Gabriel Boric assume presidência do Chile com promessa de mudança
Boric, de 36 anos, tornou-se o presidente mais jovem do país, em um dos momentos mais desafiadores desde o fim da ditadura de 17 anos de Augusto Pinochet, em 1990
Gabriel Boric tomou posse como presidente do Chile nesta sexta-feira (11), com uma maioria de mulheres no comando, que anuncia uma mudança de rumo em um país abalado por uma crise sem precedentes em seu modelo social.
"Diante do povo e dos povos do Chile, sim, prometo", disse Boric erguendo o punho esquerdo e assinando, depois de um grande suspiro, sua posição como a mais alta autoridade do país sul-americano.
Contendo a emoção na voz, o novo presidente chileno expressou um "grande senso de responsabilidade e dever com o povo".
"Faremos o possível para enfrentar os desafios que enfrentamos como país", disse ele em um discurso, visivelmente emocionado, na conclusão da cerimônia de posse no Congresso de Valparaíso, a 120 km de Santiago.
Boric voltou à casa presidencial em Cerro Castillo, de frente para o Pacífico, onde a diplomata da Ilha de Páscoa, Manahi Pakarati, recebeu como diretora de Protocolo cada convidado: os presidentes do Uruguai, Luis Lacalle Pou; da Argentina, Alberto Fernández; do Peru, Pedro Castillo; Rei Felipe VI da Espanha; Luis Arce, da Bolívia; e a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, além do candidato colombiano Gustavo Petro.
Boric, de 36 anos, tornou-se o presidente mais jovem do país, em um dos momentos mais desafiadores desde o fim da ditadura de 17 anos de Augusto Pinochet, em 1990.
O ex-líder estudantil se emocionou, contendo as lágrimas, ao receber a faixa presidencial ao lado de Piñera, empresário milionário de 72 anos, que encerra seu segundo mandato (2010-2014; 2018-2022) como parte de um ciclo político que trouxe progresso graças a um modelo neoliberal, mas também uma grande lacuna na desigualdade social que motivou protestos massivos em outubro de 2019.
"Esperança para o povo", "a história é nossa e o povo a faz", diziam as faixas de Maritza López, 62, dona de casa que veio com alguns amigos de Coronel, cidade 600 quilômetros ao sul de Santiago. Os simpatizantes não puderam se aproximar por causa do amplo cordão de segurança.
Sinais e símbolos
Das pitorescas colinas de Valparaíso, os vizinhos reclamaram porque queriam ver Boric, que desceu do Ford Galaxy em que fez um passeio formal com sua ministra do Interior, Izkia Siches, também de 35 anos.
O carro foi conduzido pela primeira vez por uma mulher, Carabineros NCO Lorena Cid, parte de sua escolta desde novembro de 2021.
"Da mesma forma, as pessoas desceram das colinas para protestar (por Piñera). Agora temos um presidente de verdade, Gabriel Boric se torna presidente do Chile como promessa de uma nova esquerda", disse à AFP Ana María Soto, estudante de 20 anos.
Após a cerimônia, os ministros prestaram juramento perante o presidente Boric, começando por Izkia Siches, médica de 35 anos, a primeira mulher a assumir a pasta do Interior.
Como a maioria do círculo político mais próximo de Boric, Siches também faz parte da geração de estudantes que, como o presidente, em 2011 exigiram melhor acesso à educação gratuita e de qualidade e expuseram as lacunas sociais.
Esperança de bem-estar
Boric pretende iniciar uma trajetória para um Estado de Bem-Estar no estilo da social-democracia europeia, para transformar o Chile do neoliberalismo, onde 1% da população possui 26% da riqueza.
"Este é um governo que chega ao poder em um clima político muito fragmentado, que não tem maioria parlamentar e, portanto, não tem a possibilidade de fazer reformas muito radicais no curto prazo", estima Claudia Heiss, acadêmica de Ciência Política da Universidade do Chile.
No entanto, "há esse otimismo que vem do processo constituinte e um impulso de superação do neoliberalismo que é visto com menos medo até mesmo por setores conservadores, porque há uma espécie de sentimento antineoliberal no mundo", afirmou.
O esquerdista assume o cargo em meio a uma crise de credibilidade na política, um corte de 22,5% nos gastos públicos, previsão de desaceleração da economia para este ano, grande migração irregular e um histórico conflito fundiário não resolvido entre o Estado e o povo mapuche.
A troca de comando do atual presidente conservador Sebastián Piñera (2010-2014; 2018-2022) será no Congresso, localizado no porto de Valparaíso, a 150 km de Santiago.
Seu governo terá de trabalhar por saúde, educação e aposentadoria, além de reduzir a desigualdade social, demandas que surgiram no surto social de outubro de 2019 que abalou o país considerado um dos mais estáveis da região.
Outro desafio será angariar apoio para o processo constitucional, que este ano deve convocar um plebiscito para aprovar, ou rejeitar, uma nova Constituição que substitua a atual Carta Magna, herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).