GUERRA

Bombardeios russos provocam dúvida sobre desescalada do conflito na Ucrânia

A Rússia afirmou nesta quarta-feira (30) que não vê nada de "promissor" nas negociações de paz com a Ucrânia, que a acusou de bombardear a cidade de Chernihiv e um centro da Cruz Vermelha em Mariupol

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AFP

Publicado em 30/03/2022 às 20:19
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A Rússia afirmou nesta quarta-feira (30) que não vê nada de "promissor" nas negociações de paz com a Ucrânia, que a acusou de bombardear a cidade de Chernihiv e um centro da Cruz Vermelha em Mariupol.

"Os ocupantes bombardearam deliberadamente um prédio do CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) em Mariupol", acusou Liudmila Denisova, chefe de direitos humanos do Parlamento ucraniano, sem apresentar relatórios sobre possíveis vítimas.

No norte, Chernihiv foi "bombardeada durante a noite", disse o governador regional, Viacheslav Chaus.

Depois do porto estratégico de Mariupol (sul), Chernihiv, que tinha 280 mil habitantes antes da guerra, é a cidade mais atingida pelos bombardeios desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro.

O porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, jogou um balde de água fria nas expectativas criadas pelas negociações de terça-feira em Istambul.

"No momento, não podemos informar nada muito promissor ou um avanço. Há muito trabalho por fazer", declarou Peskov.

O vice-ministro da Defesa russo, Alexander Fomin, no entanto, afirmou na terça-feira que, após essas negociações, a Rússia decidiu "reduzir radicalmente" sua atividade militar em torno de Kiev e Chernihiv.

Essas promessas, porém, foram recebidas com ceticismo pela Ucrânia e seus aliados ocidentais.

"A chamada 'retirada de tropas' é provavelmente uma rotação de unidades individuais com o objetivo de enganar o comando militar das forças armadas ucranianas", declarou o Estado-Maior ucraniano.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o colega ucraniano, Volodimir Zelensky, falaram por telefone sobre capacidades militares "adicionais" necessárias para ajudar os militares da Ucrânia, informou a Casa Branca.

"A guerra continua. No momento, até onde eu sei, não há progresso ou notícias", disse o ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, pediu que o ocidente "continue a intensificar as sanções" contra a Rússia até que o último dos soldados russos se retire da Ucrânia.

A Eslováquia anunciou a expulsão de 35 diplomatas russos, além das dezenas expulsas no dia anterior pela Bélgica, Holanda, Irlanda e República Tcheca.

- "Crimes de guerra" -

Durante a noite, foram escutadas diversas vezes as sirenes de alerta em Kiev e seus arredores.

"Nas últimas 24 horas, os russos bombardearam 30 vezes as áreas residenciais e as infraestruturas civis da região de Kiev", anunciou o governador da região, Olaxander Pavliuk, que citou a zona norte da capital (Bucha, Irpin, Vyshgorod, Brovary) como a área mais afetada.

Em Irpin, anunciada como "libertada" na segunda-feira pelos ucranianos, foram ouvidas explosões nesta quarta-feira pela manhã, segundo jornalistas da AFP.

O exército ucraniano também recuperou o controle de uma estrada estratégica no leste do país, verificaram os repórteres da AFP.

"Há cadáveres russos espalhados por toda parte", disse um funcionário da inteligência ucraniana à AFP, afirmando que "os soldados russos estavam exaustos".

A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, assegurou que os bombardeios e ataques indiscriminados da Rússia contra áreas povoadas da Ucrânia geram "imensa preocupação" e podem constituir "crimes de guerra".

Segundo o gabinete de Bachelet, desde o início da invasão e até terça-feira, 29 de março, 1.189 civis foram mortos, incluindo 98 crianças. Um balanço que, reconhece, está muito aquém da realidade, pois as suas equipas não têm acesso direto aos locais mais expostos, como Mariupol (sudeste), onde foi detectada a presença de valas comuns.

- Quatro milhões de refugiados -

Em cinco semanas de guerra, quatro milhões de ucranianos tiveram que fugir de seu país, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). A Europa não registrava um fluxo de tal intensidade desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No total, mais de dez milhões de pessoas, ou seja, mais de um quarto da população, foram obrigadas a deixar suas casas.

O Programa Alimentar Mundial da ONU (PAM) anunciou que está fornecendo ajuda alimentar de emergência a um milhão de pessoas no país.

Quase 160.000 civis permanecem presos em Mariupol e enfrentam uma "catástrofe humanitária": as pessoas vivem em refúgios sem energia elétrica e sem alimentos e água suficiente, de acordo com os depoimentos ouvidos pela AFP daqueles que conseguiram fugir da cidade.

A prefeitura de Mariupol denunciou nesta quarta-feira que mais de 70 pessoas - mulheres e profissionais da saúde - foram levadas à força para a Rússia.

No nordeste do país, a cidade de Trostyanets, que normalmente tem 20.000 habitantes, foi recapturada no último fim de semana pelas forças ucranianas.

França, Grécia e Turquia tentaram organizar uma evacuação em massa de civis daquela cidade, mas as conversas na terça-feira entre o presidente francês, Emmanuel Macron, e Putin terminaram sem acordo.

A situação em torno das usinas nucleares na Ucrânia continua preocupante. O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o argentino Rafael Grossi, visitou a usina nuclear de Konstantinovka, no sul da Ucrânia, nesta quarta-feira para discutir "assistência técnica" por temor de um acidente.

Por outro lado, as forças russas começaram a se retirar das instalações da extinta usina nuclear de Chernobyl, após terem tomado o controle da central em 24 de fevereiro, informou um alto funcionário da Defesa dos Estados Unidos.

"Chernobyl é uma zona onde estão começando a reposicionar algumas de suas tropas, saindo, afastando-se das instalações de Chernobyl, e entrando em Belarus", disse o funcionário. "Acreditamos que estão partindo, mas não posso dizer-lhes que todos tenham ido embora", acrescentou.

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