novamente em primeiro plano", alertou Christiane Lambert, presidente do principal sindicato agrícola francês FNSEA, na terça-feira.

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