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Batalha das legislativas começa na França após vitória de Macron

As eleições parlamentares, de 12 e 19 de junho, são fundamentais para que o presidente liberal consiga levar adiante seu programa de governo

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Ana Maria Miranda

Publicado em 25/04/2022 às 10:49
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Da AFP

O centrista Emmanuel Macron, reeleito presidente da França, enfrenta a partir desta segunda-feira (25) dois grandes desafios: unir um país dividido após a eleição presidencial e preparar a batalha das legislativas, que a extrema-direita e a esquerda encaram como um "terceiro turno".

Pouco depois do anúncio da vitória de Macron no domingo, quando ele se tornou o primeiro a conseguir a reeleição desde o conservador Jacques Chirac em 2002, seus rivais derrotados anunciaram que buscarão a revanche em junho.

"Lançamos esta noite a grande batalha eleitoral das legislativas", declarou Marine Le Pen após a derrota no segundo turno, quando recebeu quase 41,5% dos votos, contra 58,5% do atual presidente.

"O terceiro turno começa esta noite", afirmou no domingo o esquerdista Jean-Luc Mélenchon, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno ao receber quase 22%.

As eleições parlamentares, de 12 e 19 de junho, são fundamentais para que o presidente liberal consiga levar adiante seu programa para uma "França mais independente", seu projeto "social e ecológico, baseado no trabalho", como prometeu no domingo à noite.

Sua equipe passou à ofensiva nesta segunda-feira. O líder da bancada do partido de Macron, A República Em Marcha (LREM), Christophe Castaner, afirmou que os franceses darão "a ambição e os meios" para poder aplicar o programa com o qual foi eleito.

Entre suas promessas para transformar a França está o "renascimento" da energia nuclear e alcançar a neutralidade de carbono até 2050, mas também a impopular medida de aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 65 anos.

A maioria dos franceses, de acordo com duas pesquisas publicadas logo após sua reeleição, não quer dar ao líder do partido LREM a maioria parlamentar, como a que possui desde 2017 na Câmara, o que abriria a porta para a "coabitação".

"Sem maioria, ele não pode fazer nada. O rei está nu", declarou à AFP Dominique Rousseau, professor de Direito Constitucional da Universidade Panthéon-Sorbonne. Uma vez escolhido pelo presidente, o primeiro-ministro estabelece o rumo do governo.

A França já passou por este modelo. Em 1997, Chirac nomeou como primeiro-ministro o socialista Lionel Jospin. E o presidente conservador havia sido o primeiro-ministro, entre 1986 e 1988, de seu antecessor socialista, François Mitterrand.

Em um sistema de eleição uninominal em dois turnos, o partido de Mélenchon, os ecologistas e os comunistas já negociam uma frente comum para obter a maioria das circunscrições. Em uma extrema-direita dividida, também surgem vozes para apresentar um bloco unido.

A nova ofensiva acontece em um cenário de descontentamento e abstenção, que foi a mais elevada (quase 28%) para o segundo turno presidencial desde 1969. "Um total de 35% dos eleitores não votou, ou votou branco e nulo", resumiu o cientista político Jérôme Jaffré.

E são muitas razões. Os jovens, que já bloquearam escolas nas últimas duas semanas e ocuparam a emblemática universidade de Sorbonne, criticam o balanço do governo Macron nas áreas ecológica e social. Eleitores de esquerda atacam a reforma da Previdência.

O primeiro mandato de Macron foi marcado pelas crises: protestos sociais contra sua política a respeito das classes populares, como o movimento dos "coletes amarelos", uma pandemia mundial que deixou o país em confinamento e a guerra na Ucrânia, que aumentou a preocupação dos franceses sobre seu poder aquisitivo.

A pandemia e sua tentativa de atuar como mediador entre Moscou e Kiev reforçaram a imagem de líder competente em tempos de crise. A União Europeia (UE) recebeu com alívio a reeleição e até o presidente russo, Vladimir Putin, desejou "sucesso" no novo mandato, apesar das tensões sobre a Ucrânia.

Mas suas frases polêmicas forjaram a reputação de "presidente dos ricos" e "arrogante" que ainda o persegue. "Macron tem consciência de que precisa apaziguar", declarou à rádio RTL a ministra do Trabalho, Elisabeth Borne, que é especulada como possível sucessora do atual primeiro-ministro, Jean Castex.

O resultado da eleição foi uma França ainda mais dividida. Consciente da situação, em seu breve discurso de vitória, Emmanuel Macron, de 44 anos, prometeu que será o presidente "de todas e todos os franceses" e destacou um "método renovado" para governar o país.

Os territórios de ultramar representam um desafio particular. A candidata de extrema-direita venceu na maioria destes, como Guadalupe e Martinica, onde Mélenchon havia sido o mais votado no primeiro turno em um contexto de crise social e desconfiança com as medidas anticovid.

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