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Putin e Ocidente: da curiosidade ao cataclismo

Presidente da Rússia, Vladimir Putin está no poder há mais de 20 anos

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AFP

Publicado em 27/02/2022 às 12:37 | Atualizado em 27/02/2022 às 19:07
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As duas décadas de relações do presidente russo Vladimir Putin com o Ocidente, inicialmente marcadas pelo fascínio pelo ex-agente da KGB e depois por alguma cooperação, chegaram a um ponto sem retorno com sua invasão da vizinha Ucrânia.

O ataque criou uma cisão indelével entre a Rússia, a União Europeia e os Estados Unidos enquanto Putin estiver no poder, e Moscou pode voltar os olhos para a China como seu principal aliado.

A Rússia passou grande parte do governo de Putin como membro do Grupo das Oito principais economias. O líder russo assegurou que em 2000 chegou a sugerir ao então presidente americano, Bill Clinton, que seu país integrasse à Otan.

Quando o presidente Boris Yeltsin promoveu Putin de chefe de segurança a primeiro-ministro e depois presidente, em 1999, o Ocidente sabia pouco quem ele era.

Em uma reunião com Putin em junho de 2001, o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, declarou que olhava o líder russo nos olhos e podia "sentir sua alma".

Mas Putin continua sendo um enigma para a maioria dos países ocidentais.

Apesar da crise causada pela invasão russa da Geórgia em 2008 e a anexação da península ucraniana da Crimeia em 2014, a cooperação continuou, às vezes de forma intensa.

Poucos governantes ocidentais investiram tanto no relacionamento com Putin quanto o presidente francês Emmanuel Macron. Em entrevista à revista The Economist em novembro de 2019, Macron argumentou que a Otan estava em morte cerebral e que a Europa precisava de um diálogo estratégico com a Rússia.

Ao analisar as opções estratégicas da Rússia sob Putin, Macron comentou na entrevista que Moscou não poderia prosperar isoladamente, nem queria ser um "vassalo" da China, pelo qual acabaria optando por "um projeto de aliança com a Europa".

Ainda na semana passada, Macron buscou ansiosamente uma ação diplomática para evitar a catástrofe, chegando até mesmo a organizar uma cúpula entre Putin e o presidente dos EUA, Joe Biden.

 

Mas ao anunciar a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, Putin recitou uma litania de reivindicações históricas e políticas para justificá-la.

Usou seus argumentos de que a Rússia foi apunhalada pelas costas pelo Ocidente com "mentiras cínicas" sobre a expansão da Otan.

Em um discurso de 2007, na conferência de segurança de Munique, Putin criticou o papel dos EUA, dizendo que um mundo de "um líder, um soberano" seria "pernicioso" para todos.

Mas para Macron há apenas uma pessoa responsável pela situação atual.

"A guerra voltou para a Europa, foi uma escolha unilateral do presidente Putin", declarou no sábado.

A ex-chanceler alemã Angela Merkel, que tinha mais experiência com Putin do que qualquer outro líder ocidental e podia falar com ele em russo, comentou que "a guerra de agressão russa marca uma virada profunda na história europeia após o fim da Guerra Fria".

A Rússia enfrenta agora as sanções mais duras da União Europeia, Estados Unidos e Reino Unido, incluindo o encerramento do gasoduto Nord Stream 2 para a Alemanha.

Suas companhias aéreas estão proibidas de sobrevoar o território de alguns países europeus, suas equipes esportivas não são bem-vindas em torneios e até artistas que não condenam a invasão podem se ver marginalizados do Ocidente.

"Chegamos à linha além da qual é o ponto sem retorno", disse a porta-voz do ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zajarova, na televisão.

Por enquanto, Putin pode encontrar algum consolo em seu relacionamento com a China, embora Pequim tenha se abstido em uma resolução da ONU condenando a agressão russa.

"Isolada do Ocidente, a Rússia não tem escolha a não ser se tornar o parceiro menor da China", argumenta Charles Grant, diretor do Centre for European Reform, em Londres.

"Pequim é ambivalente sobre a invasão, não critica a Rússia em público e culpa os Estados Unidos, mas valoriza a estabilidade e a integridade territorial", acrescentou.

Dmitry Trenin, diretor do Carnegie Moscow Center, previu repercussões "de longo alcance" da invasão que marcou o "fim da era pós-soviética para a Rússia" e inaugurou um período de "muito mais dependência da China".

 

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