IRÃ

O que é a polícia da moral, que persegue mulheres iranianas há 15 anos

Durante os últimos 15 anos, as mulheres iranianas que se aventuraram a sair de casa, mesmo que para uma simples tarefa, o fizeram com medo de encontrar com a tristemente conhecida como polícia da moral

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Amanda Azevedo

Publicado em 11/10/2022 às 20:07 | Atualizado em 11/10/2022 às 20:19
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Da AFP

Durante os últimos 15 anos, as mulheres iranianas que se aventuraram a sair de casa, mesmo que para uma simples tarefa, o fizeram com medo de encontrar com a tristemente conhecida como polícia da moral.

Aquelas que não cumprem o estrito código de vestimenta da República Islâmica são conduzidas para uma das vans verdes e brancas das unidades e instruídas sobre como usar o véu. Na pior das hipóteses, são espancadas por ousar violar.

BEHROUZ MEHRI / AFP
Polícia da moral no Irã - BEHROUZ MEHRI / AFP

"Fui pega perto da estação de metrô porque tinha um piercing e estava (... ) vestida de forma inadequada", de acordo com as regras de modéstia do Irã, disse Donya Fard, de 26 anos, à AFP.

BEHROUZ MEHRI / AFP
Polícia da moral no Irã - BEHROUZ MEHRI / AFP

"Foi muito assustador porque eu não estava familiarizada com essas circunstâncias, estava chorando" dentro da van, disse a ativista que agora mora no Chipre, que levou apenas uma advertência.

BEHROUZ MEHRI / AFP
Mulher sendo levada pela polícia da moral no Irã - BEHROUZ MEHRI / AFP

Mas outras mulheres iranianas enfrentaram consequências muito piores. Uma delas foi Mahsa Amini, de 22 anos, que foi presa pela polícia da moral em Teerã, em 16 de setembro, e declarada morta três dias depois.

PASCAL GUYOT / AFP
Protesto após a morte de Mahsa Amini - PASCAL GUYOT / AFP

Sua morte - que ativistas atribuem a uma pancada na cabeça, enquanto as autoridades afirmam ter sido causada por uma doença preexistente - desencadeou uma onda de protestos em que as mulheres, além de sair às ruas para se manifestar, estão queimando seus lenços em público.

O hijab tornou-se obrigatório quatro anos após a revolução de 1979, que derrubou a monarquia apoiada pelos Estados Unidos e estabeleceu a República Islâmica do Irã.

A polícia da moralidade - formalmente conhecida como Gasht-e Ershad, ou "Patrulha de Orientação" - foi criada pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad, um político linha-dura, com o objetivo de "difundir a cultura da modéstia e do hijab".

Essas unidades começaram a patrulhar as ruas em 2006 e, no ano seguinte, passaram a usar violência física e prisões.

- 'Intimidar e assustar' -

O papel desses esquadrões muda e evolui dependendo dos candidatos presidenciais e dos presidentes.

Sob o moderado Hassan Rouhani, tornou-se cada vez mais normal ver mulheres usando jeans justos ou véus coloridos e cada vez mais soltos, mostrando faixas do cabelo.

Mas em julho deste ano, seu sucessor, o ultraconservador Ebrahim Raisi, exigiu a mobilização de "todas as instituições estatais para fazer cumprir a lei do véu".

Apesar disso, as mulheres continuaram a burlar as regras de vestimenta, especialmente nas grandes cidades.

Incapaz de fazer cumprir as regras, a polícia da moral tende a cercar mulheres individualmente para "intimidar e assustar" outras, afirma Omid Memarian, um conhecido ativista e jornalista baseado nos Estados Unidos.

"A morte de Mahsa Amini acontece meses depois de um novo esforço para forçar o uso do hijab em público", explica.

"Os vídeos de homens jogando mulheres dentro de carros de polícia, de policiais agindo com violência, de mulheres gritando e criticando essas regras tornaram a questão delicada", disse à AFP. "As pessoas ficaram furiosas".

- Histórias de terror -

Em protestos que abalam o Irã há semanas, mulheres jovens estão tirando seus véus nas ruas, desafiantes, ao grito de "Mulheres, vida, liberdade", às vezes confrontando diretamente as forças de segurança.

Ser preso pela polícia é motivo de pânico entre as iranianas, dadas as histórias de terror que circulam de mães para filhas ou entre amigas.

Seagull Shahbazi, outra iraniana que vive no Chipre, lembra-se de ter sido parada na rua quando tinha apenas 8 anos e avisada que seria presa se não usasse o lenço na cabeça.

A mulher diz que as punições podem variar de ser enviada para um centro de reeducação com uma ficha policial até ser espancada, açoitada, estuprada ou até mesmo morta.

A polícia da moral parece ter desaparecido das ruas nos últimos dias, mas as forças de segurança se mostram vigilantes, com câmeras de segurança ou informantes anônimos.

Algumas mulheres iranianas disseram nas redes sociais que receberam mensagens de texto da polícia alertando-as por não usarem véu.

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