Armas nucleares

Ano 2022: a ameaça de um apocalipse

Em meio à guerra e risco de desastre climático, a perspectiva de que o fim do mundo pode estar próximo tornou-se repentinamente mais real

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AFP

Publicado em 27/12/2022 às 8:39 | Atualizado em 27/12/2022 às 8:43
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Ameaças de uso de armas nucleares, risco de desastre climático: em 2022, a perspectiva de que o fim do mundo pode estar próximo tornou-se repentinamente mais real.

Foi no início de outubro, quando o conflito na Ucrânia se estagnou, que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, à frente do único país que usou armas atômicas em tempos de guerra, mencionou o risco de um "apocalipse nuclear".

Ele reagia às ameaças do presidente russo, Vladimir Putin, de usar essa arma letal na Ucrânia, um país devastado por uma invasão ordenada por Moscou em fevereiro que abalou a ordem geopolítica e a estabilidade global.

"Não enfrentamos a perspectiva do Armagedom desde Kennedy e a Crise dos Mísseis de Cuba" em 1962, disse Biden.

Alguns evocam a memória da Segunda Guerra Mundial e até temem uma terceira. Na mente de todos, também está a ameaça de uma catástrofe na usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, a maior da Europa, perigosamente atacada por bombas.

"Parem com essa loucura!", pediu o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, em meados de novembro, enquanto russos e ucranianos se acusavam mutuamente pelos ataques.

"Relógio do Juízo Final"

A queda de um míssil na Polônia em meados de novembro voltou a suscitar temores do pior: que a Otan fosse arrastada contra sua vontade para uma guerra contra a Rússia com consequências imprevisíveis.

"Graças a Deus", sussurrou um diplomata dos EUA sob condição de anonimato, quando soube que o míssil, muito provavelmente, não veio da Rússia, mas da defesa antiaérea ucraniana.

Em 2022 a ameaça nuclear foi onipresente: a diplomacia ficou estagnada em relação ao programa nuclear do Irã e a Coreia do Norte parece pronta para um sétimo teste nuclear.

A Global Challenges Foundation, um think tank sueco, alertou em um relatório anual que o mundo enfrenta a maior ameaça do uso de armas nucleares desde 1945, quando os Estados Unidos destruíram Hiroshima e Nagasaki, nos únicos ataques atômicos da história.

Embora um ataque nuclear russo provavelmente envolveria armas pequenas "táticas", os especialistas temem uma rápida escalada se os Estados Unidos responderem.

"Estamos em uma situação completamente diferente", afirmou Kennette Benedict, pesquisadora da Universidade de Chicago e consultora do Boletim de Cientistas Atômicos, que apresentará as últimas previsões do "Relógio do Juízo Final" em janeiro.

Esta ferramenta simbólica - em inglês, The Doomsday Clock - foi criada em 1947 para simbolizar a iminência de um cataclismo. Em janeiro passado, apontou que a humanidade estava a apenas 100 segundos do fim.

"Vida ou morte"

Neste contexto de ansiedade geral e de um mundo já no limite desde a pandemia de covid-19 e com uma inflação crescente, o planeta ultrapassou a marca dos 8 bilhões de habitantes em 2022, segundo a ONU.

E está ameaçado por uma catástrofe de outro tipo: a do aquecimento global.

Das inundações históricas no Paquistão aos incêndios nos Estados Unidos ou na Amazônia brasileira, passando pelas ondas de calor excepcionais na Europa e pela seca no Chifre da África, desastres naturais se sucedem, atribuídos por cientistas ao aquecimento global devido às emissões de gases de efeito estufa.

Os recordes de temperatura afetam a China, assim como o sul da França e o Canadá até a costa do Ártico, um alerta para a necessidade de agir.

"É uma questão de vida ou morte para nós, para nossa segurança hoje e para a nossa sobrevivência amanhã", alertou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em outubro, antes da conferência anual do clima (COP27) em novembro em Sharm el-Sheikh, no Egito.

A COP27 aprovou a criação de um fundo de ajuda aos países pobres mais afetados pela mudança climática. Mas não conseguiu avançar na redução das emissões poluentes para manter o objetivo de limitar o aquecimento global a +1,5ºC, estabelecido no Acordo de Paris de 2015.

Os compromissos assumidos em Sharm el-Sheikh, se totalmente cumpridos, colocariam o mundo, no melhor dos casos, no caminho para um aumento de 2,4°C até 2100 e, no atual ritmo de emissões, um aumento catastrófico de +2,8°C.

"O que realmente precisamos são avaliações mais refinadas de como os riscos (causados pela mudança climática) podem se manifestar em todo o mundo", afirmou Luke Kemp, da Universidade de Cambridge, lamentando uma relativa "desdramatização" de certos atores, incluindo cientistas, por medo de serem tachados de alarmistas.

Um dos críticos mais ardentes da "desgraça e melancolia" ambiental, Steven Pinker, da Universidade de Harvard, aponta que, em geral, a violência diminuiu drasticamente no mundo durante os tempos modernos.

No entanto, nem tudo foi para o pior este ano, em que as campanhas massivas de vacinação permitiram, talvez, virar a página da epidemia de covid-19: a Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou recentemente que pelo menos 90% da população mundial tem algum tipo de imunidade.

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