Viktor Orban, o governante 'iliberal' de pulso firme na Hungria
Orban, o chefe de Governo há mais tempo no poder na União Europeia (UE), permanecerá, aos 58 anos, no cargo depois de derrotar uma oposição unificada
Da AFP
Patriota para seus apoiadores e autocrata para seus críticos, o poderoso primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, está pronto para continuar sua revolução "iliberal" depois que seu partido Fidesz conquistou o quarto mandato consecutivo nas eleições de domingo.
Orban, o chefe de Governo há mais tempo no poder na União Europeia (UE), permanecerá, aos 58 anos, no cargo depois de derrotar uma oposição unificada.
Seu desprezo pela "elite globalista" e por Bruxelas deu a Orban seguidores, incluindo nacionalistas, mas sua postura neutra sobre a invasão russa da Ucrânia o isolou de seus aliados naturais na Europa, como o governo polonês.
Orban também se aproximou de outros direitistas, como o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro e, pelo menos até recentemente, o presidente russo Vladimir Putin.
Orban começou sua carreira política nos últimos dias do comunismo como estudante de Direito de 26 anos.
Ficou conhecido com um discurso emocionado em 1989 para exigir a democracia e a saída das tropas soviéticas.
Passou então a ser visto como uma das estrelas brilhantes da "nova" Europa, e um legislador em uma Hungria recém-democratizada e otimista, onde cofundou o partido de tendência liberal Aliança de Jovens Democratas (Fidesz).
Mas logo deixou de lado sua imagem de jovem radical e transformou o Fidesz em uma força de centro-direita voltada para a família e os valores cristãos.
A mudança deu certo. Orban mostrou uma capacidade de se conectar com o eleitor comum e se tornou primeiro-ministro em 1998, aos 35 anos.
Seu primeiro mandato foi tumultuado, sofrendo uma derrota humilhante para os socialistas em 2002 e novamente em 2006, antes de voltar com força total em 2010.
Com uma sólida maioria legislativa, Orban impulsionou reformas institucionais e introduziu uma nova Constituição, empurrando sua versão "antiliberal" de democracia.
Também mudou as regras eleitorais para favorecer o Fidesz e foi reeleito em 2014 e 2018 com uma maioria legislativa de dois terços.
Seus críticos dizem que suas mudanças radicais minaram a independência judicial, a liberdade acadêmica, censuraram a imprensa e fraudaram o sistema eleitoral.
As questões geraram repetidos confrontos com a UE, assim como sua virulenta postura antimigratória.
Orban rejeita as críticas da UE ao seu governo, insistindo que defende os interesses da Hungria.
Também caiu em desgraça com o Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, ao qual o Fidesz pertencia.
Depois de anos de outros membros do PPE exigindo mudanças do Fidesz, o partido deixou o bloco em março de 2021 e se aproximou da extrema-direita europeia.
Durante seu mandato, o fluxo de financiamento europeu para a Hungria não parou, até que a Comissão Europeia negou no ano passado a autorização de 7,2 bilhões de euros para seu plano antipandemia, citando preocupações com a corrupção.
Enquanto isso, uma lei aprovada no ano passado proibindo a "promoção" da homossexualidade entre menores irritou ainda mais seus críticos.
Mas seus apoiadores dão o crédito a seu governo pelo baixo desemprego (3,8%) e o forte crescimento econômico de 7,1% em 2021.
Em contrapartida, seus detratores o acusam de patrocinar e promover projetos como um estádio de futebol extravagante em Felscut, sua cidade natal.
Gabor Gyori, do think tank Policy Solutions, indicou que, no novo mandato, Orban buscará continuar construindo "um regime difícil de (...) derrotar eleitoralmente".
Segundo Orban, disse Gyori, para alcançar o poder real "é preciso ter influência em todas as áreas da vida, na economia, dominar a esfera cultural, a educação".
"Ele não tem outra ideia da vida além de fazer isso", acrescentou.