Prejuízos

Ondas de calor custam mais aos países pobres, aponta estudo

Entre 1992 e 2013, os períodos de calor extremo custaram US$ 16 trilhões à economia mundial

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AFP

Publicado em 30/10/2022 às 6:11
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As ondas de calor, cuja intensidade aumenta com as mudanças climáticas, causam prejuízos de bilhões de dólares em todo o mundo, mas seu impacto econômico é maior nos países pobres, o que reforça as desigualdades, avalia um estudo divulgado na sexta-feira (28).

"O custo do calor extremo foi suportado de forma desproporcional pelos países pobres e as regiões menos responsáveis pelo aquecimento global, e é uma tragédia", comentou o professor da Dartmouth College Justin Mankin, um dos dois autores do estudo, publicado na revista "Science Advances". "As mudanças climáticas acontecem em um panorama de desigualdades econômicas e atuam amplificando as mesmas."

Entre 1992 e 2013, os períodos de calor extremo custaram US$ 16 trilhões à economia mundial, segundo o estudo. Mas enquanto para os países mais ricos os prejuízos equivalem a 1,5% do PIB anual por habitante, para os países mais pobres esse custo representa 6,7%.

A diferença se deve ao fato de muitos dos países mais pobres estarem localizados no nível dos trópicos, de clima mais quente. Dessa forma, em uma onda de calor, as temperaturas chegam a ser excepcionalmente altas.

Esses resultados repercutem a quase uma semana do início da COP27, onde o tema das indenizações reivindicadas pelos países mais vulneráveis - fortemente afetados pelas mudanças climáticas, apesar de serem os que poluem menos - deve ser um dos pontos-chave do debate.

Os custos envolvidos nas ondas de calor provêm de vários setores, como a agricultura, onde, consequentemente, as colheitas são menos abundantes. Os problemas de saúde também sobrecarregam os sistemas de atendimento médico, e a mortalidade elevada reduz a mão de obra.

Para suas estimativas, os pesquisadores se concentraram em cinco dias de calor extremo por ano e conduziram seu estudo em nível regional, com eventos de ondas de calor localizados.

"A ideia geral é observar as variações de calor extremo e ver em que medida isso se reflete nas variações de crescimento econômico", explicou Mankin. "Em uma segunda etapa, observa-se como as mudanças climáticas causadas pelo homem influenciam esses calores extremos", com base em modelos internacionais. "O fato de as consequências econômicas unicamente do calor extremo serem tão grandes deveria nos fazer refletir", considerou o pesquisador.

Estudos anteriores sobre o custo das ondas de calor concentraram-se principalmente em determinados setores. Mas calcular o impacto econômico global é fundamental, ressaltaram os cientistas.

A implementação de "lugares frescos", sistemas de alerta, o reforço dos serviços de emergência, a instalação de ares-condicionados e, em geral, as soluções temporárias e dirigidas sobre essas ondas de calor poderiam se revelar muito rentáveis, aponta o estudo.

"Temos que saber quais são os custos, para podermos ter um marco de referência ao qual comparar o custo da ação", explicou Mankin. Além das adaptações a esse novo clima, "também temos que fazer investimentos enormes" para combater as próprias mudanças climáticas, destacou o especialista, ressaltando que a prioridade é reduzir as emissões de gases do efeito estufa, a fim de não vermos "os custos da falta de ação" explodirem ainda mais.

 

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