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Rússia promete desescalada na Ucrânia, mas Ocidente pede que não se baixe a guarda

Vice-ministro da Defesa russo, Alexander Fomin, disse que a medida visa "aumentar a confiança" nas negociações destinadas a encerrar os combates

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Estadão Conteúdo

Publicado em 29/03/2022 às 10:18 | Atualizado em 29/03/2022 às 21:53
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Atualizada às 21h52
A Rússia se comprometeu nesta terça-feira (29) com uma desescalada em torno das cidades de Kiev e Chernihiv na Ucrânia, que viu sinais "positivos" na última reunião de negociação, mas as potências ocidentais pediram para não baixar a guarda até verificar que Moscou está cumprindo com sua palavra.
O anúncio russo foi feito após uma reunião dos negociadores em Istambul, com o objetivo de buscar uma saída para um conflito que começou com a invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro e que já deixou milhares de mortos e milhões de deslocados.
O vice-ministro da Defesa da Rússia, Alexander Fomin, afirmou em Moscou que "as negociações sobre um acordo de neutralidade e o status não nuclear da Ucrânia entram em uma dimensão prática" e que a Rússia decidiu reduzir de maneira "radical" sua atividade militar em torno de Kiev, a capital do país, e Chernihiv, no norte.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, afirmou que viu sinais "positivos" nas negociações de Istambul, mas garantiu que seu país não reduziria seus "esforços de defesa" diante da invasão russa.

O Estado-Maior ucraniano advertiu em um comunicado nesta terça-feira à noite que "a chamada 'retirada de tropas' é provavelmente uma rotação de unidades individuais que busca confundir o comando militar" de Kiev.

- Ceticismo ocidental -
Os anúncios russos foram recebidos com ceticismo e receio pelas potências ocidentais, que após a invasão impuseram um arsenal de sanções econômicas à Rússia. Zelensky, por sua vez, pediu a esses países que mantenham a pressão "até que a guerra tenha acabado".

Em uma conversa telefônica, os chefes de Estado e de governo do Reino Unido, Estados Unidos, França, Alemanha e Itália pediram a seus aliados para não baixar a guarda.

Boris Johnson (Reino Unido), Joe Biden (EUA), Emmanuel Macron (França), Olaf Scholz (Alemanha) e Mario Draghi (Itália) "afirmaram sua determinação de continuar elevando os custos para a Rússia por seus ataques brutais na Ucrânia, assim como de continuar oferecendo à Ucrânia assistência em matéria de segurança para se defender", diz um comunicado conjunto desses países.

"Veremos se [os russos] vão cumprir", declarou Biden aos jornalistas.

O Pentágono indicou que alguns contingentes russos "parecem estar se distanciando de Kiev", sem que isso possa ser chamado de "um retrocesso ou uma retirada".

"Acreditamos que o que eles [os russos] provavelmente têm em mente é um reposicionamento para priorizar outros lugares", disse o porta-voz do Departamento de Defesa dos EUA.

As bolsas se mostraram menos céticas e operaram com ganhos importantes.

- Doze mortos em Mykolaiv -
Os combates já obrigaram mais de 10 milhões de pessoas (cerca de um quarto da população) a abandonar seus lares e, segundo Zelensky, deixaram ao menos 20.000 mortos.

Muitas regiões continuam sendo palco de bombardeios e combates. O governo anunciou que doze pessoas morreram e 33 ficaram feridas por um bombardeio russo contra um edifício do governo regional em Mykolaiv, uma cidade portuária do sul.

A Ucrânia afirma ter recuperado território nos últimos dias, incluída a cidade de Irpin, nos arredores de Kiev. Também retomaram as evacuações de áreas do sul assediadas pelas forças russas.

Desde o início do conflito, Putin exige a "desmilitarização e desnazificação da Ucrânia", assim como a imposição de um status de neutralidade para o país e o reconhecimento de que o Donbass, a região separatista pró-Rússia no leste da Ucrânia, e a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, já não fazem parte da Ucrânia.

Em resposta às sanções ocidentais, a Rússia afirmou sua determinação de exigir o pagamento em rublos do gás distribuído para a União Europeia (UE).

Moscou também anunciou que expulsaria dez diplomatas de Estônia, Letônia e Lituânia, em represália à expulsão de diplomatas russos.

Mas a escalada de expulsões continuou nesta terça-feira: a Bélgica anunciou que decidiu expulsar 21 diplomatas russos suspeitos de espionagem, a Holanda 17, a Irlanda quatro e a República Tcheca um.

- Putin condiciona evacuação de Mariupol -
As forças ucranianas contra-atacam no norte e lutam para manter o controle da cidade portuária de Mariupol, no sul.

As forças russas cercaram essa cidade e a bombardeiam de maneira constante e indiscriminada, deixando cerca de 160.000 pessoas presas com pouca comida, água e remédios.

O presidente russo, Vladimir Putin, subordinou a "solução" da situação humanitária em Mariupol o desarmamento dos grupos "nacionalistas" ucranianos, durante uma conversa telefônica com seu homólogo francês, Emmanuel Macron, informou o Kremlin.

A França, que na semana passada anunciou sua intenção de organizar junto com a Turquia e a Grécia uma operação humanitária para evacuar os civis, estimou nesta terça-feira que as condições para a sua realização "não estão presentes no momento".

Zelensky disse que o assédio russo de Mariupol constituía um "crime contra a humanidade, que está ocorrendo ao vivo diante dos olhos do mundo".

- ONU visita instalações nucleares -
As potências ocidentais afirmam ter provas de crimes de guerra cometidos na Ucrânia, investigados pelo Tribunal Penal Internacional.

A procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, disse na segunda-feira que havia provas de que as forças russas usaram bombas de fragmentação proibidas em Odessa e Kherson, no sul.

Biden expressou sua "indignação moral" pelo desenvolvimento da guerra e, no último fim de semana, chegou a sugerir que Putin "não pode continuar no poder", mas depois negou que busque uma mudança de governo.

O conflito também gerou temores sobre a segurança nuclear depois que a Rússia tomou várias instalações, entre elas a antiga usina de Chernobyl, onde aconteceu o pior desastre nuclear do mundo, em 1986.

O chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o argentino Rafael Grossi, visitou a Ucrânia nesta terça-feira (29) para falar da "segurança e proteção" das instalações nucleares do país.

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